sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O propósito da teologia




Algumas observações que as pessoas fazem que me deixam preocupado, triste e apreensivo: 


"Estamos deixando a igreja." 

"Não consigo emprego.”

"O quadro de saúde piorou."


Um que realmente não entendo é quando um cristão diz: 


“Sim, bem, eu não sou teólogo. Você estuda teologia. Eu só quero um relacionamento com Deus.”


Ainda essa semana um jovem, convicto de sua posição, afirmou-me que teologia tem o seu lugar mas não deve ser usada em toda pregação. Não se usa teologia em pregações públicas, no ônibus, no presídio ou no hospital. 

Mas... Será?

Aqui está a verdade: se você está vivo, você é um teólogo; isto é, você tem crenças sobre Deus. A bem da verdade, todos de algum modo possuem opinião sobre Deus. Agora, sua teologia pode não ser especializada (Sistemática, Reformada, Histórica, etc.). Sua teologia pode até ser “Deus não existe”. Mas você é um teólogo, e isso significa que a teologia é importante para você e deve ser importante para você.


Deixe-me dar apenas duas razões pelas quais estudar / aprender teologia bíblica é uma coisa boa. O primeiro eu vou tirar de outro escritor. O segundo virá das Escrituras.


1. Aprender teologia bíblica é aprender o que Deus disse sobre si mesmo.


“As disciplinas teológicas permitem que nos regozijemos mais completa e profundamente na glória de Deus. Verdades simples são maravilhosas. É bom para nós cantarmos músicas simples como “é bom estarmos aqui louvando a Deus”. Se você canta em fé sincera, o Senhor está muito satisfeito. Mas ele também fica satisfeito quando podemos cantar e orar sobre como exatamente ele foi bom para nós no plano de salvação e no escopo da história da salvação. Ele fica contente quando podemos nos gloriar na obra completa de Cristo, e descansar em sua providência abrangente, e maravilhar-se com sua infinitude e asseidade, quando podemos nos deleitar em sua santidade e mediar em suas qualidades de três e um e ficar admirado com sua onisciência e onipotência. Essas disciplinas teológicas não são destinadas a nos dar cabeças maiores, mas corações maiores que adoram mais e mais por causa do que vimos em Deus ”.

Kevin DeYoung, "Os crentes devem sentir-se culpados o tempo todo?"



Para mim, sentar e ler a Bíblia (não para estudar ou preparar uma aula, apenas ler) é como tomar um café com um velho amigo. Há apenas algo "bom" sobre isso.


Mas para obter uma amizade forte e crescente é preciso investigar uns aos outros, aprofundar o conhecimento e a compreensão das perspectivas uns dos outros. Você pode tomar café com um conhecido; uma amizade leva muito mais! 


Deus quer ser muito mais do que apenas seu conhecido, Salvador ou Deus. Um relacionamento forte com Deus não acontece sem aprender teologia bíblica em algum nível. Não se ama quem não conhece bem. Conhecê-lo melhor leva a amá-lo mais.



2. Estudar a teologia bíblica é a vontade de Deus para todo cristão. 
  

“[Deus] quer que todas as pessoas sejam salvas e cheguem ao conhecimento da verdade.” - 1 Timóteo 2:4 


Crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a honra tanto agora como naquele dia eterno.” - 2 Pedro 3:18  


Caso o lado prático não tenha feito isso por você, aqui está o outro lado. Deus não só quer que você tenha uma forte amizade com ele, ele quer que você queira uma forte amizade com ele. Então, por comando, Ele nos encoraja: “Aprendei sobre mim. Cresçam em seu conhecimento sobre mim.”


E só para ter certeza de que não tínhamos desculpas, ele nos deu 1) a Bíblia escrita para ler e estudar por conta própria; 2) o Espírito Santo para dar discernimento e produzir crescimento; e 3) professores humanos para nos ensinar diretamente e responder nossas perguntas. 


Então, o que impede você de ser o teólogo que Deus quer que você seja? 









sexta-feira, 10 de agosto de 2018

QUAL É O SEU PROPÓSITO?





