Um episódio recente,
neste final de 2019, tem marcado embate cultural entre religiosos,
especialmente cristãos, e ateístas. O canal de streaming Netflix lançou um
média-metragem de natal, chamado 'A Primeira Tentação de Cristo', produzido
pelo grupo Porta dos Fundos. O conteúdo é provocativo e tem gerado polêmicas. O
enredo se passa no aniversário de 30 anos de Jesus e satiriza o seu retorno
após 40 dias de jejum no deserto. De acordo com a imprensa, no vídeo, Jesus,
interpretado por Gregório Duvivier, leva para casa um amigo esquisito,
interpretado por Fábio Porchat, com quem vive um romance gay. Parece haver um
triângulo amoroso entre Jesus e outros personagens. O ator principal, Gregório
Duvivier, é ateu. A trama é evidentemente anti-cristã, e tal como já declarado
pelos produtores, foi propositalmente ofensivo. Diante desse furdunço cultural
e religioso, muitos cristãos iniciaram manifestações através de
abaixo-assinados que ultrapassam um milhão de assinaturas, boicotes e
cancelamento de assinaturas na Netflix e centenas de milhares de postagens que repudiam
este ato.
Mas, como deveria o
cristão lidar diante de fatos como este? Como deve o cristão defender a fé
diante do ateísmo? Fatos como esse não deveriam gerar surpresa ou comoção no
meio cristão. Jesus já havia dito e predito que:
“Se o mundo vos odeia, sabei que,
primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria
o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por
isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o
servo maior do que o seu SENHOR. Se a mim me perseguiram, também vos
perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas
tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me
enviou.” - João
15.18-21 (ACF)
Jesus já havia alertado
os discípulos, e essa exortação cabe a nós também nos dias de hoje. O ódio que
a igreja vem a sofrer é por causa do nome de Cristo. Toda essa suposta ofensa
ocorre pelo fato de não conhecerem o nome de Jesus. O NOME do Mestre sempre foi
vilipendiado, desde o primeiro século desta era até os dias de hoje. Foi
acusado de beberrão e glutão (Mt 11.19) e até de ser associado com o príncipe
dos demônios (Mt 12.24). Em tempos de ceticismo religioso, parece não haver espaço
para a fé no presente século. O debate sobre a existência de Deus é tão antigo
quanto a humanidade. Porém, em tempos pós iluminismo, correntes tais como o
cientificismo, o racionalismo, o materialismo e o naturalismo pretendem banir a
fé do debate público, à guisa de pretensa superioridade lógica, metodológica,
epistemológica e racional.
O cristão não deve ficar
alheio a este debate. Pelo contrário, ele é desafiado pela Escritura a fornecer
justificativas racionais para a fé cristã:
“Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos
corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor
a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa
consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores,
fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo.” - 1 Pedro 3.15,16
De acordo com a Escritura, o
cristão deve, portanto, estar preparado para responder sobre sua fé. A partir
deste texto, o cristão necessita de 3 coisas para fazer apologética: santidade,
conhecimento e atitude. Santidade envolve intimidade com Deus, leitura
bíblica e reconhecimento do senhorio de Cristo. Conhecimento envolve
estar pronto para responder, conhecimento das Escrituras e saber o que a bíblia
diz. Atitude envolve mansidão, temor e boa consciência.
Diante dessas
coisas podemos nos perguntar: quais são as consequências se Deus não
existir? Como é uma vida sem Deus? A existência é para todos, em todas as
épocas, um mistério. Não conseguimos entender a vida em toda sua complexidade.
O homem é o único ser em todo o planeta que faz esse tipo de perguntas: Quem
sou eu? Porque estou aqui? Para onde estou indo? Porque existe algo em vez do
nada? Sobre essas questões, Blaise Pascal, um cientista cristão que viveu
no século XVII, escreveu:
"Não sei quem me enviou ao
mundo, nem o que o mundo é, nem quem eu mesmo sou. Sou terrivelmente ignorante
de tudo. Não sei o que meu corpo é, nem meus sentidos, nem minha alma e essa
parte de mim pensa o que eu digo, que reflete sobre si mesma assim como sobre
todas as coisas externas, e não tem mais conhecimento de si mesmo do que delas.
Assim como não sei de onde venho, também não sei aonde vou. Somente sei que, ao
deixar este mundo, caio para sempre no nada ou nas mãos de um deus irado, sem
saber qual desses dois estados será meu destino eterno. Essa é minha condição,
cheia de fraqueza e incerteza."
-
Blaise Pascal
Portanto, se Deus
existe, a vida possui sentido, valor e propósito. Mas, e se Deus não existe?
Ora, apenas como hipótese, podemos levantar algumas conjecturas sobre o absurdo
da vida sem Deus, ou de sua inexistência. (1) Sem imortalidade e Deus, a vida
não possui um sentido fundamental; (2) Se Deus não existe, não há
um valor fundamental; (3) Se Deus não existe, não há um propósito
fundamental. Portanto, no absurdo da vida sem Deus, a vida não possui sentido,
valor e propósito! Ou seja, na visão ateísta, a vida é fruto do acaso.
