Luís Roberto de Souza*
Não existe na bíblia um modelo
de governo eclesiástico como um padrão doutrinário que invariavelmente deva ser
seguido pela igreja hoje.
São três
modelos de administração praticados pelas igrejas cristãs:
·
Congregacional.
·
Episcopal.
·
Presbiteriano.
Estes Métodos são adotados por
cada denominação mais em função de fatores históricos culturais do que por
argumentos bíblicos, visto que qualquer um dos sistemas encontra apoio nas
escrituras não importando a priori qual é o modelo adotado pela denominação,
mas sim a maneira com que aqueles que estão incumbidos de governar o façam
balizados pela palavra de Deus.
Existe uma orientação bíblica
que é um dos pilares que sustentam o governo eclesiástico enquadrado na vontade
de Deus e consequentemente um sistema de sucesso.
“mas
sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na
pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá” (1 Timóteo 4.12,13).
Um governo eclesiástico de sucesso é acima de
tudo realizado com a didática do exemplo.
O objetivo deste artigo é fazer
breves observações de fatores favoráveis a cada modelo de governo e também
apontar onde os mesmos apresentam vulnerabilidades Em nenhum momento existe a
pretensão de indicar qualquer um dos referidos sistemas como um modelo
apostólico que deva ser praticado pela igreja.
O SISTEMA CONGREGACIONAL.
É o sistema de governo onde as
decisões não são centralizadas em uma única pessoa. As decisões administrativas
e disciplinares são tomadas a partir de votação por meio de assembleia onde
todo membro em situação legal está apto a votar e a ser ouvido. Assuntos de ordem
doutrinária não passam pelo crivo da congregação, geralmente são definidos por
convenções da denominação e repassados por meio de documentos instrutivos.
Para Champlin o termo
Congregacionalismo “aplica-se a qualquer grupo religioso autônomo em todas as questões eclesiásticas, e que usualmente toma
decisões mediante o voto democrático
[grifo meu]” (R.N. Champlin, 2011 pág 852).
Portanto a autonomia e a democracia são os principais pontos favoráveis a este sistema
que serão salientados neste breve artigo.
Pontos favoráveis ao congregacionalismo.
A rapidez e a
transparência que as decisões são tomadas nas congregações dão ao membro a
tranquilidade de poder identificar os rumos que a igreja toma no que diz
respeito a questões finaceiras, um exemplo conhecido por todos leitores da
biblia é o primeiro impasse de cunho financeiro vivido pela igreja narrado no
livro de Atos dos apóstolos, capítulo 6 versículos de 01 a 04 onde pode ser
visto claramente a disposição dos apóstolos em dar para congregação o poder de
decisão como o texto indica.
Naqueles dias,
crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles
queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo
esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos
os discípulos e disseram:
"Não é
certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às
mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do
Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à
oração e ao ministério da palavra"
(Atos 6.1-4).
É notório no decorrer da narrativa
de Lucas que a decisão tomada pela congregação foi acertada, isso pode ser
comprovado no decorrer do livro com os ministérios de Estevão e de Felipe.
Do ponto de vista disciplinar
também é encontrado na bíblia sagrada que o entendimento dos apóstolos sobre a
possibilidade da congregação aplicar punição a um irmão desobediente na
primeira carta aos coríntios como segue o texto:
“Por toda parte
se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os
pagãos, a ponto de alguém de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão
orgulhosos! Não deviam, porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão
aquele que fez isso? Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com
vocês em espírito. E já condenei aquele que fez isso, como se estivesse
presente. Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus,
estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso
Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja
destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor. O orgulho de vocês não é
bom. Vocês não sabem que um pouco de fermento faz toda a massa ficar
fermentada? Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova e sem
fermento, como realmente são. Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi
sacrificado” (1 Coríntios 5.1-7).
O texto
referido é uma otima alusão apostólica á pratica congregacional no sentido de aplicar a disciplina a um irmão
faltoso visto que a punição causou ao rebelde a oportunidade de arrependimento
, o seu retorno ao meio eclesiástico pode ser percebido na segunda carta do
mesmo apóstolo a igreja de coríntios conforme relata o trecho de 2 Coríntios 2.6-10.
Uma igreja de
governo congregacional ganha em dinamismo administrativo que propicia aos
membros ampla consciência de seu valor como contribuinte. Num país onde a
cultura é democrática este sistema encontrará apoio com mais facilidade.
Pelos fatos
biblicos citados é possivel apoiar a prática do congregacionalismo na igreja
sem fugir do padrão bíblico uma vez que os própios apóstolos incentivaram estas
práticas.
Pontos desfavoráveis do congregacionalismo.
A democracia
como todo sistema de governo não traz consigo a perfeição, infelizmente com a
igreja de Cristo este modelo de governo acarreta fatores negativos diversos
porém quero citar apenas dois fatores.
Como primeiro
fator negativo do congregacionalismo vou citar o partidarismo.
Pode ocorrer nestas igrejas a
formação de grupos que tendem a de maneira informal a governar a igreja de
acordo com o que julgarem correto sem levar em conta a opinião dos demais
membros. Isso pode gerar divisões do ponto de vista doutrinário como o problema
tratado por Paulo na igreja de Corinto onde havia um grupo de irmãos que eram
favoráveis a Paulo outros a Apolo como registrado em 1 Coríntios 3.1,5.