Essa pergunta tem se tornado a pergunta mais feita nos últimos dias e décadas. Há uma necessidade no ser humano saber qual é o seu propósito e também saber o propósito alheio. Essa pergunta virou tão rotineira e contextualizada que quando nos é dirigida essa indagação nós nem paramos, muita das vezes, para pensar o peso que essa indagação carrega. Não é de se admirar que ela esteja perdendo o seu poder reflexivo, visto que ela é muito usada de diversas formas no nosso dia a dia, em entrevistas de trabalhos, em casa, na escola, em relacionamentos amorosos, enfim, ela está em todo lugar e agora ocupa nosso tempo aqui nessa leitura. E para falarmos sobre propósito, temos que usar o “homem”, no sentido de humanidade. O homem é notavelmente objeto de estudo de muitas matérias, o psicólogo Skinner diz, “Quase todos os que se interessam pelos problemas humanos – o cientista político, o filósofo, o homem de letras, o economista, o psicólogo, o linguista, o sociólogo, teólogo, o antropólogo, o educador ou o psicoterapeuta...”¹. Junto com a The Heritage of History quero usar o Catecismo Maior de Westminster, para resgatar o nosso “real” propósito.
No Catecismo Maior e Breve de Westminster, na primeira pergunta, diz:

“1. Qual é o fim supremo e principal do homem?
O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.
Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22-24; Is 43.7; Rm 14.7-8; Is 61.3”.

Na pergunta a palavra “fim”, quer dizer propósito para algo que existe. Um dos significados da palavra, propósito é, “intenção, desígnio, decisão, fim que se visa”².  Somos pessoas cheias de propósitos para realizar, mergulhadas em metas a serem batidas, mas será que estamos ou ao menos sabemos qual o verdadeiro propósito? Eis ai duas palavras que trazem supremacia na pergunta, e são elas, “supremo e principal”, devemos ter planos e metas, sonhos e objetivos, mas não podemos perder aquilo que é “principal”, e deixar que o “supremo” se torne diminuto em nossa vida. Digo isso, pois, muitos têm desvirtuado essa pergunta do catecismo, mudando-a em suas vidas para, o fim do homem é buscar felicidade? E o bem para todos? É certo que todos querem a felicidade, desejam prosperidade emocional, espiritual, financeira e material. Essas perguntas diferentes acabam tendo e recebendo respostas antibíblicas que contradiz as Escrituras, principalmente a pergunta ecumênica, “o bem ou o melhor para todos?”, essa pergunta coloca o foco central no homem como sendo o centro das atenções e até mesmo suscitando a idolatria ao ego, fazendo o homem crer que o seu fim principal é buscar a felicidade alheia. Mas o fim principal, ou seja, o propósito supremo do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Uma questão interessante é analisarmos o porquê de “glorificar e gozá-lo” nesta ordem em que estão. Uma coisa é que, glorificar a Deus é o mais importante e é o fio condutor da vida, e gozá-lo é uma dádiva á aqueles que adoram a Deus verdadeiramente. Certamente aqueles que glorificam a Deus experimentam um gozo divinal em sua vida espiritual. Para iluminar e trazer a tona esse conceito divino de propósito verdadeiro, vamos analisar algumas das passagens usadas na resposta da pergunta.


“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” Romanos 11:36 


O apóstolo Paulo tem em mente e no seu louvor, uma exaltação da majestade de Deus na salvação, depois de expor um argumento sólido sobre Israel e gentios, ele está atônito sobre a grandeza da sabedoria e do conhecimento de Deus, Paulo entoa então um hino que ficou muito reconhecido, e no final desse hino, ele declara essa maravilha que direciona toda a glória a Deus, e ele vai além abordando início, meio e fim, dizendo, “porque d’Ele, por meio d’Ele, e para Ele”. Totalmente dependente de Deus, Calvino comenta:
“Esta é uma confirmação da sentença precedente. O apóstolo nos mostra quão longe estamos de ser capazes de vangloriar-nos, contra Deus, de algum bem que porventura seja propriamente nosso, visto que fomos criados por Deus, a partir do nada, e agora o nosso mesmo ser depende Dele. Disto ele concluir ser justo que nosso ser seja orientado para sua glória. Quão absurdo seria que as criaturas, a quem Ele formou e sustenta, possuíssem algum outro propósito que não fosse a manifestação da glória de seu Criador!”³
Notamos Calvino dizer algo importante, que somos feitura de Deus e por Ele sustentado, e mesmo assim notamos pessoas cometer o absurdo de se vangloriar-se no simples ato de exaltar seu ego sob seus projetos e propósitos vazios. Mas precisamos abandonar qualquer propósito que não trará gloria ao Criador de nossas vidas.


