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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O TEMPLO E O CATIVEIRO: Reflexão sobre a história redentora


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A construção do templo foi desejada por Davi, com o objetivo de fazer uma casa para a Arca da Aliança. Davi não pôde construir esse templo. A construção foi realizada por Salomão, em um trabalho que perdurou por sete anos, conforme registrado em 1 Reis 6.37,38: "No ano quarto se pôs o fundamento da casa do SENHOR, no mês de Zive. E no ano undécimo, no mês de Bul, que é o mês oitavo, se acabou esta casa com todas as suas coisas, e com tudo o que lhe convinha; e a edificou em sete anos." Esse templo foi destruído por Nabucodonosor, rei de Babilônia, em 586aC, período que marca o início dos 70 anos de Cativeiro Assírio-Babilônico. A destruição do templo culminou no exílio dos judeus em Babilônia.

A realização do cativeiro retrata o cumprimento fiel de profecias feitas anteriormente! Deus usou a babilônia como agente de juízo para julgar Israel por seus pecados de idolatria e rebelião contra seu Senhorio. Houveram várias etapas de ida ao exílio e retorno do Exílio, entre os séculos VIaC e VaC. Conforme profecias anteriores, os hebreus retornariam setenta anos após o exílio. Essa profecia cumpriu-se, e Deus realiza seu plano. Os judeus foram autorizados por Ciro a retornar a Israel, e começam a reconstruir a cidade e o templo. Após esse retorno, liderado por Esdras e Neemias, Deus realiza um avivamento entre o povo judeu e culmina na reconstrução do templo. Como se pode notar, tanto em perspectiva histórica quanto teológica, o templo e o exílio são temas paralelos neste período da história dos hebreus.   

Os efeitos do cativeiro são decisivos no coração de Israel. Houve um forte impacto sobre a nação quando retornam à terra. É fato que este povo nunca mais vai se corromper pela idolatria e falsos deuses de nações vizinhas. Deus também usa o exílio para julgar os babilônios por seus pecados, e este império cai sob os medo-persas. Deus prova mais uma vez que suas promessas são fiéis e infalíveis. Deus promete precisamente que iria trazer o exílio caso o povo não se arrependesse da quebra da aliança. Conforme vemos em Jeremias 25, Deus promete que iria levar o povo do norte e do Sul cativos, os fariam escravos e que serviriam à babilônia por setenta anos. Muito espaço à profecia é dado sobre este motivo na Bíblia. O povo estava quebrando a aliança. Não estavam guardando as leis do descanso, do sábado e da terra, que deveria ser observado a cada sete anos, conforme orientado em Levítico 25. Portanto, Levítico 25 e Jeremias 25 são estratégicos em justificar o ato de Deus de levar seu povo cativo à babilônia.

O templo e a guarda dos períodos de descanso serviriam como instrumentos didáticos para o povo. O templo e a guarda dos períodos de descanso tinham pouco efeito em si mesmo, mas deveriam apontar para o desenvolvimento de um coração justo e piedoso, reverente e dependente perante o Deus da aliança. O povo deixou de observar os acordos da aliança, descritos detalhadamente em Deuteronômio. No Capítulo 28, Deus já havia decretado, na descida do Monte Sinai, e elencado detidamente sobre as bênçãos resultantes da obediência e das maldições advindas da desobediência do povo para com o Eterno.

Há implicações neotestamentárias desses fatos. O caráter de Deus não mudou. Deus fez uma aliança com seu povo por intermédio de seu Filho, através do qual julga o pecado e condena o pecador, e suas promessas de redenção dos redimidos permanecem seguras e confiáveis. Deus demonstra-se estável em toda História. Não há nele variações. O homem irá falhar e quebrar a aliança. Porém Deus permanece justo em todos os seus caminhos.

O objetivo do templo e do tabernáculo é revelar que Deus viria em carne para habitar conosco. No Novo Testamento, temos melhor entendimento sobre a importância do tabernáculo. Em Cristo, somos o templo de Deus pela obra do Espírito Santo. Fomos transformados em habitação santa de Deus. Somos a casa de Deus. Tanto nos tempos dos hebreus quanto no Novo Testamento, após o véu ter se rasgado, Deus não tinha obrigação nenhuma de habitar conosco, e nem possui a necessidade inerente de habitar com os homens, mas por causa de seu amor e para sua glória, ele decidiu habitar conosco e em nós. Ele tem prazer em estabelecer seu tabernáculo entre os homens, para que possamos conhecê-lo, amá-lo e glorificá-lo agora e para sempre, como registrou o apóstolo João em Apocalipse 21.3: "E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.”

Conclusão
No ato do cativeiro e na destruição do templo, portanto, Deus demonstra uma tríplice revelação de seu caráter:
(1) Deus é fiel ao seu povo;
(2) Deus julga o pecado;
(3) As promessas de Deus são seguras e confiáveis.