Nascemos, vivemos e morremos. Se não há imortalidade e se não há Deus, então,
todo empreendimento humano é um trabalho inútil. É como correr atrás do vento.
Apesar de reconhecermos a falta de sentido em correr atrás do vento,
continuaríamos executando nossas tarefas diárias aguardando o dia de nossa
morte. O homem não precisa apenas de imortalidade para conferir sentido à sua
vida! A imortalidade sem Deus seria uma maldição e não traria sentido à vida. A
imortalidade também precisa de Deus. Se tivesse existido só imortalidade, a
vida continuaria sem sentido. É um absurdo pensar a vida sem Deus. Somente
ele é o sentido da vida e da existência humana.
Deus é a fonte
única da moralidade no homem. Sem Deus, não há sentido em falar em bom e mau;
em certo e errado. O certo e o errado passariam a ser uma convenção social, uma
questão de gosto pessoal ou então como produto sócio-biológico da evolução. A
bíblia diz:
"Porque, quando os gentios,
que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles
lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus
corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos,
quer acusando-os, quer defendendo-os;" - Romanos 2.14,15
Nesse texto, Paulo
fala de uma lei moral que está presente em todos os seres humanos. Não apenas
nos judeus! Eu não preciso ser um cristão para saber que o assassinato é
errado. Mas, se Deus não existe, então tudo passa a ser relativo. O ateísmo
traz consequências niilistas à existência humana. Uma vida sem Deus, baseada no
ateísmo, destrói o significado da existência humana. Contudo, será que a maior
parte dos ateus dá cabo à sua filosofia? Não! Eles buscam placebos para sua
realidade.
Mas, é possível saber que
Deus existe? Quais são os argumentos sobre a sua existência? Sim, existem
argumentos racionais favoráveis à existência de Deus. Argumento moral,
argumento do design, argumento ontológico, argumento cosmológico... Há diversos
argumentos para a existência de Deus. A lista é imensa. Contudo, é preciso
afirmar inicialmente e incisivamente que não é possível provar a existência de
Deus. Isso parece antagônico, paradoxal e emblemático. Mas é impossível provar
Deus. Se fosse possível, não precisaríamos de fé. Fé é acreditar naquilo que
não vemos, como já registrou o autor aos Hebreus:
"ORA, a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.
Porque por ela os antigos alcançaram testemunho. Pela fé entendemos que os
mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não
foi feito do que é aparente." (Hebreus 11.1-3).
Contudo, ter fé não significa
que a crença em Deus seja irracional, ou então que daremos um salto cego no escuro.
Existem, sim, argumentos sobre a existência de Deus! O maior, melhor e mais
preciso argumento é a Escritura; a revelação especial de Deus, “de sorte que
a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10:17). Ninguém
pode vir a crer por métodos racionais ou argumentos, por melhores que eles
sejam. Crer em Deus, do jeito que diz a Escritura, é um milagre produzido
somente pelo Espírito Santo, através da pregação da palavra, transformando o
coração do homem em uma nova criatura, à semelhança do caráter de Cristo, para
a glória de Deus Pai (João 16.7-11).
Robert Jastrow, um
astrônomo americano do século XX disse certa feita:
"para o cientista que vive de
acordo com sua fé no poder da razão, a história termina como um pesadelo. ele
escalou as montanhas da ignorância; está a ponto de conquistar o pico mais
alto. Ao chegar à última rocha, é cumprimentado por um bando de teólogos que
estavam sentados ali havia séculos".
Todo sentido da vida pode
ser encontrado somente em Deus. Há muitas evidências que Deus existe. E ainda
que não houvesse evidências, seria mais racional escolher o cristianismo do que
não escolhê-lo. O cristianismo responde às principais questões da vida! Em
outras palavras, porque existe algo em vez de nada? De onde em vim? Porque
eu existo? Como devo viver? Para onde vou? Deus é ou não é. Há um caos
infinito que nos separa. E na extremidade dessa distância, a moeda está sendo
jogada e dará cara ou coroa. Pense nisto! O que você apostará?
Pascal afirmava que há
três tipos de pessoas: (1) as que buscaram a Deus e o encontraram; (2) as que o
estão buscando, mas ainda não o encontraram; (3) as que não o buscaram e não o
encontraram. As do primeiro grupo são razoáveis e felizes; as do segundo são
razoáveis e infelizes; as do terceiro grupo são pouco razoáveis e infelizes. A
aposta de Pascal deve ao menos estimular-nos a ser razoáveis e a buscar a
verdade (João 14.6).
Davi Faria de Caires
Casado, natural de Campinas-SP e residente em Atibaia-SP, acadêmico do Master of Divinity (M.Div) pela Escola de Pastores da Primeira Igreja Batista de Atibaia-SP (EPPIBA). Membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®.