“a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz.” Isaías 43:7


Isaías, um dos profetas maiores, responsável pela maioria das profecias sobre a vinda de Jesus, O apresenta em seus diversos ofícios, como servo, como rei e aqui ele O apresenta como o Único Salvador.  O texto começa com Isaías falando o que um verdadeiro profeta diz, “Assim diz o Senhor”, e falando as promessas preciosas ao seu povo em um período delicado. E o versículo primeiro é muito semelhante ao sétimo, pois ambos falam de criação, redenção, chamado de Deus e confiança em Deus.  Nesse sentido Matthew Henry, escreve e nos dá dois pontos:


“Ele nos diz (v.7) que eles são os que Deus criou para sua glória. Porquê: 1. Eles são chamados pelo seu nome. Eles professam a fé, e são distinguidos do resto do mundo pela sua relação de aliança com Deus, e por serem chamados pelo seu nome. 2. Eles são criados para sua glória. O espírito dos israelitas é criado neles, e eles são formados segundo a vontade de Deus. E estes serão congregados. Observe que somente aqueles que são criados pela graça de Deus e para sua glória são de dignos de serem chamados por seu nome. E aqueles a quem Deus criou e chamou serão agora congregados a Cristo como cabeça deles, e no futuro, ao Céu como seu lar. Ele ajuntará os seus escolhidos desde os quatro ventos. Esta promessa aponta para o ajuntamento dos espertos entre os gentios, e dos estrangeiros dispersos, pelo Evangelho de Cristo, que morreu para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam despeço pelo mundo; porque a promessa diz respeito a todos os que estavam longe, a tantos quanto Deus, nosso Senhor, chamar e criar. Deus está com a igreja; portanto, ela não precisa temer: ninguém que é de Cristo se perderá.”4


Eis a nossa responsabilidade escrita no comentário, de todas as formas, porque somos chamados, escolhidos, criados, ajuntados, guardados e tudo isso para a Eterna glória de Deus. Somos distinguidos do mundo pela profissão de fé, devemos também ter uma visão e propósito distinto do mundo, e carregarmos um nome tão santo como o de Deus.


Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Romanos 14:7-8


No meio de uma discursão na igreja de Roma concernente a alimentos, dias e datas comemorativas, Paulo vê que tudo isso era uma questão espiritual, tendo pessoas maduras e outras ainda fraca na fé. Paulo declara que eles devem acolher os fracos, e que ambos, o forte e o fraco, estão no Senhor Jesus Cristo, e que o seu viver deve ser para o Senhor, em todos os extremos da vida, quer seja na vida, quer seja na morte. Com essa certeza, Calvino escreve acertadamente:


Não é necessário que nos sintamos surpreso pelo fato de as ações pessoais de nossa vida estarem relacionadas com o Senhor, uma vez que a própria vida deve ser totalmente devotada a sua glória. A vida de um cristão só vai estar devidamente ordenada quando ela visa à vontade divina como seu objeto máximo. Mas se todas nossas ações não se acham relacionadas com sua vontade, é completamente errôneo evitar fazer algo que consideramos desagradá-lo, quando, deveras, o que somos não nos convence de que o agradamos. ...mas significa ser conformado a sua vontade e prazer, bem como para ordenar todas as coisas para sua glória. Nem devemos só viver para o Senhor, mas também morrer para o Senhor, ou, seja: tanto nossa morte quanto nossa vida devem ser entregues a sua vontade.”5


Calvino diz e conclama que nossas ações pessoais estão ligadas ao Senhor e que isso não é de surpreender. Mas hoje em nossa cultura manchada pelo idolatrado “estado laico”, os cristãos vem adotando um modo dicotômico de viver, dividindo a vida em duas esferas e facetas como, vida secular, emprego secular, lazer secular entre vida espiritual, trabalho ministerial, igreja e afazeres religiosos. Esse modo dicotômico tem feito muitos cristãos ficarem confuso em sua caminhada cristã e até mesmo priorizar uma delas, e geralmente segue pelo caminho secular deliberado. Nesta vida temos que glorificar a Deus no nosso trabalho onde quer que esteja, na igreja, na sociedade, fazendo a vontade de Deus. Ler esse comentário de Calvino nos lança a uma penetrável sondagem em nosso viver diário com o Senhor, e pergunto, será que suas ações tem se relacionado com a vontade de Deus? “tanto nossa morte quanto nossa vida devem ser entregues a sua vontade.”.


Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.  1 Coríntios 10:31 


A fim de concertar uma visão e prática dos irmãos da igreja de Corinto que não agradava a Deus, e que eles estavam correndo sérios riscos em sua saúde espiritual, Paulo se dedica a escrever sobre tal problema, um combate firme contra a idolatria no culto e participação em cerimônias consagradas ao Diabo. O apóstolo precisava moldar a visão deles expelindo o erro e moldando um novo modo de comportamento que glorifica a Deus. Ele aborda que “tudo para a glória de Deus”, com essa grandiosa confissão, Calvino escreve:

Para que não tivessem a impressão de que não havia nenhuma necessidade de preocupar-se em evitar censura, imaginando que não passava de uma questão trivial, Paulo ensina que não há parte alguma de nossa vida ou conduta, por mais insignificante que seja, que não esteja relacionada com a glória de Deus, e que devemos preocupar-nos, sim, ao comermos e bebermos, e tudo fazendo para promovê-la. Esta sentença concorda com a que precede, a saber: se formos zelosos pela glória de Deus, como de fato devemos ser, até onde estiver em nosso poder, evitaremos que suas bênçãos se transformem em objetos de abuso. Isto foi bem expresso no provérbio antigo: "Que não vivamos para comer, e, sim, comamos para viver.” Desde que o propósito da vida seja ao mesmo tempo mantido em nossa mente, em certo sentido nosso alimento será, consequentemente, consagrado a Deus, porque ele será destinado a sua honra [e glória].”6



Com a visão dicotômica da glória de Deus, as pessoas estão em constante tempo expressando que algumas questões da vida cristã não passam de triviais. Toda a nossa conduta e propósito deve ser para a glória de Deus. Calvino escreve que o propósito da vida deve continuar o mesmo na mente, isso significa que dia após dia devemos estar sempre constantes e consequentemente na busca por consagração a Deus, em nossas atividades, no viver em família, em sociedade, na escola e em todos os lugares.


Em Gálatas (5:22) estão listados os frutos do Espírito Santo, e na lista da tradução, “Almeida Revista e Corrigida”, está a palavra “Gozo”, a qual em outras traduções está escrito “Alegria”. Na pergunta do catecismo expressa, “e gozá-lo para sempre”, ou seja, “alegrar-se Nele para sempre”. Os discípulos trasbordavam de alegria (At 13.52), Paulo fala da alegria no Espírito Santo (Rm 14.17), declara também alegria em momento de tribulação (1Co 8.2), na contribuição não com tristeza e necessidade, mas com alegria (2Co 9.7), Paulo orava pela igreja com alegria (Fp 1.4), ele declara que a igreja aceitou a palavra com alegria (1Ts 1.6), Tiago nos exorta a ter alegria nas tribulações (Tg 1.2), e João se enche de alegria por saber que os cristãos estão andando na verdade (3 Jo 1.4).
Motivo de alegria é que não falta na Bíblia, nós cristãos precisamos ter alegria, e essa alegria vem de uma vida que tem o alvo de glorificar a Deus, é Deus que dá e enche seus filhos de alegria. Muitos evangélicos se questionam que suas vidas não tem alegria e não tem propósito, outros se queixam que suas vidas não têm propósitos, outros têm propósitos, mas não tem alegria. A grande questão é que as pessoas estão buscando seus próprios propósitos e vontades, correndo atrás da alegria em seus sonhos e projetos sem Deus e carregando uma visão dicomizada sobre a realidade da vida cristã.
Não existe felicidade sem Deus e não existe glória a Deus sem felicidade, por isso tenha em sua vida em um só propósito: “Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.”.




Referências:
B.F.Skinner, Para além da liberdade e da dignidade, Edições 70 LTDA- Lisboa/Portugal, 2002, pág 14.
I Coríntios / João Calvino; tradução de Valter Graciano Martins. 2. ed. - São Bernardo do Campo, SP: Edições Parakletos,2003, págs 324-25
Matthew Henry Comentário, 3° Ed.- Rio de Janeiro: CPAD, 2015, pág 193.
Romanos/João Calvino; tradução de Valter Graciano Martins- 2.ed.- São Paulo: Edições Parakletos, 2001, pág 429.
Romanos/João Calvino; tradução de Valter Graciano Martins- 2.ed.- São Paulo: Edições Parakletos, 2001, pág 481.
Ximenes, Sérgio, Editouro, 2001.


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

PORQUE FOI PARA A PRESBITERIANA?





Certa vez um irmão em Cristo me fez essa seguinte pergunta, “Porque foi para a igreja presbiteriana?”. Ele todo sem graça e sem jeito de fazer a pergunta, dizendo, “se me permite”, a fez. Veio-me a mesma reflexão que tive quando me desliguei de uma igreja para ir congregar na IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil). Para respondê-lo usei algumas características que me levou a ir para IPB, que são elas:
1ª Uma Igreja Confessional / Reformada
2ª O Presbiterianismo
3ª Integridade no Púlpito

Em uma breve fala expliquei para ele esses pontos, e aqui quero abordar um pouco mais e explicar cada um, para responder a pergunta, “Porque foi para a igreja presbiteriana?”.