Davi Faria de Caires
Casado, natural de Campinas-SP e residente em Atibaia-SP, acadêmico do Master of Divinity (M.Div) pela Escola de Pastores da Primeira Igreja Batista de Atibaia-SP (EPPIBA). Membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Os Profetas Menores: Resumo e Visão Panorâmica – PARTE 2/2




Por Davi Faria de Caires*


OS PROFETAS MENORES
         As expressões “Profeta Maior” e “Profeta Menor” foram cunhadas pelo teólogo Agostinho de Hipona no século IV dC. O termo menor refere-se à brevidade do segundo grupo, e não à sua importância relativa de seu conteúdo. Os hebreus chamavam esse grupo de livro de “O Livro dos Doze”, e foram agrupados dessa maneira por Esdras, mais ou menos em 425aC, talvez para acomodá-los em um rolo. O grupo todo é mais curto, por exemplo, que Isaías, Jeremias ou Ezequiel.

         Embora os profetas maiores estejam dispostos em ordem cronológica, os livros que compõem o grupo de profetas menores não possuem esta disposição. Os seis primeiros livros (de Oséias a Miquéias) estão relacionados a um período anterior ao cativeiro do Norte (722 aC). Os livros de Naum, Habacuque e Sofonias relacionam-se a um período anterior ao cativeiro do Sul (606 – 586aC), e os três últimos livros (Ageu, Zacarias e Malaquias), posicionam-se em um período posterior ao regresso do cativeiro (536 – 425 aC).

         Neste artigo, estudaremos os seis últimos livros do grupo de progetas menores, e também, os últimos livros do Antigo Testamento, a saber: Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.


NAUM
         Naum descreve o Senhor como um Deus zeloso e também vingativo. Naum revelou o detalhado plano divino para destruir e devastar Nínive completamente, que na pregação de Jonas havia vivenciado um grande avivamento e conversões em massa. Essa nação violenta e implacável foi o instrumento de Deus para destruir o reino de Israel, por causa de sua idolatria e violência. Mas quando Deus ordenou sua destruição, ela foi aniquilada tão completamente que ficou esquecida por muitos séculos, coberta com areia e transformada em um deserto. A destruição de Nínive foi tão completa que a cidade tornou-se quase uma lenda durante dois milênios, até ser redescoberta em 1842 por Layard e Botta (cf. Ellisen, 2015, p. 367). Alexandre, o Grande, passou por ela em 331 aC, sem ver sinais de sua existência. Nada restou da cidade e do seu poderio. Nínive foi uma das cidades mais antigas do mundo, fundada por Ninrode (“Desta mesma terra saiu à Assíria e edificou a Nínive, Reobote-Ir, Calá” – Gênesis 10.11), foi a capital da Assíria. A Assíria teve esse nome em homenagem a seu principal deus, Assur, divindade da guerra.

         O objetivo deste livro, que foi escrito em 710 aC, é servir como consolação para Judá. O Deus vingador descrito por Naum é um dos quadros mais aterrorizantes da Bíblia. Enquanto o livro de Jonas apresenta a misericórdia do Senhor oferecida aos gentios de Nínive, o livro de Naum retrata a ira e o julgamento de Deus a esta mesma cidade, que havia se corrompido a despeito do avivamento vivenciado pela geração anterior através da pregação do profeta Jonas.


HABACUQUE
         Habacuque quer dizer “abraçar”. Quase nada se conhece sobre Habacuque. Ele não é mencionado em nenhum outro lugar da bíblia. Habacuque foi contemporâneo de Jeremias, e escreveu este livro em 607 aC. Em sequência lógica à destruição de Nínive profetizada por Naum, Habacuque profetiza a queda e destruição da Babilônia.

         Ao contrário de outros livros proféticos, Habacuque é mais uma oração do que uma profecia. O objetivo do livro era enfatizar a santidade divina ao julgar o violento reino de Judá por seus pecados, muito embora Deus estivesse usando uma nação mais iníqua para executar tal julgamento – Babilônia -, nação que mais tarde seria destruída por sua idolatria e iniquidade ainda maior.


