segunda-feira, 15 de maio de 2017

Os Livros Históricos – Resumo e Visão Panorâmica – PARTE 1/2




Por Davi Faria de Caires*


INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS
         Os doze livros, de Josué a Ester, são chamados livros históricos, pois narram a história do povo de Israel na conquista de Canaã e nos séculos posteriores. O período cobre aproximadamente 1000 anos da história de Israel: entre 1405 a 405 aC, de Moisés até Esdras, o mestre da lei. Nos livros históricos vemos o cumprimento cabal das bênçãos e maldições previstas e preditas por Moisés nos capítulos 28 a 30 de Deuteronômio.
         O contexto geográfico donde se desenrola os fatos dos 12 livros é na atual palestina, a terra santa, ou a terra de Canaã.
         Neste artigo, serão abordados os livros de Josué, Juízes e Rute.


JOSUÉ
         O livro de Josué narra a jornada de conquista e ingresso do povo de Israel em Canaã. A despeito de haverem discussões, a opinião majoritária é que este livro foi escrito pelo próprio Josué, cujo nome significa “salvação do Senhor”. O período histórico dos relatos deste livro estão situados no período entre 1405 a 1375 a.C. Haviam sete povos que habitavam nesta terra: Heteus, Girgaseus, Amorreus, Cananeus, Ferezeus, Heveus e Jebuseus. Estes povos eram politeístas.
         O objetivo do livro de Josué registrar como se deu a conquista e divisão da terra de Canaã entre as 12 tribos. Neste livro, vemos a travessia do Rio Jordão de forma milagrosa. De modo semelhante à travessia do Mar Vermelho, o Rio Jordão abriu-se e o povo passou em terra seca. Certamente Deus queria também impressionar esta nova geração, que não havia tido a experiência do batismo no Mar Vermelho. Além disto, Josué teve sua liderança confirmada diante do povo, e a arca teve sua representatividade de poder confirmada, simbolizando a centralidade em Deus e seu poder sobre todas as coisas. Vemos também neste livro um fator extraordinário, onde em luta contra os amorreus, o Senhor alongou o dia da batalha e o Sol parou. Mesmo havendo críticos que julguem isto impossível, o relato bíblico reconhece como certo este fato sobrenatural, feito pelo Deus que criou todas as coisas.
         Por falar em críticos, talvez o ponto mais debatido em Josué seja a análise moral sobre a conquista de Canaã por Josué, com o extermínio quase total das nações que lá viviam. Questões surgem, indicando que Deus age de modo carrasco, ou então que Deus seja xenófobo. Deve-se considerar com ponto de apoio bíblico que Canaã possuía religião degradante, com cultura corrompida e ao longo de 400 anos em que possuíram a terra, tiveram oportunidade de se arrependerem de seus pecados. Noé, inclusive, profetizou julgamento para os cananeus, na ocasião em que amaldiçoa seu neto em Gênesis 9.22-27. Além disto, pesa a favor de Israel o fato de Deus reconhecer no relato bíblico que toda Terra Lhe pertence, e já havia prometido esta terra ao povo de Israel desde Abraão (Gênesis 15.8).


