quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Continuísmo versus Cessacionismo: qual das visões está correta? [PARTE 1]





Transcrição do debate entre os teólogos Renato Oliveira Pimentel e Cleuberth Lima, sob o tema: "Continuísmo versus Cessacionismo", ocorrido dia 29 de Janeiro de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.


         Conheça cada teólogo em sua apresentação inicial logo abaixo:


CONTINUÍSMO:

 “Eu pretendo defender a doutrina continuísta, visto que não existe em lugar nenhum das escrituras sagradas algo que diz o contrário a isso. Acreditando que o cessacionismo é fruto de frustrações com os extremismos e abusos encontrados em nosso tempo no que diz respeito aos dons espirituais em união com uma má interpretação bíblica que pretendemos dirimir nessa tarde.” – Renato Oliveira Pimentel

Renato Oliveira Pimentel é casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.


CESSACIONISMO:
 “Meu nome é Cleuberth Lima. Tenho 35 anos. Acredito que Yeshua ben Yosef (a quem chamamos de Jesus) é o Messias prometido pelo Eterno Criador. Sou maranhense da cidade de Icatu-MA. Sou acadêmico de Direito, Pedagogo e Bacharel em Teologia. Neste debate, irei defender o cessacionismo por acreditar que tal sistema teológico interpretativo é coerente que os textos bíblicos que tratam dos dons carismáticos.” - Cleuberth Lima



Confira abaixo o desenvolvimento da primeira parte deste debate, com perguntas, respostas, réplicas e tréplicas.


Renato Oliveira Pimentel: [PERGUNTA]
Existe algum versículo/texto bíblico que afirme que em algum momento da história da "Igreja" os dons cessariam?


Cleuberth Lima: [RESPOSTA]
Não! Não existe...
Entretanto, existe um texto, escrito há quase dois mil anos, onde se ensina que alguns dons cessariam, indicando algo que ocorreria no futuro.
Além disso, existem textos que falam em conjunto de vários dons que eram contemporâneos de Paulo, mas que, evidentemente, não são mais concedidos, visto que cumpriram o seu propósito. Exemplo: o dom do apostolado.

Por fim, Romanos e Coríntios (as várias cartas) devem ter sido escritas por Paulo entre as suas quatro primeiras cartas. Nas cartas aos Coríntios, Paulo fala sobre dons espirituais miraculosos e de revelação (profecia e palavra do conhecimento, por exemplo); mas, nas suas cartas posteriores, especialmente nas últimas, ele instrui crentes e líderes sobre muitas virtudes, comportamentos e deveres associados à vida na comunidade da fé; porém, não fala dos dons espirituais miraculosos, a não ser nos sinais que Deus executou por meio do seu apostolado como sinal de seu chamado e envio.


Renato Oliveira Pimentel: [RÉPLICA]
Imagino que o texto ao qual você se refere seja o de 1 Coríntios 13, que diz:
 

"A caridade nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado."


A palavra que aqui é traduzida como "Perfeito", como você bem deve saber, é a palavra "τελειος" que indica claramente o fim de algo ou de um tempo. Entende-se que Paulo se refere ao fim no sentido escatológico, pois de outra maneira, a "ciência" não pode ser aniquilada, visto que ainda a usamos, mesmo hoje quando debatemos a cerca da palavra de Deus. O fato de Paulo não ter tratado um ou outro assunto numa carta não diz nada sobre o tema, só diz que eles estavam precisando duma instrução e não de outra, que já haviam obtido.

E por fim, ao dom de apostolado, cabe mais discussão...


Cleuberth Lima: [TRÉPLICA]
Sim, o texto que falar sobre a cessação que ocorreria no futuro é esse.
No contexto, o que era parcial (em parte)? O conhecimento e a profecia. E o que será completo, perfeito, integral? O fim do tempo? É o fim do tempo/ou de algo que se contrapõe ao conhecimento parcial e à profecia parcial nesse contexto? Não parece uma interpretação coerente.
Algo é parcial: o conhecimento e a profecia. Algo será completo: o conteúdo parcialmente conhecido e parcialmente profetizado. O contexto, parece-me, indica conhecimento completo que resultará em proclamação completa contrapondo conhecimento parcial que resulta em profecia parcial.
Apóstolos e Profetas lançaram o fundamento da igreja. Enquanto lançavam o fundamento, a essa atura do campeonato, Paulo diz que o conhecimento e a profecia eram parte, incompletas.
Lançando está o fundamento pelos Apóstolos e pelos Profetas, mensagem anunciada, missão cumprida. O que era parcial agora está completado, íntegro e, nesse ponto, você tem razão, o ministério dos Apóstolos e dos Profetas chegou ao fim (cumpriu sua finalidade).