SOFONIAS
         Este livro foi escrito por Sofonias entre 630 e 625 aC, com o objetivo de divulgar um chamado de décima primeira hora à nação, condenando sua idolatria e advertindo o povo sobre o grande dia da ira divina que estava por vir. Além desse aviso, Sofonias enfatizou novamente os resultados finais do julgamento de Israel, que seria um povo purificado e humilde, restaurado pelo Senhor, e este passaria a habitar no meio deles. O título “Sofonias” significa “o Senhor esconde” ou “o Senhor protege”. Essa proteção da justiça do “dia do Senhor” está em 2.3 e 3.8-12 deste livro:


“Buscai ao SENHOR, vós todos os mansos da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; pode ser que sejais escondidos no dia da ira do SENHOR.” (Sofonias 2.3 - ACF)


“Portanto esperai-me, diz o SENHOR, no dia em que eu me levantar para o despojo; porque o meu decreto é ajuntar as nações e congregar os reinos, para sobre eles derramar a minha indignação, e todo o ardor da minha ira; porque toda esta terra será consumida pelo fogo do meu zelo. Porque então darei uma linguagem pura aos povos, para que todos invoquem o nome do SENHOR, para que o sirvam com um mesmo consenso. Dalém dos rios da Etiópia, meus zelosos adoradores, que constituem a filha dos meus dispersos, me trarão sacrifício. Naquele dia não te envergonharás de nenhuma das tuas obras, com as quais te rebelaste contra mim; porque então tirarei do meio de ti os que exultam na tua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no meu monte santo. Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do SENHOR.” (Sofonias 3.8-12 – ACF)


AGEU
         Ageu significa “festivo” ou “minha festa”. É provável que o profeta tenha nascido em um dia de festa. Seu nome está ligado ao maior objetivo da profecia, que era completar o templo para reiniciar as festividades religiosas. Apesar de Ageu ser também mencionado em Esdras 5.1, pouco se sabe a seu respeito. Este livro foi escrito no período entre 1 de setembro a 24 de dezembro de 520 aC. Dado os detalhes contidos no livro, é possível saber a data desta profecia com exatidão.

         O objetivo deste livro é fazer os líderes e o povo continuarem a reconstruir o templo destruído, mostrando-lhes que os fracassos nos outros setores da vida eram resultado da negligência na obra do Senhor. Ageu foi o maior responsável por conseguir que a construção do templo recomeçasse e fosse concluída. Ele apareceu em cena após uma grande arrancada e parada brusca na construção do templo.


ZACARIAS
         Zacarias significa “O Senhor lembra”. Zacarias era filho de Ido e neto de Berequias. Zacarias foi um sacerdote que voltou para Israel com seu pai e seu avô no primeiro retorno da Babilônia com Zorobabel (Neemias 12.4,16). É possível que seu pai tenha falecido antes do retorno e que ele tivesse sido criado pelo avô. Ido foi um dos principais sacerdotes do retorno.

         Este livro foi escrito entre 520 e 480 aC, com dois objetivos: insistir na conclusão da restauração imediata do templo e instruir a nação quanto ao seu futuro nos tempos messiânicos. É considerado um livro de “apocalipse” do antigo testamento, e também considerado misterioso e de pontos difíceis de entender, segundo alguns intérpretes.



MALAQUIAS
         Nada se sabe sobre Malaquias, o autor do livro, a não seu o seu nome, que aparece no primeiro versículo. Não é identificado nem pelos pais, pela cidade natal, pelo cargo ou mesmo data de ministério. Malaquias foi a voz profética final, contemporâneo de Esdras. Foi o último mensageiro divino para o povo da aliança do Antigo Testamento, ministrando cerca de mil anos depois de Moisés, o primeiro profeta e primeiro escritor bíblico.

         Apesar de não ter data, evidências internas indicam que Malaquias foi escrito em 430 aC. O livro tem como objetivo despertar o povo que restara em Israel de sua estagnação espiritual, com o intuito de possibilitar que o Senhor tornasse a abençoá-lo. O profeta realizou isso tomando como base a ênfase da grandeza de seu Deus, que sempre corresponde à obediência de sua palavra e está planejando o dia do julgamento final, quando então os perversos serão julgados, e os justos, recompensados:


“PORQUE eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo. Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria. E pisareis os ímpios, porque se farão cinza debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que estou preparando, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias 4.1-3 - ACF).


Ao escrever essas últimas palavras, o profeta lembrou a todos da obra do Messias, que viria para purificar a nação, preparando-a para receber seu reino e as bênçãos. A profecia de Malaquias encerra, portanto, a era do Antigo Testamento.



REFERÊNCIA

Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.






Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


Se você gostou deste artigo, está autorizado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e cite a fonte. Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.








segunda-feira, 12 de junho de 2017

Os Profetas Menores: Resumo e Visão Panorâmica – PARTE 1/2




Por Davi Faria de Caires*

OS PROFETAS MENORES
         As expressões “Profeta Maior” e “Profeta Menor” foram cunhadas pelo teólogo Agostinho de Hipona no século IV dC. O termo menor refere-se à brevidade do segundo grupo, e não à sua importância relativa de seu conteúdo. Os hebreus chamavam esse grupo de livro de “O Livro dos Doze”, e foram agrupados dessa maneira por Esdras, mais ou menos em 425aC, talvez para acomodá-los em um rolo. O grupo todo é mais curto, por exemplo, que Isaías, Jeremias ou Ezequiel.

