Por Davi
Faria de Caires*
INTRODUÇÃO AOS LIVROS
HISTÓRICOS
Os doze livros, de Josué a
Ester, são chamados livros históricos, pois narram a história do povo de Israel
na conquista de Canaã e nos séculos posteriores. O período cobre
aproximadamente 1000 anos da história de Israel: entre 1405 a 405 aC, de Moisés
até Esdras, o mestre da lei. Nos livros históricos vemos o cumprimento cabal
das bênçãos e maldições previstas e preditas por Moisés nos capítulos 28 a 30
de Deuteronômio.
O contexto geográfico
donde se desenrola os fatos dos 12 livros é na atual palestina, a terra santa,
ou a terra de Canaã.
Neste artigo, serão
abordados os livros de Josué, Juízes e Rute.
JOSUÉ
O livro de Josué narra a
jornada de conquista e ingresso do povo de Israel em Canaã. A despeito de
haverem discussões, a opinião majoritária é que este livro foi escrito pelo
próprio Josué, cujo nome significa “salvação do Senhor”. O período histórico
dos relatos deste livro estão situados no período entre 1405 a 1375 a.C. Haviam
sete povos que habitavam nesta terra: Heteus, Girgaseus, Amorreus, Cananeus,
Ferezeus, Heveus e Jebuseus. Estes povos eram politeístas.
O objetivo do livro de
Josué registrar como se deu a conquista e divisão da terra de Canaã entre as 12
tribos. Neste livro, vemos a travessia do Rio Jordão de forma milagrosa. De
modo semelhante à travessia do Mar Vermelho, o Rio Jordão abriu-se e o povo
passou em terra seca. Certamente Deus queria também impressionar esta nova
geração, que não havia tido a experiência do batismo no Mar Vermelho. Além
disto, Josué teve sua liderança confirmada diante do povo, e a arca teve sua
representatividade de poder confirmada, simbolizando a centralidade em Deus e
seu poder sobre todas as coisas. Vemos também neste livro um fator
extraordinário, onde em luta contra os amorreus, o Senhor alongou o dia da
batalha e o Sol parou. Mesmo havendo críticos que julguem isto impossível, o
relato bíblico reconhece como certo este fato sobrenatural, feito pelo Deus que
criou todas as coisas.
Por falar em críticos,
talvez o ponto mais debatido em Josué seja a análise moral sobre a conquista de
Canaã por Josué, com o extermínio quase total das nações que lá viviam.
Questões surgem, indicando que Deus age de modo carrasco, ou então que Deus
seja xenófobo. Deve-se considerar com ponto de apoio bíblico que Canaã possuía
religião degradante, com cultura corrompida e ao longo de 400 anos em que
possuíram a terra, tiveram oportunidade de se arrependerem de seus pecados.
Noé, inclusive, profetizou julgamento para os cananeus, na ocasião em que
amaldiçoa seu neto em Gênesis 9.22-27. Além disto, pesa a favor de Israel o
fato de Deus reconhecer no relato bíblico que toda Terra Lhe pertence, e já
havia prometido esta terra ao povo de Israel desde Abraão (Gênesis 15.8).
JUÍZES
O autor deste livro é desconhecido, mas o autor
mais provável é Samuel. O período histórico é bastante abrangente, e envolve um
período de 300 anos, de 1375 a 1075 aC. É o maior período relatado entre os
demais livros históricos. O objetivo deste livro é registrar a história de
Israel no período em que foi governado por juízes independentes, sem um rei
sobre a nação.
Este livro narra ciclos de apostasia bem visíveis
em Israel, com reincidência, ruína, arrependimento, restauração e trégua. De
tempos em tempos, Deus levantava juízes para restaurar a ordem social e
espiritual do povo. Dado os ciclos de apostasia frequentes, a narrativa deixa
claro que o povo precisava de um monarca teocrático. Saul é escolhido dentre a
tribo de Benjamin, e finaliza o período de juízes para iniciar o período
monárquico em Israel. E por falar na Tribo de Benjamim, desta Tribo descenderam
líderes tais como o juíz Eúde, o rei Saul e o apóstolo Saulo de Tarso. Porém na
época dos juízes, esta Tribo inteira quase foi exterminada, devido à
iniquidade.