JUÍZES
O autor deste livro é desconhecido, mas o autor mais provável é Samuel. O período histórico é bastante abrangente, e envolve um período de 300 anos, de 1375 a 1075 aC. É o maior período relatado entre os demais livros históricos. O objetivo deste livro é registrar a história de Israel no período em que foi governado por juízes independentes, sem um rei sobre a nação.
Este livro narra ciclos de apostasia bem visíveis em Israel, com reincidência, ruína, arrependimento, restauração e trégua. De tempos em tempos, Deus levantava juízes para restaurar a ordem social e espiritual do povo. Dado os ciclos de apostasia frequentes, a narrativa deixa claro que o povo precisava de um monarca teocrático. Saul é escolhido dentre a tribo de Benjamin, e finaliza o período de juízes para iniciar o período monárquico em Israel. E por falar na Tribo de Benjamim, desta Tribo descenderam líderes tais como o juíz Eúde, o rei Saul e o apóstolo Saulo de Tarso. Porém na época dos juízes, esta Tribo inteira quase foi exterminada, devido à iniquidade.
Um líder de destaque neste livro é Gideão, homem com perfil semelhante a Moisés, por sua humildade e obediência a Deus. Gideão, em seu tempo ofereceu uma libertação de seu povo. Mas quando foi chamado por Deus, pediu confirmação através de um sinal físico e visível. Fez isto para certificar-se de que de fato Deus o estava recrutando para uma missão especial. Em tempos não de apostasia, e a despeito de demonstrar reverência a Deus, Gideão não obedeceu a Deus de imediato. Antes, pediu-lhe sinais. Não devemos utilizar a mesma prática de Gideão. Não devemos colocar uma lã diante de Deus ou aguardar qualquer sinal físico, pois a vontade completa de Deus já foi manifestada no AT e no NT. Mas disto, aprendemos que é importante certificarmos com certeza de que uma ação que exija alto grau de fé estará sendo realizada de acordo com a vontade de Deus, e não por motivações egoístas.
Outro relato importante é o voto insensato Jefté. Este ofereceu sua filha ao Senhor, e diante de um pedido realizado por Deus, Jefté cumpre sua promessa e pelo que indica o texto, este designou sua filha à virgindade perpétua, sacrificando sua descendência, pois não tinha mais filhos. Portanto, não se pode depreender disto que Jefté tenha oferecido em holocausto. De acordo com Ellisen (2016), a interpretação mais plausível e provável é que o sacrifício tenha sido o celibato de sua filha.
Um juíz que foi dotado de maior capacitação especial para o ofício foi Sansão: o único nazireu do Antigo Testamento. Assim como Isaque, Samuel, João Batista e Jesus, o seu nascimento foi predito por um anjo. Sua atuação foi desastrosa. Saul agiu por impulso, e teve um final trágico.
Em Juízes vemos muitos tipos de Cristo. Os juízes relatados neste livro apontam para Cristo, o Justo Juiz, que virá para julgar seu povo, destruir os inimigos e trazer justiça plena a seu povo.


RUTE
Rute é um dos dois livros bíblicos que levam o nome de uma mulher. O autor provável deste livro é Samuel. A história deste livro aconteceu no ano 1340aC, em uma época que houve fome em Belém, cujo nome, aliás, significa casa do pão!
O objetivo deste livro é relatar o amor de duas mulheres: Noemi e Rute, e também relatar minuciosamente a relação genealógica de Davi com Moabe. Ou seja, este livro preserva uma descrição detalhada da genealogia de Cristo nas gerações anteriores a Davi. Uma peculiaridade deste livro é narrar a história de uma família, ao invés de narrar a história de uma tribo ou uma nação. Essa narrativa voltada para uma família é única em todo o Antigo Testamento.
Uma leitura neotestamentária de Rute nos permite ver referências de Cristo, que neste livro aparece como o Redentor. Boaz é um tipo de Cristo no livro de Rute. Cristo, o Redentor do Cristão, torna-se Redentor para pagar todas suas dívidas; é também, o Vingador, Mediador e Noivo da Igreja.
Para entender o resgate feito por Boaz a Rute, é mister entender o levirato. A Lei Mosaica protegia a descendência de alguém que morresse. Neste caso, o irmão do marido morto, que fosse mais jovem e que ainda não fosse casado, se preenchesse as qualificações descritas em Levítico 25 e Deuteronômio 25, poderia casar-se com a esposa do irmão falecido, resgatando os débitos do morto que estivesse endividado, ficando noivo e sendo provedor da esposa que fora resgatada.         


REFERÊNCIA

Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.





Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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Um comentário:

  1. Excelente publicação. Parabéns ao Davi Farias pelo brilhantismo dessa materia

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