         Embora os profetas maiores estejam dispostos em ordem cronológica, os livros que compõem o grupo de profetas menores não possuem esta disposição. Os seis primeiros livros (de Oséias a Miquéias) estão relacionados a um período anterior ao cativeiro do Norte (722 aC). Os livros de Naum, Habacuque e Sofonias relacionam-se a um período anterior ao cativeiro do Sul (606 – 586aC), e os três últimos livros (Ageu, Zacarias e Malaquias), posicionam-se em um período posterior ao regresso do cativeiro (536 – 425 aC).

         Neste artigo, estudaremos os seis primeiros livros: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas e Miquéias.


OSÉIAS
         Oséias significa salvação ou livramento. Pouco se conhece sobre este profeta, que profetizou ao Reino do Norte 30 anos antes do cativeiro. Sabe-se que foi escrito em 740 aC. Neste livro, o profeta descreve o estado abominável da nação que, à semelhança de sua esposa, tinha-se entregue à prostituição.  Este profeta recebeu do Senhor a seguinte ordem: “vá, tome uma mulher adúltera” (Os 1.2). Essa ordem parece violar os mandamentos e moral envolvida no Pentateuco. Contudo, em tempos de grande depravação, Deus estava usando um recurso prático e didático para apregoar ao povo através de uma mensagem prática através da vida do profeta.


JOEL
         Sabe-se muito pouco acerca do profeta Joel. Existem na bíblia outras 14 pessoas com este nome. Este livro foi escrito em 825 aC com dois objetivos: histórico e profético. O objetivo histórico era chamar a atenção de Judá ao arrependimento como uma reação adequada aos julgamentos do Senhor com gafanhotos e estiagem, para que uma calamidade mais devastadora não viesse sobre eles. Por outro lado, o objetivo profético era apresentar o futuro “Dia do Senhor”, no qual ele dominará os pagãos e libertará seu povo para habitar com ele. A praga de gafanhotos foi somente uma antecipação daquele futuro “Dia do Senhor”. Joel é conhecido como o profeta do “Dia do Senhor”, por ter utilizado a frase para o grande dia do julgamento das nações. O “Dia do Senhor” é um conceito bíblico que significa um tempo qualquer de intervenção divina, em que Deus assumirá o comando do mundo a fim de trazer julgamento ou bênção de conformidade com seus princípios estabelecidos, de acordo com o programa escatológico divino nos tempos do fim. Portanto, no sentido escatológico, o “Dia do Senhor” é o período futuro em que o Messias julgará as nações afim de preparar o mundo para seu reino milenar.

Joel é também conhecido como o profeta do derramamento do Espírito Santo no Pentecoste. Tanto Pedro quanto Paulo usaram o texto de Joel 2.28-32 como uma profecia da dispensação cristã, em Atos 2.16-21 e Romanos 10.13:


“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos terão sonhos; E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor; E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Atos 2.16-21 – Almeida Corrigida Fiel)


“Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.” (Romanos 10.13)


AMÓS
         Amós significa ‘fardo’ ou ‘carregador de fardos’. O autor do livro que leva o seu nome nasceu em Tecoa, era um homem de negócios, fazendeiro e pregador. Ocupava-se com criação de gado e plantação de frutas. Era um intelectual e sábio escritor. Escreveu o livro em 760 aC. Amós vivia a 7 quilômetros ao sul de Jerusalém, no mesmo lugar em que João Batista cresceu, muito tempo depois.

Este livro tem com objetivo expressar o julgamento de Deus sobre a nação que vivia em tempos de corrupção espiritual, moral e social. Em contraponto com Oséias que pregou o amor divino, Amós foi apregoeiro da justiça, com forte ênfase em justiça social. 


OBADIAS
         Obadias significa “servo do Senhor”. Era um nome comum no Antigo Testamento. Não se sabe nada sobre Obadias, exceto que estava em Jerusalém na ocasião dos violentos ataques de Edom à cidade. Este livro foi escrito em 845aC, com o objetivo de anunciar juízo e a destruição final de Edom em razão de sua violência e vingança constantes ao povo escolhido de Israel. Esse livro também afirma escatologicamente o tempo em que Israel possuirá a terra de Edom. Portanto, o livro narra o destino final de Edom, povo descendente de Esaú, e também o destino final de Israel, povo descendente de Jacó, ambos filhos de Isaque e Rebeca. Apesar de descenderem de dois irmãos gêmeos, as nações Edom e Israel tornaram-se inimigas rancorosas e implacáveis. Essa inimizade entre Israel e Edom perdurou por mil anos, de Moisés a Malaquias, envolvendo muitas contendas e brigas.