1º Uma Igreja Confessional
 A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma igreja confessional, que quer dizer uma instituição comprometida com uma linha de confissão, isso é expresso no capitulo 1, do artigo 1º da constituição da igreja, que diz:
Art.1 - A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de Igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve;...”.
Algumas pessoas acham que a confissão e os catecismos são idolatrados dentro das igrejas, outros já acham que são ultrapassados e que não tem mais significância. A confissão e os catecismos são chamados de símbolos de fé das igrejas presbiterianas, e esses símbolos de fé não entram em detrimento com a Palavra de Deus, como na constituição, “sistema expositivo de doutrina e prática”, esses símbolos são usados para defender a sã doutrina, educar, edificar, consolar e ensinar os filhos de Deus, usando um sistema expositivo das Escrituras Sagradas. Esses símbolos de fé são de origem Reformada Calvinista. A IPB também é representada no TULIP, que é um acróstico resumido e extraído dos Cânones de Dort e formado pelas iniciais em inglês.

 (Total Depravity) Depravação Total
 (Unconditional Election) Eleição Incondicional
 (Limited Atonement) Expiação Limitada
 (Irresistible Grace) Graça Irresistível
 (Perseverance of the Saints) Perseverança dos Santos

Estes são chamados de 5 (cinco)  pontos do Calvinismo que de forma sistemática e gloriosa é representado como a salvação de Deus provém da livre escolha de seu amor eletivo. É realizada mediante o dom do Filho eterno que, por sua perfeita obediência, mereceu a vida eterna para os eleitos de Deus e que morreu na cruz como representante destes, expiando seus pecados e assegurando-lhes a salvação. O Espírito Santo, enviado do trono do Senhor Jesus Cristo, aplica sua salvação àqueles que foram dados pelo Pai ao Filho, regenerando- os de forma que sejam convencidos e capacitados a assumir Cristo, do modo em que ele é livremente oferecido no evangelho, dando-lhes ainda a graça de perseverarem na fé.

2º O Presbiterianismo
Esse termo de uma forma sucinta vem de uma forma de governo eclesiástico, por meio de presbíteros. O presbiterianismo surgiu particularmente em Calvino, nas Instituições da Religião Cristã (As Institutas), especificamente no volume quatro, são claramente encontrada a tradição e a unidade presbiteriana.  O governo da igreja é denominado de escriturístico, ou seja, fidelidade as Escrituras. Na Constituição, artigo 1°, diz, “...é pessoa jurídica, de acordo com as leis do Brasil, sempre representada civilmente pela sua Comissão Executiva e exerce o seu governo por meio de Concílios e indivíduos, regularmente instalados.”  Dentre essas questões de governo da igreja, temos os presbíteros docentes, reconhecidos como ministros da Palavra e os que governam chamados de presbíteros regentes. Os diáconos exercem ministério e são encarregados de serviços, ajuda na organização, exercer misericórdia aos necessitados etc. Um sistema de assembleias reflete a unidade, regional e local, da Igreja, pois os presbíteros governam em conjunto por meio da assembleia local (conselho), assembleia regional (presbitério) e assembleias mais amplas (sínodo, assembleia geral ou supremo concilio). E dentro do presbiterianismo quero envolver também, “Código de Disciplina, Princípios de Liturgia e Estatutos da Igreja Presbiteriana do Brasil”, estes estão dentro do Manual Presbiteriano, que traz um padrão que é necessário para o bem estar espiritual da igreja e para o bem da comunhão dos santos. Igreja presbiteriana diferente de todas as igrejas, nas quais o governo está nas mãos de um único presidente, e, de outro lado, daquelas nas quais o governo está com o povo em geral. Ela não acredita em nenhum governo de um homem só, seja este um pastor, presbítero e nem tampouco acredita em governo popular. Elas elegem presbíteros regentes como seus representantes, e estes, juntamente com os ministros, formam um conselho para o governo da igreja local.

