segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

COMO SABEMOS QUE DEUS EXISTE? – O ateísmo e o absurdo da vida sem Deus




por Davi Faria de Caires


Um episódio recente, neste final de 2019, tem marcado embate cultural entre religiosos, especialmente cristãos, e ateístas. O canal de streaming Netflix lançou um média-metragem de natal, chamado 'A Primeira Tentação de Cristo', produzido pelo grupo Porta dos Fundos. O conteúdo é provocativo e tem gerado polêmicas. O enredo se passa no aniversário de 30 anos de Jesus e satiriza o seu retorno após 40 dias de jejum no deserto. De acordo com a imprensa, no vídeo, Jesus, interpretado por Gregório Duvivier, leva para casa um amigo esquisito, interpretado por Fábio Porchat, com quem vive um romance gay. Parece haver um triângulo amoroso entre Jesus e outros personagens. O ator principal, Gregório Duvivier, é ateu. A trama é evidentemente anti-cristã, e tal como já declarado pelos produtores, foi propositalmente ofensivo. Diante desse furdunço cultural e religioso, muitos cristãos iniciaram manifestações através de abaixo-assinados que ultrapassam um milhão de assinaturas, boicotes e cancelamento de assinaturas na Netflix e centenas de milhares de postagens que repudiam este ato.

Mas, como deveria o cristão lidar diante de fatos como este? Como deve o cristão defender a fé diante do ateísmo? Fatos como esse não deveriam gerar surpresa ou comoção no meio cristão. Jesus já havia dito e predito que:


“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu SENHOR. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.” - João 15.18-21 (ACF)


Jesus já havia alertado os discípulos, e essa exortação cabe a nós também nos dias de hoje. O ódio que a igreja vem a sofrer é por causa do nome de Cristo. Toda essa suposta ofensa ocorre pelo fato de não conhecerem o nome de Jesus. O NOME do Mestre sempre foi vilipendiado, desde o primeiro século desta era até os dias de hoje. Foi acusado de beberrão e glutão (Mt 11.19) e até de ser associado com o príncipe dos demônios (Mt 12.24). Em tempos de ceticismo religioso, parece não haver espaço para a fé no presente século. O debate sobre a existência de Deus é tão antigo quanto a humanidade. Porém, em tempos pós iluminismo, correntes tais como o cientificismo, o racionalismo, o materialismo e o naturalismo pretendem banir a fé do debate público, à guisa de pretensa superioridade lógica, metodológica, epistemológica e racional.
O cristão não deve ficar alheio a este debate. Pelo contrário, ele é desafiado pela Escritura a fornecer justificativas racionais para a fé cristã:

“Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo.” - 1 Pedro 3.15,16

De acordo com a Escritura, o cristão deve, portanto, estar preparado para responder sobre sua fé. A partir deste texto, o cristão necessita de 3 coisas para fazer apologética: santidade, conhecimento e atitude. Santidade envolve intimidade com Deus, leitura bíblica e reconhecimento do senhorio de Cristo. Conhecimento envolve estar pronto para responder, conhecimento das Escrituras e saber o que a bíblia diz. Atitude envolve mansidão, temor e boa consciência.
Diante dessas coisas podemos nos perguntar: quais são as consequências se Deus não existir? Como é uma vida sem Deus? A existência é para todos, em todas as épocas, um mistério. Não conseguimos entender a vida em toda sua complexidade. O homem é o único ser em todo o planeta que faz esse tipo de perguntas: Quem sou eu? Porque estou aqui? Para onde estou indo? Porque existe algo em vez do nada? Sobre essas questões, Blaise Pascal, um cientista cristão que viveu no século XVII, escreveu:

"Não sei quem me enviou ao mundo, nem o que o mundo é, nem quem eu mesmo sou. Sou terrivelmente ignorante de tudo. Não sei o que meu corpo é, nem meus sentidos, nem minha alma e essa parte de mim pensa o que eu digo, que reflete sobre si mesma assim como sobre todas as coisas externas, e não tem mais conhecimento de si mesmo do que delas. Assim como não sei de onde venho, também não sei aonde vou. Somente sei que, ao deixar este mundo, caio para sempre no nada ou nas mãos de um deus irado, sem saber qual desses dois estados será meu destino eterno. Essa é minha condição, cheia de fraqueza e incerteza." - Blaise Pascal