         A nação de Edom (conhecida como Iduméia), tal como Israel, foram extintas no ano 70dC com a invasão romana. Porém os edomitas nunca mais ressurgiram. Foram totalmente extirpados. Obadias é a síntese do último capítulo da história desse povo, como se fosse a conclusão dos livros sobre Edom, que foram eliminados por desprezarem a Palavra de Deus, por terem vendido sua primogenitura e por terem infligido guerras e disparates ao povo escolhido de Deus.


JONAS
         Jonas é o mais provável autor deste livro. Ele é identificado como o profeta de 2 Reis 14.25:

“Também este restituiu os termos de Israel, desde a entrada de Hamate, até ao mar da planície; conforme a palavra do SENHOR Deus de Israel, a qual falara pelo ministério de seu servo Jonas, filho do profeta Amitai, o qual era de Gate-Hefer.” 


         A tradição judaica diz ser ele o filho da viúva de Sarepta, que foi ressuscitado por Elias. Este livro foi escrito em 765aC. Historicamente, no tempo de Jonas, Israel sentia-se seguro e estava em ascensão, enquanto a Assíria achava-se em declínio político. O objetivo deste livro é apresentar como Deus julga a iniquidade em todas as esferas e, do mesmo modo, reage ao arrependimento das nações.

Este livro contém milagres “inacreditáveis”, tal como ser engolido por um grande peixe por três dias. E do mesmo modo em que Jonas esteve no ventre do peixe (lugar de morte) durante três dias e três noites, o Filho do homem esteve no coração da terra: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mateus 12.40 - ACF). Jesus usou a experiência de Jonas para tipificar a maior verdade bíblica: sua própria ressurreição dentre os mortos.


MIQUÉIAS
         Miquéias significa: “quem é igual a Javé?”. É uma expressão adequada à mensagem do livro, tendo em vista haver ênfase no grande poder de Deus no primeiro capítulo, e seu grande perdão no último. O profeta Miquéias era de origem humilde e conhecia as más condições dos pobres. É reconhecido como o único profeta cujo ministério foi simultaneamente direcionado a Judá e Israel.

Miquéias apresenta semelhanças e contrastes com Isaías, profeta contemporâneo. Tal como Isaías, ambos profetizaram sobre a vinda do Messias. Isaías falou de seu nascimento, e Miquéias determinou o local de seu nascimento. Em contrapartida, como contraste evidente entre ambos, Isaías dirigiu seu ministério à aristrocracia urbana de Jerusalém, enquanto Miquéias falou ao povo comum da zona rural.

Em Miquéias vemos o melhor resumo da Lei, em seu estilo mais simples e profundo, sem rodeios, com ênfase na prática da justiça, amor e demonstração de bondade e submissão em humildade para com Deus:


“Com que me apresentarei ao SENHOR, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” - (Miquéias 6.6-8 – Almeida Corrigida Fiel)




REFERÊNCIA

Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.





Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com



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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Os Profetas Maiores – Resumo e Visão Panorâmica




Por Davi Faria de Caires*


INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

         São 17 o número de livros proféticos, que complementam os 17 livros históricos. Os profetas tiveram ministério extraordinário, em contraste e complemento com o ministério ordinário dos sacerdotes e reis. O profetas foram porta-voz especial de Deus, atuando como pregadores da justiça em épocas de decadência moral e espiritual. Embora fosse atribuição dos levitas ensinarem a lei, os profetas executavam essa tarefa quando os sacerdotes falhavam. Portanto, apesarem de sacerdotes e profetas se complementarem, haviam diferenças importantes entre eles. Os profetas eram chamados extemporaneamente por Deus, enquanto que os sacerdotes eram designados naturalmente pela sua linhagem genealógica levítica. Os profetas eram representantes de Deus ao povo, enquanto os sacerdotes eram representantes do povo para com Deus. Os profetas exerciam seus ministérios nas cidades e na zona rural, enquanto os sacerdotes executaram o ministério no santuário. Quanto ao ensino, os sacerdotes informavam, e os profetas reformavam. Vê-se, portanto, que ambas as funções eram importantes para o sistema da aliança de Israel e se complementavam.

         Os profetas eram classificados em profetas literários (da escrita) e profetas não-literários (da palavra). O Antigo Testamento registra 18 profetas não-literários, entre os quais estão Elias e Eliseu. Os profetas não literários apregoaram sua mensagem oralmente e não deixaram material escrito. Já os profetas literários escreveram suas mensagens, tal como os temos no Antigo Testamento, e são em um total de 16 profetas, iniciando-se em Isaías e terminando em Malaquias, totalizando, como já foi dito, 17 livros.