3º Integridade no Púlpito
Diante das duas características abordadas acima, do impacto que elas carregam e, a semente que plantam, colhemos agora o 3° ponto que me fez ir para a IPB. Colhemos a integridade no púlpito, os púlpitos presbiterianos desde sua fundação até os dias atuais, foram e é um dos fortes doutrinariamente e com fortes convicções, abrangendo uma espiritualidade sã na Palavra de Deus, entre eles, cito alguns que tem forte influencia em minha vida, João Calvino, Robert Murray M’Cheyne, Charles Hodge, R.C Sproul e Sinclair B. Ferguson.
Essa integridade ainda reside em muitas igrejas presbiterianas, ela não é por acaso, o simples fato de ser uma integridade construída desde o começo do ministério pastoral, quando ele ainda é candidato ao Ministério da Palavra de Deus. No antigo livro chamado “Manual do Candidato” em 2008, pelo Supremo Concilio, teve um anexo – “Modelo de Manual do Candidato”, intitulado: “VOCAÇÃO: Preparação Para o Ministério”, e na apresentação, no primeiro parágrafo desse novo anexo, é perceptível a preocupação com essa integridade, ela diz,
Uma das atividades mais abençoadoras e críticas de um Presbitério é o exame daqueles que aspiram ao ministério da Palavra na Igreja de Cristo. Nossa Constituição impõe sérios requisitos que devem ser cumpridos passo a passo, o que demonstra a seriedade com que essa tarefa deve ser conduzida.”
E não termina ai, o candidato recebe um tutor para conduzi-lo no caminho e nos deveres correto. Sobre o candidato, o tutor deverá apresenta um relatório sobre as seguintes áreas do candidato:
1. O desempenho acadêmico;
2. A capacidade intelectual;
3. A vida espiritual;
4. A lista dos livros lidos pelo aluno no decorrer do ano;
5. A dedicação, zelo e responsabilidade do candidato no cumprimento de suas tarefas;
6. O campo de atuação na vida eclesial determinado para que o candidato desenvolvesse
sua vocação;
7. A capacidade de adaptação e postura;
8. A aptidão para a tribuna e a cátedra;
9. As condições de ordem financeira, familiar, emocional e acadêmica;
10. Cópia do relatório anual prestado pelo candidato ao tutor;
Essas e mais ações são feitas no decorre do tempo de uma longa jornada de formação no seminário. E tudo isso para preservar a igreja integra, longe de escândalos, expelindo o erro doutrinário e com uma vigilância na formação pastoral, pois como diz o Manual de Candidato, “A Constituição da IPB, tratando da Doutrina da Vocação define, com muita propriedade, que vocação para ofício na Igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito Santo. E vai além. Põe à prova os indícios, os sinais da vocação, no momento em que exige o testemunho interno de uma boa consciência.”

Diante dessas evidencias, vale a pena ressaltar a pergunta novamente, “Porque foi para a igreja presbiteriana?”.
Por que diante de uma cultura que sofre com um país laico, a grande aberração do mundanismo, o vírus mortal do relativismo, a ridícula ganância de querer poder e status, a ascensão de movimentos pragmáticos e subjetivos, outros místicos e com espiritualidade extravagante, uma igreja que uni essas três características e outras, certamente terá mais resistência nesse mundo contra esses males. Pela doutrina reformada que sustenta, pela coerência bíblica, por gerar uma espiritualidade saudável e promover a comunhão de irmãos em Cristo, e ter acima de tudo e por máxima, a Soberania de Deus em tudo, na salvação, na providência, na escolha dos ministros, no bem da igreja e por toda a nossa fé. Pelo sistema ser diferente de outras igrejas, por ter um zelo intransferível na formação de novos pastores, na zelosa escolha dos diáconos e presbíteros, e no sistema expositivo de doutrina e por ser para mim uma igreja que tem compromisso com a Palavra de Deus, e compromisso na integra, com consulta cuidadosa na exegese de textos Sagrados, ter na forma literal o “partir do pão” no momento da Ceia do Senhor, por lutar pela verdade e por promover nos membros a glorificação a Deus, como está escrito no Breve Catecismo de Westminster, “Pergunta 1. Qual é o fim principal do homem?
R. O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”.


Referências
As Institutas/ João Calvino;[tradução Waldir Carvalho Luz] -2ed.- São Paulo: Cultura Cristã, 2006. (volume IV)
Manual Presbiteriano, 15ª edição; São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
Modelo de Manual do Candidato ao Ministério da Palavra de Deus-- VOCAÇÃO: Preparação Para o Ministério: JET/ IPB, 2008.
Novo Dicionario de Teologia/ Sinclair B. Ferguson, David F. Wright.—São Paulo: Hagnos, 2009.
O Breve Catecismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
Teologia Sistemática/Louis Berkhof; 4ª Edição Revisada- São Paulo: Cultura Cristã, 2012.


