Por
Davi Faria de Caires*
Em nenhum lugar a bíblia declara
explicitamente em que ponto Deus considera um casal oficialmente casados.
Contudo, a ausência de formalização explícita do casamento torna as cerimônias
civil dispensáveis na igreja? No meu entendimento, a obrigatoriedade do
casamento civil e religioso para cristãos está pautado na tradição. Defendo que
tradição é útil e necessária. Defendo também que o casamento civil e religioso
deve ser praticado.
Vou comentar sobre o peso e necessidade de uma
tradição. Há um peso indissociável da tradição que pesa sobre o culto, a
liturgia, os costumes e a vida da cristandade e igreja local. Se por um lado,
essa tradição não pode sobrepujar ou equivaler à escritura, como fazem os católicos
romanos, por outro lado não é indissociável à igreja local. É consenso que na
cristandade reformada de que nas escrituras existe razoável liberdade para
questões práticas e doutrinárias periféricas. Dentro dos limites doutrinários
fundamentais, vivemos um espaço para diferenças periféricas, que resulta em
diversidade nas liturgias, práticas, tendo como exemplo visível disto a
existência de denominações. Essas diferenças, contudo, não descaracterizam a
igreja protestante. E isso também é consenso.
Essa tradição é necessária, por exemplo, para
o teólogo, haja vista que sua teologia deve ser consolidada na práxis, e vice
versa. Seu discurso deve ser exercido na vida, e é a vida dá sentido ao
discurso, em relação recíproca e dialética. Fé e obras. Bíblia e igreja local.
Teologia e tradição. A tradição não é dispensável, porque é a prova histórica
da cristandade. Se não existisse, a bíblia seria apenas um livro teórico. Mas a
historicidade da igreja, ao invés de competir com a bíblia, confirma-a. Os
credos e confissões são fruto de uma tradição da igreja. É uma tradição, útil.
Não é imutável, visto que pode ser modificado, contudo, fornece meios úteis
para defesa do evangelho e combate de heresias históricas que renascem de
tempos em tempos, a exemplo do arianismo e semi-pelagianismo, só para citar
dois exemplos. Neste caso, tanto o Credo de Atanásio e o movimento da reforma,
respectivamente, são tradições históricas que sobrepujaram estas heresias e
continuam sendo úteis ainda hoje. Não dá para dissociar igreja e tradição.
Visto que a igreja é histórica, e possui uma tradição.
Citei no início os pormenores de uma igreja
local. A tradição se reflete em liturgia, usos, costumes, etc. O que fazer?
Retirar todo resquício de tradição e criar uma comunidade independente, do 'zero', sem vieses, pautada somente na
palavra? Impossível! Estaríamos a partir daí criando outra tradição, com finas
raízes antigas que insistiriam em perspassar toda tentativa de ruptura com o
passado. Roupas, corte de cabelo, vestimentas, usos e costumes, tipos de
comida, cerimônias de casamento...
São construtos históricos e regionais, com diferenças visíveis de acordo com o
tempo e o local. Igrejas diferentes lidam com essas questões a partir de
tradições em que se alicerçam e pelo entendimento que possuem das Escrituras.
Em tudo isso, há a liberdade cristã que Paulo escreveu em 1 Coríntios 8 - 10.
Ao falar de alimentos permitidos ou proibidos, ao invés de simplesmente dizer
sim ou não, Paulo discorreu com maestria, enaltecendo a importância da ética,
do amor e do altruísmo que precisam predominar na vida cristã.
O cumprimento dos votos de amor e fidelidade
conjugal são mais importantes do que a cerimônia, mas não dispensa-a. Não há
mandamento bíblico para casamento no civil e religioso, contudo, considerando o
peso e a necessidade da tradição na cristandade, é saudável e importante que
esse costume sejam praticado. Casamento
civil e religioso não contrapõe à bíblia. Se o casamento civil e religioso não
contrapõe a bíblia; se a tradição possui papel vital na igreja, e se a ausência
desta causa escândalos, então defendo que o casamento civil e religioso deve sim,
ser praticado por todo cristão.
Sobre
o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®. Contato: davifariadecaires@gmail.com
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excelente artigo.
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