ISAÍAS
         Isaías foi escrito pelo profeta que dá título ao livro. Embora recentemente tenha sido questionada a autoria única deste livro, as evidências clássicas e contundentes apontam que Isaías tenha sido o único autor deste livro, contrariando contestações mais recentes da alta crítica. Isaías escreveu esse livro entre os anos 740 a 680 aC. Tudo indica que ele escreveu a maior parte do livro (caps 1 – 39) durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e o restante dos capítulos (40 – 66) durante o tirânico reinado de Manassés, entre os anos 697 e 680, que de acordo com a tradição judaica, o matou serrado ao meio.

         Isaías, considerado uma bíblia em miniatura, por causa de sua organização e de seu conteúdo é, de todos os livros proféticos, o mais abrangente em seu conteúdo teológico. Os objetivos do livro são admoestar a nação acerca do julgamento por causa da idolatria e lembrar à nação o sobre o programa de libertação através do Messias prometido, o servo sofredor. Pela forte ênfase messiânica contida na segunda parte deste livro, a teologia divina de Isaías é a mais extensa e profunda de todos os livros do Antigo Testamento.


JEREMIAS
         Jeremias, autor do livro, nasceu nos últimos anos do reinado de Manassés. Este livro foi escrito no período entre 627 e 580 aC. O ministério de Jeremias começou no reinado de Josias. Sabe-se mais da vida pessoal deste profeta que de qualquer outro. Nasceu em 647 aC. Não se casou, por proibição divina. Jeremias ministrou em Jerusalém por quarenta anos (627 – 586 aC) e no Egito por cinco anos. Aconselhou cinco reis e um governador de Judá. Seu ministério poderia ser considerado um ministério fracassado nos moldes atuais, pois não viu uma só pessoa se converter durante seu longo ministério de mais de quarenta anos! Era impopular e desprezado quando profetizava.


LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS
         Talvez ninguém melhor que Jeremias estivesse preparado para escrever essas lamentações, quanto à caracterização emocional, interesse espiritual e expressão literária. Tampouco havia alguém tão historicamente ligado aos trágicos acontecimentos como testemunha ocular. Este livro foi escrito por Jeremias em meados de Agosto do ano 586 aC.

         Nenhum livro da Bíblia tem uma disposição tão artística como o de Lamentações. Foi disposto de um esquema simétrico afim de chamar a atenção para seu conteúdo e também servir, possivelmente, de mecanismo de memorização e liturgia. Apesar de uma particularidade importante não ser percebida em português, os primeiros quatro capítulos deste livro foram construídos em formato de acróstico. Já o capítulo 5 não faz uso do acróstico, talvez propositalmente, para maior espontaneidade na oração do arrependido e na expressão de confiança.


EZEQUIEL
         Não existem constestações de que Ezequiel seja o autor deste livro. Embora seu nome não seja citado em nenhum outro livro bíblico, o autor identificou-se em diversas vezes ao longo deste livro, que foi escrito entre 592 e 570 aC. Ezequiel, cuja identificação de filho do homem aparece 93 vezes nesse livro, era sacerdote, nasceu na família de Buzi, em 622aC, e tinha 30 anos quando recebeu a primeira visão. Foi exilado com Joaquim no ano de 597aC.

         Nenhum outro profeta fez uso da linguagem figurada ou de visões tal como Ezequiel. O livro está cheio de provérbios, alegorias, ações simbólicas e visões apocalípticas. O objetivo deste livro é duplo: promover arrependimento e fé em virtude da idolatria e estimular esperança e confiança. Aliás, Ezequiel traz um dado histórico importante, que é omitido em Êxodo. Explica que a idolatria da nação tinha suas raízes no Egito, e o profeta coloca que o único meio eficaz que Deus iria utilizar para curar essa tendência pecaminosa seria através de uma nova temporada em exílio, desta vez, na babilônia.


DANIEL
Daniel era membro de uma família real, nasceu em 623aC, aproximadamente, durante a reforma de Josias e no princípio do ministério de Jeremias. Foi levado à babilônia por ocasião do primeiro exílio (605), foi selecionado para o serviço real depois de um período de três anos de estudos especiais, tendo recebido o nome de “Beltessazar”, uma das divindades da Babilônia. Em 603, aproximadamente aos 20 anos, Daniel foi declarado governador da província da Babilônia e chefe supremo de todos os sábios. Era, portanto, o conselheiro de Nabucodonosor, tendo exercido forte influência sobre os judeus cativos. Durante um período de quase 70 anos, Daniel serviu a seis governadores babilônicos e a dois persas.

Este livro foi escrito em 535aC com o objetivo de promover uma vida piedosa, tal como é o objetivo geral de toda profecia, e especificamente, com o intento de declarar a soberania de Deus, que age sobre todas as nações, como se vê ao longo deste texto bíblico. Metade do livro de Daniel foi escrito em aramaico. É um livro apocalíptico no verdadeiro sentido da palavra, “apocalipse”, uma “revelação” de Deus acerca do cronograma escatológico da história das nações e dos tempos do fim.