quinta-feira, 28 de junho de 2018

A herança da História







THE HERITAGE OF HISTORY é um nome de um projeto criado para propagar a fé reformada. History em português significa História e Heritage, significa Herança. Com isso o projeto tem por intenção falar da história da igreja, de uma forma especifica a herança confessional das igrejas reformadas. Herança que me refiro é a herança dos símbolos de fé adotados pelas as Igrejas Reformadas ou Presbiterianas.  Nesse projeto seus trabalhos desenvolvem-se em artigos sobre confissões, catecismos e alguns tratados teológicos que são importantes na historia da igreja. Dentre eles estão:

  •  Confissão de Fé de Westminster
  • Catecismo Maior de Westminster
  • Breve Catecismo de Westminster
  • Confissão Belga
  • Catecismo de Heidelberg


Antes de falarmos sobre todo esse vasto material teológico precisamos conhecê-los um pouco mais de perto, com alguns detalhes e de forma sucinta, nos aproximarmos deles.

Confissão de Fé de Westminster (CFW)
 A Confissão de Fé de Westminster é a principal declaração doutrinária adotada oficialmente pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Ela foi um dos documentos aprovados pela Assembléia de Westminster (1643-1649), convocada pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra. Compõe-se de 33 capítulos, que abordam os seguintes temas da teologia reformada, são eles:
a) a autoridade das Escrituras – capítulo. 1;
b) a soberania de Deus e a eleição – capítulos. 3, 10;
c) o conceito do pacto – capítulo. 7;
d) a integração da doutrina com a vida cristã – capítulo. 16;
e) a relação entre lei e evangelho – capítulo. 19;
f) a importância da igreja e dos sacramentos – capítulos. 25-29;
g) o sistema de governo – capítulo. 31;
h) o relacionamento entre o reino de Deus e o mundo.

Catecismo Maior de Westminster (CMW)
Data (1647-1648)
Compõe-se de 196 perguntas e respostas distribuídas em três seções:
1ª Parte: Da finalidade do ser humano, da existência de Deus, da origem e da veracidade das Escrituras – Perguntas 1-5;
2ª Parte: O que o ser humano deve crer sobre Deus – Perguntas 6-90;
3ª Parte: O que as Escrituras requerem do ser humano como seu dever – Perguntas 91-196.

Breve Catecismo de Westminster (BCW)
Data (1647-1648)
Sustenta 107 perguntas e respostas, sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. Inclui uma abordagem detalhada dos Dez Mandamentos (perguntas 41-81).

Confissão Belga (CB)
A Confissão Belga foi escrita por Guido de Brès, pastor reformado (1522-1567), numa época em que os reformados dos Países Baixos sofriam grande repressão e perseguição vindas da Espanha católico-romana, que governava aquela região da Europa naqueles dias. Também conhecida como Confessio Belgica ou Confissão da Valônia, a Confissão Belga herdou seu nome porque foi escrita no sul dos Países Baixos, atual Bélgica. A confissão foi concluída em 1561, possuindo 37 artigos.

Catecismo de Heidelberg (CH)
O mais importante documento confessional da Igreja Reformada Alemã, ele surgiu na cidade de Heidelberg, que leva seu nome. O Catecismo, publicado no dia 19 de janeiro de 1563, por Zacarias Ursinus e Gaspar Olevianus, ambos estudaram com João Calvino. O Catecismo é uma belíssima exposição da fé calvinista e reformada. São 129 perguntas e respostas, que fazem uma perfeita exposição sistemática da doutrina bíblica, dividida em 52 seções, para ser aplicada uma a cada Domingo.
Diante desses gigantes tratados, surgem as perguntas:

·        São importantes esses catecismos e confissões nos dias de hoje?

·        Como posso me beneficiar lendo esses símbolos de fé?
  
·        São de fato verdadeiros?

Em poucas palavras quero responder essas perguntas.
São importantes esses catecismos e confissões nos dias de hoje?
Sim. São muito importantes esses catecismos e confissões. Eles trazem um rico legado de toda e possível erudição bíblica e percepção da majestade de Deus espalhada pelas Sagradas Escrituras. Muito se ouve dizer que mais ainda nesta época eles são importantes, mas mesmo na época em que foram criados eles tinham o seu grau de importância, combater o falso ensino, dispersar as heresias, catequizar as novas almas, edificar o povo de Deus, consolar os santos, e uma ajuda primordial na pregação da Palavra. Hoje as prioridades nas igrejas também são essas, combater o secularismo, dispersar o ateísmo, ensinar os novos convertidos, ensinar e trazer erudição aos membros, e a guardar a sã doutrina.  Muitos membros das igrejas reformadas e calvinistas não sabem e não conhecem sua herança reformada, não sabem manusear os símbolos de fé que tem ao seu dispor e para seu bem, por isso é notável pessoas que são impelidas pelo misticismo por todo lado, seguindo ensinos estranhos, sem alimento espiritual e sem vigor espiritual. Com isso quero responder à segunda pergunta.