Um líder de destaque neste livro é Gideão, homem
com perfil semelhante a Moisés, por sua humildade e obediência a Deus. Gideão,
em seu tempo ofereceu uma libertação de seu povo. Mas quando foi chamado por
Deus, pediu confirmação através de um sinal físico e visível. Fez isto para
certificar-se de que de fato Deus o estava recrutando para uma missão especial.
Em tempos não de apostasia, e a despeito de demonstrar reverência a Deus,
Gideão não obedeceu a Deus de imediato. Antes, pediu-lhe sinais. Não devemos
utilizar a mesma prática de Gideão. Não devemos colocar uma lã diante de Deus
ou aguardar qualquer sinal físico, pois a vontade completa de Deus já foi
manifestada no AT e no NT. Mas disto, aprendemos que é importante certificarmos
com certeza de que uma ação que exija alto grau de fé estará sendo realizada de
acordo com a vontade de Deus, e não por motivações egoístas.
Outro relato importante é o voto insensato Jefté.
Este ofereceu sua filha ao Senhor, e diante de um pedido realizado por Deus,
Jefté cumpre sua promessa e pelo que indica o texto, este designou sua filha à
virgindade perpétua, sacrificando sua descendência, pois não tinha mais filhos.
Portanto, não se pode depreender disto que Jefté tenha oferecido em holocausto.
De acordo com Ellisen (2016), a interpretação mais plausível e provável é que o
sacrifício tenha sido o celibato de sua filha.
Um juíz que foi dotado de maior capacitação
especial para o ofício foi Sansão: o único nazireu do Antigo Testamento. Assim
como Isaque, Samuel, João Batista e Jesus, o seu nascimento foi predito por um
anjo. Sua atuação foi desastrosa. Saul agiu por impulso, e teve um final
trágico.
Em Juízes vemos muitos tipos de Cristo. Os juízes
relatados neste livro apontam para Cristo, o Justo Juiz, que virá para julgar
seu povo, destruir os inimigos e trazer justiça plena a seu povo.
RUTE
Rute é um dos dois livros bíblicos que levam o nome
de uma mulher. O autor provável deste livro é Samuel. A história deste livro
aconteceu no ano 1340aC, em uma época que houve fome em Belém, cujo nome,
aliás, significa casa do pão!
O objetivo deste livro é relatar o amor de duas
mulheres: Noemi e Rute, e também relatar minuciosamente a relação genealógica
de Davi com Moabe. Ou seja, este livro preserva uma descrição detalhada da
genealogia de Cristo nas gerações anteriores a Davi. Uma peculiaridade deste
livro é narrar a história de uma família, ao invés de narrar a história de uma
tribo ou uma nação. Essa narrativa voltada para uma família é única em todo o
Antigo Testamento.
Uma leitura neotestamentária de Rute nos permite
ver referências de Cristo, que neste livro aparece como o Redentor. Boaz é um
tipo de Cristo no livro de Rute. Cristo, o Redentor do Cristão, torna-se
Redentor para pagar todas suas dívidas; é também, o Vingador, Mediador e Noivo
da Igreja.
Para entender o resgate feito por Boaz a Rute, é
mister entender o levirato. A Lei
Mosaica protegia a descendência de alguém que morresse. Neste caso, o irmão do
marido morto, que fosse mais jovem e que ainda não fosse casado, se preenchesse
as qualificações descritas em Levítico 25 e Deuteronômio 25, poderia casar-se
com a esposa do irmão falecido, resgatando os débitos do morto que estivesse
endividado, ficando noivo e sendo provedor da esposa que fora resgatada.
REFERÊNCIA
Ellisen,
Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento:
um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São
Paulo: Editora Vida, 2007.
Sobre
o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®. Contato: davifariadecaires@gmail.com
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Excelente publicação. Parabéns ao Davi Farias pelo brilhantismo dessa materia
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