REFERÊNCIA
Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.




Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Os Livros Poéticos – Resumo e Visão Panorâmica




Por Davi Faria de Caires*


         Cinco livros são classificados como poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos, que podem também ser subdivididos em livros de Sabedoria, ou Sapienciais (Jó, Provérbios e Eclesiastes), e livros Hínicos (Salmos e Cântico dos Cânticos).


OS LIVROS POÉTICOS

         A despeito de haverem alguns trechos esparsos no restante da bíblia que possuem estrutura poética, nestes livros vemos uma presença marcante de rima, ritmo e expressões figurativas básicas, tais como símile, metáfora, personificação, apóstrofe e hipérbole, entre outros.

        Uma característica peculiar da poesia hebraica é utilizar-se de paralelismos. Um paralelismo é identificado por ritmo de ideias, ao invés de ritmo de sons, tal como conhecemos na poesia ocidental. Há paralelismos de diversas formas: paralelismo sinonímico, antitético, sintético, analítico, climático, emblemático e quiasmo. Uma grande vantagem desse recurso é que não ele não se perde quando há tradução, pois como já foi dito, o paralelismo é baseado em ideias, e não entre os sons. Portanto, mesmo em textos traduzidos, como temos acesso hoje, podemos ainda identificar os paralelismos em toda riqueza original da poesia hebraica.


OS LIVROS DE SABEDORIA (OU SAPIENCIAIS)
Salomão é reconhecidamente um homem sábio, e o maior de sua época. Mas não foi o único de seu tempo. Houveram outros que o precederam, e também outros que o sucederam. Os sábios daquele tempo tinham maior preocupação com a vida prática do que com a sabedoria filosófica. Interessavam-se profundamente com a ética e a aplicação correta desta à vida humana. Interessavam-se pelo chão da vida. Eram filósofos de conversa, tal como uma mulher do lar e um homem do campo. Aqueles sábios procuravam aplicar o conhecimento e a sabedoria não apenas para que o homem pudesse viver melhor, mas sim para que o homem tivesse uma perspectiva norteadora em termos de perseguir um ideal.

Se compararmos o sábio com um profeta e com um sacerdote, veremos que possuem abordagens distintas para os mesmos fenômenos. Por exemplo: em relação ao pecado, o sacerdote diria que é uma profanação. O profeta diria que é um pecado. E o sábio diria que é uma loucura. Portanto, o sábio analisava os fatos em uma perspectiva moral com vistas às consequências dos atos, que podiam resultar em felicidade ou desgraça. São três os livros sapienciais: Jó, Provérbios e Eclesiastes. contém sabedorias para um correto entendimento das provações da vida. Provérbios oferece sabedoria para crescimento e disciplina na vida. E Eclesiastes, por sua vez, oferece sabedoria para encontrar o verdadeiro significado da vida.


         Jó é um livro de autoria anônima, embora os autores mais prováveis sejam Moisés e Salomão. Caso tenha sido escrito por Moisés em Midiã, o livro certamente sofreu modificações nos tempos de Salomão. Mas fato é que a autoria é incerta. Este livro tem como objetivo central mostrar como Deus usa as adversidades e a prosperidade para amadurecer o seu povo. Vê-se de modo claro neste livro, a soberania de Deus sobre Satanás, e que este último pode ser usado por Deus para cumprir Seus planos. Aliás, vemos que Satanás é o grande adversário do homem.

         Vemos neste livro a resposta à clássica pergunta: porque sofre o justo? Aliás, o erro dos amigos de Jó foi considerarem que uma pessoa rica e saudável está bem diante de Deus. Ao final do livro, o próprio Jó compreende que ter saúde ou riqueza não significam ter um bom conceito diante de Deus. Aliás, neste livro, vemos que, a despeito de ter saúde ou riquezas terrenas, a religião verdadeira é a confiança em Deus, tendo como alvo a ressurreição e o juízo final: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus” (Jó 19.25-26 - ACF).


SALMOS
         Salmos são um hinário, e o maior livro da bíblia, com 150 capítulos. Este livro é uma das maiores fontes de inspiração para oração e louvor a Deus. O livro de Salmos tornou-se o manual de instrução de Israel para oração e culto, tendo em vista que seu conceito dominante é adorar a Deus em oração. Foi escrito por diversos autores: Moisés, Davi, Salomão, Asafe, Filhos de Corá, Hemã, Etã, Ezequias, Jeremias, Ageu, Zacarias e Esdras, além de outros salmos órfãos, de autoria desconhecida. Contudo, quase a metade dos 150 salmos foi escrita por Davi, homem que teve larga experiência como pastor, músico, poeta, guerreiro, fugitivo, amante, teólogo e homem de Estado. Este livro foi escrito em um período de mil anos, tendo início em 1430aC, tendo por Moisés o primeiro escritor deste livro.