Como posso me beneficiar lendo esses símbolos de fé?
De varias maneiras e de diferentes modos, quero tentar lhe ajudar com alguns métodos que eu aplico em minha vida e com a sublime graça de Deus vem trazendo resultados benéficos.

1. Fazer dos símbolos de fé uma ajuda devocional
No seu devocional ao ter a leitura bíblica, você começa por um dos símbolos e lendo e meditando em três perguntas. Leia as perguntas e respostas ao terminar, confiram se está tudo de acordo com a Bíblia. Essas perguntas feitas irão despertar senso para as coisas de Deus e aprofundamento teológico. Se você faz seu devocional em grupo ou família, também será muito proveitoso, um integrante faz a pergunta e cada pessoa do grupo responda com suas palavras, depois de respondido, quem estiver com o caderno de perguntas irá dizer a resposta correta e dar as referências bíblicas.

2. Antes das principais refeições
Temos o almoço e o jantar, seja em família ou singular. Quando você for fazer uma dessas refeições pega em sua mão o símbolo desejado e leia e medite naquilo que leu. Uma dica, leia somente dois, pois a comida já estará no prato e o tempo que meditar ela estará esfriando. Se for jantar em família, antes de servirem, tire um tempo para meditar nos catecismos com uma meditação mais profunda e piedosa.

3. Antes de dormir
Muitos têm o hábito maravilhoso de orar antes de dormir, sugiro também que leia um trecho do símbolo que escolher e ore “em cima” do tema em que você leu.

4. Compartilhando e gravando na memória
Muitos têm o desejo ardente de guardar na memória às perguntas dos catecismos ou citações da confissão de fé, mas não conseguem. Duas dicas importantes, primeira é que você pode usar suas redes sociais para compartilhar no dia a dia o trecho que você leu no dia, isso fará você lembrar-se do que leu e facilitará você de gravar. Segundo é, quando ler um trecho você diga esse trecho para no máximo três pessoas distintas no seu dia a dia, essa é fenomenal e comprovada por profissionais do ramo de memorização.
Fazendo algumas dessas dicas você ira absorver os escritos e saberá se defender dos enganos doutrinários que nos rodeiam todos os dias, ajudarão os irmãos da fé à pura piedade, os fracos na fé, irmãos que precisam de edificação e também ajudará a você mesmo entender as verdades escritas nesses símbolos de fé, e falando em verdade, a última pergunta fala sobre isso.

São de fato verdadeiros?
Sim, são verdadeiros e ainda defendem “A Verdade, A Palavra de Deus”.
Todos eles dão honra a Palavra de Deus em seus escritos.
CFW: O artigo 1 totalmente dedicado à “Escritura Sagrada”.
CMW: As perguntas de 3-5, totalmente dedicadas à “Palavra de Deus”.
BCW: As perguntas de 2 e 3, totalmente dedicadas à “Palavra de Deus”.
CB: Os artigos de 3-7, totalmente dedicados à “Escritura Sagrada”.
CH: Seu prefácio/Abertura dedicado à Bíblia.

Os símbolos de fé são perguntas e resposta feitas de forma bíblica sistemática com todas as respostas tendo referências bíblicas no final de cada resposta.

Sendo assim vale a pena você que ainda não leu nenhum, começar a ler, e você que já leu e deixou de lado, tenha esses símbolos como seu amigo devocional, ensine sua família, ensine os amigos e irmãos a doutrina reformada que homens no passado deram suas vidas em prol desse grande trabalho.

Em breve estaremos postando mais conteúdo sobre os símbolos de fé, um abraço do irmão,

Bruno Torquatto

Referências
A Confissão de Fé, São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
O Catecismo Maior, São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
O Breve Catecismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
Chad B.Van Dixhoorn, Catecismo Maior de Westminster Origem e Composição. Recife: Ed. Os Puritanos/Clire, 2012
Renato Alves, Os 10 hábitos da memorização: desenvolva uma memória de elefante. São Paulo: Editora Gente, 2009.
Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
Hodge, A.A. Confissão de Fé de Westminster comentada por A.A. Hodge. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1999.