Portanto, se Deus existe, a vida possui sentido, valor e propósito. Mas, e se Deus não existe? Ora, apenas como hipótese, podemos levantar algumas conjecturas sobre o absurdo da vida sem Deus, ou de sua inexistência. (1) Sem imortalidade e Deus, a vida não possui um sentido fundamental; (2) Se Deus não existe, não há um valor fundamental; (3) Se Deus não existe, não há um propósito fundamental. Portanto, no absurdo da vida sem Deus, a vida não possui sentido, valor e propósito! Ou seja, na visão ateísta, a vida é fruto do acaso. Nascemos, vivemos e morremos. Se não há imortalidade e se não há Deus, então, todo empreendimento humano é um trabalho inútil. É como correr atrás do vento. Apesar de reconhecermos a falta de sentido em correr atrás do vento, continuaríamos executando nossas tarefas diárias aguardando o dia de nossa morte. O homem não precisa apenas de imortalidade para conferir sentido à sua vida! A imortalidade sem Deus seria uma maldição e não traria sentido à vida. A imortalidade também precisa de Deus. Se tivesse existido só imortalidade, a vida continuaria sem sentido. É um absurdo pensar a vida sem Deus. Somente ele é o sentido da vida e da existência humana.
Deus é a fonte única da moralidade no homem. Sem Deus, não há sentido em falar em bom e mau; em certo e errado. O certo e o errado passariam a ser uma convenção social, uma questão de gosto pessoal ou então como produto sócio-biológico da evolução. A bíblia diz:
"Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;" - Romanos 2.14,15

Nesse texto, Paulo fala de uma lei moral que está presente em todos os seres humanos. Não apenas nos judeus! Eu não preciso ser um cristão para saber que o assassinato é errado. Mas, se Deus não existe, então tudo passa a ser relativo. O ateísmo traz consequências niilistas à existência humana. Uma vida sem Deus, baseada no ateísmo, destrói o significado da existência humana. Contudo, será que a maior parte dos ateus dá cabo à sua filosofia? Não! Eles buscam placebos para sua realidade.
Mas, é possível saber que Deus existe? Quais são os argumentos sobre a sua existência? Sim, existem argumentos racionais favoráveis à existência de Deus. Argumento moral, argumento do design, argumento ontológico, argumento cosmológico... Há diversos argumentos para a existência de Deus. A lista é imensa. Contudo, é preciso afirmar inicialmente e incisivamente que não é possível provar a existência de Deus. Isso parece antagônico, paradoxal e emblemático. Mas é impossível provar Deus. Se fosse possível, não precisaríamos de fé. Fé é acreditar naquilo que não vemos, como já registrou o autor aos Hebreus:

"ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho. Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente." (Hebreus 11.1-3).

Contudo, ter fé não significa que a crença em Deus seja irracional, ou então que daremos um salto cego no escuro. Existem, sim, argumentos sobre a existência de Deus! O maior, melhor e mais preciso argumento é a Escritura; a revelação especial de Deus, “de sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10:17). Ninguém pode vir a crer por métodos racionais ou argumentos, por melhores que eles sejam. Crer em Deus, do jeito que diz a Escritura, é um milagre produzido somente pelo Espírito Santo, através da pregação da palavra, transformando o coração do homem em uma nova criatura, à semelhança do caráter de Cristo, para a glória de Deus Pai (João 16.7-11).
Robert Jastrow, um astrônomo americano do século XX disse certa feita:

"para o cientista que vive de acordo com sua fé no poder da razão, a história termina como um pesadelo. ele escalou as montanhas da ignorância; está a ponto de conquistar o pico mais alto. Ao chegar à última rocha, é cumprimentado por um bando de teólogos que estavam sentados ali havia séculos".

Todo sentido da vida pode ser encontrado somente em Deus. Há muitas evidências que Deus existe. E ainda que não houvesse evidências, seria mais racional escolher o cristianismo do que não escolhê-lo. O cristianismo responde às principais questões da vida! Em outras palavras, porque existe algo em vez de nada? De onde em vim? Porque eu existo? Como devo viver? Para onde vou? Deus é ou não é. Há um caos infinito que nos separa. E na extremidade dessa distância, a moeda está sendo jogada e dará cara ou coroa. Pense nisto! O que você apostará?
Pascal afirmava que há três tipos de pessoas: (1) as que buscaram a Deus e o encontraram; (2) as que o estão buscando, mas ainda não o encontraram; (3) as que não o buscaram e não o encontraram. As do primeiro grupo são razoáveis e felizes; as do segundo são razoáveis e infelizes; as do terceiro grupo são pouco razoáveis e infelizes. A aposta de Pascal deve ao menos estimular-nos a ser razoáveis e a buscar a verdade (João 14.6).


Davi Faria de Caires
Casado, natural de Campinas-SP e residente em Atibaia-SP, acadêmico do Master of Divinity (M.Div) pela Escola de Pastores da Primeira Igreja Batista de Atibaia-SP (EPPIBA). Membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®


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