Cleuberth Lima: [PERGUNTA]
Considerando o texto de Marcos 16.14-20:

“Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.”


Responda-me:

1 - Qual foi a ordem dada por Jesus?

2 - Qual foi a promessa dada por Jesus?

3 - A quem foi dada a ordem e feita a Promessa?

4 - O texto descreve o cumprimento da promessa? Caso a resposta seja sim, como o texto descreve tal cumprimento?

5- O texto, escrito entre os anos 60 a 80 d. C. trata de algo que já correu, sim ou não?


Renato Oliveira Pimentel: [RESPOSTA]
O texto diz que quando cessassem as línguas e as profecias, também a ciência "gnosis" deixaria de existir. Não acredito que ela tenha deixado de existir, mas tudo bem... Respondendo a atual pergunta:

1) A ordem foi que pregassem o evangelho em todo o lugar e a todas as pessoas.

2) Ele disse que os sinais supracitados acompanhariam aqueles que cressem. Em que? Na pregação que ele logo anteriormente havia ordenado que fizessem.

3) A ordem foi dada aos 11 que estavam à mesa, mas aparentemente, se estendeu a todos que se juntaram a eles em espírito e propósito, visto que não foram só eles que pregaram o evangelho. Isso é lógico!

4) Sim, descreve! De forma parcial, nos momentos da pregação do evangelho feito pelos 11 e que depois também seria feita por outros que foram acrescentados no decorrer do ministério.

O texto trata de algo que ocorreu, está ocorrendo e continuará ocorrendo

Cleuberth Lima: [RÉPLICA]

Então,

1 - A ordem foi que pregassem o evangelho a todos os povos, isto é, pregassem para judeus e não judeus.

2 - A promessa diz respeito aos SINAIS que acompanhariam a pregação dos apóstolos, ocorrendo entre os crentes na mensagem.

Como se traduz na Tradução Brasileira o v. 20: “cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra pelos milagres que a acompanhavam”.

Os milagres (sinais) acompanhavam a pregação deles.

3 - A ordem foi dada aos 11. Igualmente, a promessa foi feita aos 11. Sim, é fato que esses onze parecem representar o corpo apostólico como um todo, bem como o trabalho (ministério) apostólico desenvolvido no primeiro século.

4 - Quanto à descrição do cumprimento da promessa, nos versículos 19 e 20, Marcos registrou que Jesus foi Exaltado e, após, os apóstolos obedeceram a ordem que ele lhes dera (eles, tendo partido, pregaram em toda parte), e Jesus cumpriu a promessa que lhes fizera, confirmando a pregação deles com a ocorrência de sinais (cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam).

Na conclusão, Marcos nos leva a entender que os sinais não estavam atrelados diretamente à fé daqueles que criam, mas à pregação feita pelos apóstolos, de modo que os sinais ocorriam para confirmar a mensagem anunciada pelos apóstolos, autenticando assim, o ministério deles. Como se traduz na Tradução Brasileira: “cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra pelos milagres que a acompanhavam”.

O texto é uma narração histórica. O autor narra algo que já aconteceu, antes mesmo de ele escrever o seu evangelho. Portanto, tais sinais dizem respeito ao ministério apostólico desenvolvido no primeiro século.


Renato Oliveira Pimentel: [TRÉPLICA]

1) Não é Judeus e não judeus, e sim Toda criatura;

2) A promessa não eram para os que pregassem e sim para os que cressem na pregação;

3) Se a ordem foi dada somente aos 11 e estava restrita somente a eles, então todo e qualquer outro pregador que não esses 11, não tem autenticidade! A isso incluem-se: Paulo, Timóteo, Barbabé, Tito entre outras dezenas

4) Jesus Cumpriu e continua cumprindo porque o evangelho ainda hoje é pregado. Disso não tenho dúvidas.
"Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas..."

Fica claro a partir do contexto imediato que Marcos se refere aqueles que recebessem a palavra.


Para ler a segunda parte deste debate, clique aqui.


Sobre os debatedores:
Cleuberth Lima
Maranhense, 35 anos, residente em Icatu-MA, acadêmico de Direito, Pedagogo e Bacharel em Teologia.


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.



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