Os salmistas escreveram sobre infortúnios, vitórias e louvores nas muitas dificuldades do viver diário, dando expressão e lado emocional da religião. O estilo deste livro é poético, contendo poemas líricos, paralelismos e diversas figuras de linguagem, tais como símile, metáfora, alegoria, metonímia, sinédoque, hipérbole, personificação, apóstrofe, antropomorfismo e antropopatia.  E quanto ao conteúdo, são classificados em diversas categorias, tais como ações de graças, lamento ou queixa, imprecatórios, históricos, messiânicos, louvor e didáticos.


PROVÉRBIOS
         Salomão foi o autor dos capítulos 1 a 24 deste livro. Agur foi o autor do capítulo 30, e Lemuel foi o autor do capítulo 31. Este livro foi escrito no período entre 950 e 700 aC. Salomão proferiu 3 mil provérbios a respeito de muitas áreas da vida, muito mais que os 800 provérbios que estão incluídos no livro de Provérbios. Este livro tem como objetivo, que uma mente disciplinada e um modo de vida orientado por princípios divinos trazem grandes benefícios. E também inversamente, este livro ensina que a indisciplina e a falta de princípios trazem malefícios. Este livro também adverte acerca de perigos que resultam em seguir os ditames da natureza interior e das paixões inferiores.

         Em Provérbios, vemos uma apologia à Sabedoria, especialmente no trecho do capítulo 8, versículos 22 a 31, onde aponta que a Sabedoria existe desde a eternidade. Do ponto de vista neotestamentário, a Sabedoria constante em Provérbios é Cristo. Conforme 1 Coríntios 1.24,30, Cristo é a Sabedoria de Deus, senão, vejamos:

“Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.”

Paulo também ensina, em Colossenses 2.3: “[Cristo], em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.”


ECLESIASTES
Cântico dos Cânticos, Provérbios e Eclesiastes foram escritos em fases distintas da vida de Salomão. Cântico dos Cânticos foi escrito em sua juventude, Provérbios foi escrito na meia-idade e Eclesiastes, por sua vez, foi escrito por Salomão na velhice. Diferentemente de Provérbios, que possui mais de um autor, Eclesiastes foi escrito unicamente por Salomão, em 935aC. O objetivo do escritor neste livro foi demonstrar, cientificamente e filosoficamente, a futilidade da vida sem Deus, bem como demonstrar também a satisfação e alegria de viver na percepção da soberania divina.

Vale ressaltar que a menção de Deus como Criador aparece pela primeira vez na Bíblia em Eclesiastes: “Lembre-se de seu Criador” (12.1). Esta referência aparece posteriormente em outros livros: Isaías 40.28; Romanos 1.25; 1 Pedro 4.19. Por fim, vale mencionar que este livro é falsamente acusado de conter traços agnósticos, por revelar um notório pessimismo e naturalismo em algumas partes. Mas essa acusação cai por terra na conclusão do livro, onde o autor reconhece e expressa solenemente que o significado verdadeiro da vida só pode ser percebido quando a pessoa teme a Deus e guarda os seus mandamentos.
 

CÂNTICO DOS CÂNTICOS
         Escrito por Salomão em sua juventude, esse livro também recebe o título de Cantares de Salomão. Escrito em 950 aC, este livro foi escrito logo após Salomão tornar-se rei. Seu reinado durou de 970 a 930aC. Portanto, é o livro canônico mais antigo deste autor. Nesta época, ele possuía cerca de 60 a 80 mulheres e concubinas. Número pequeno, em comparação com o harém posterior que veio a ter, de 700 mulheres e 300 concubinas. 

         Alguns teólogos ao longo da história chegaram a afirmar que este livro não deveria fazer parte do Cânon, tendo em vista a linguagem explícita de amor conjugal entre Salomão e a Sulamita. Embora ter sido escrito especialmente para os jovens, a leitura deste livro foi proibida para jovens menores de 30 anos no período intertestamentário. Este livro retrata o a relação amorosa, íntima e conjugal entre Salomão e sua esposa Sulamita. O estilo deste livro é um idílio lírico. Idílios são figuras de cenas rurais agrupadas para se contar uma história. O melhor método de interpretação para ser utilizado neste livro é o ponto de vista típico, que concilia o ponto de vista literal e o ponto de vista alegórico. Literalmente, todo livro deve ser entendido como a expressão do amor conjugal entre os dois personagens. E algumas passagens podem e devem ser interpretadas com tipos alegóricos da representação da relação amorosa entre o Senhor e seu povo Israel, e também o relacionamento de amor entre Cristo e a Igreja. Nesta perspectiva, os dois objetivos deste livro (literal e alegórico), completam-se admiravelmente. 



REFERÊNCIA
Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.




Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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