O partidarismo
difuculta a direção do rebanho de Deus que deve ser feita pelo pastor e não por
um grupo ou familia, no contexto bíblico questões doutrinárias competem aos
pastores, aos anciãos etc e nunca a um grupo por mais tradicional ou antigo que
seja naquela congregação.
A formação de
grupos liderados por famílias tradicionais neste contexto dificulta não somente
a boa administração do patrimônio da igreja bem como seu crescimento também é
prejudicado.
O segundo ponto
negativo é a possibilidade que pode haver de um voto não ser imparcial quando questões
disciplinares estão sendo tratadas. O fato de um membro poder votar pela
punição de um irmão imputa a quem vota grande responsabilidade em votar de
acordo com a Palavra e não pode se deixar levar por questões pessoais como
amizade ou a falta dela. Um fator agravante é que um neófito terá que decidir
sobre casos que pode não ter conhecimento bílbico para ponderar daí vemos a
necessidade de muito discipulado que deve anteceder o batismo e um período
indeterminado até que haja sinais de
amadurecimento no novo cristão.
Considerando o
crivo bíblico que o sistema congregacional possui e levando em conta os pontos
favoráveis e desfavoráveis aqui expostos é possível afirmar o que foi dito no
inicio do artigo que a maneira de se governar não é o fator decisivo para o
sucesso de uma congregação e sim a parametrização bíblica por parte de quem
exerce o governo, no caso em discussão a congregação deve ter por meta o
entendimento acerca do plano de Deus para igreja, da obra que Deus preparou
para ela e tenha a mesma visão do apóstolo Paulo ao orar pela igreja de Deus.
“E peço
a Deus que, da riqueza da sua glória, ele, por meio do seu Espírito, dê a vocês
poder para que sejam espiritualmente fortes. Peço também
que, por meio da fé, Cristo viva no coração de vocês. E oro para que vocês
tenham raízes e alicerces no amor, para que
assim, junto com todo o povo de Deus, vocês possam compreender o amor de Cristo
em toda a sua largura, comprimento, altura e profundidade.” (Efésios 3.16,18 - NTLH).
Parte 2. O sistema Episcopal.
É o sistema
governamental onde as decisões admnistrativas são centralizadas um uma única
pessoa, o Bispo, porém a ausência deste título não descarcteriza um sistema já
que sua principal característica não é a presença de um bispo mas sim a centralização nas decisões que podem ser
tomadas por um Pastor Presidente.
Outro fato
relevante é que este sistema não é peculiar a igreja protestante, pois a igreja
Católica Romana ao longo de sua história adotou este modelo administrativo, a
partir da Reforma a igreja protestante entrou em um processo de rompimento com
o episcopado como observa Champlin:
“Na época da Reforma
Protestante, a forma episcopal de governo foi repudiada. Antes de tudo por
causa dos abusos e corrupções que tinham entrado na mesma; e em segundo lugar
porque os reformadores julgaram que as
evidências neotestamentárias em favor desse tipo de governo não são
convincentes.” (R.N. Champlin, 2011 pág
406).
O rompimento
com o episcopado não foi total já que no decorrer do tempo igrejas de tradição
histórica como a Igreja Anglicana e Metodista até hoje têm no episcopado seu sistema
eclesiástico de governo.
As Raizes
bíblicas do episcopado são muitas no
novo Testamento um texto que mostra a autoridade de um líder que escolhia,
treinava e instiuía a liderança na igreja do primeiro séculos eram os apóstolos,
como o caso de Paulo ao lembrar a Tito sobre uma decisão tomada ao que parece
com autoridade episcopal: “Por esta causa
te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam,
e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei” (Tito 1.5).
A autoridade de um bispo na igreja do primeiro século era
diferente dos dias de hoje, visto que o período era conturbado e de mudanças e
os bispos tinham papel fundamental no auxilio aos apóstolos nas tomadas de
decisões em questões doutrinárias um fato que coaduna com essa afirmação é que
os próprios apóstolos de autodenominavam bispos: “Aos presbíteros, que estão
entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das
aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar’’ (1 Pedro 5.1).
Pontos favoráveis ao Governo Epsicopal .
Sem dúvida a
rapidez nas tomadas decisão é o ponto mais profícuo do governo episcopal.
Quanto ao bispo
pressupõe-se que seja um cristão maduro, preparado espiritual e teológicamente
e que contanto esteja apto a julgar situações administrativas, disciplinares ou
normativas tudo sob a luz da palavra como descreve a norma dada por Paulo a Timóteo
em sua primeira carta:
“Esta é uma
palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém,
pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio,
honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador,
não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que
governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a
modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado
da igreja de Deus? ); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na
condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de
fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.” (1 Timóteo 3:1-7).
As Decisões do
bispo dão dinamismo e um problema pode ser sanado antes que resultem em maiores
consequências e danos para igreja sejam
eles de ordem material ou espiritual.
Por exemplo o caso
de um pastor que porventura esteja agindo em desacordo com a declaração de fé
da denominação pode ser substituído sem dificuldades, preservando com isso a
identidade denominacional. Questões de cunho financeiro que invariavelmente causam
discussões quando tratadas por um grupo de pessoas no governo espiscopal são
decididas sem desgaste.
Pontos desfavoráveis ao Sistema Episcopal.
Em busca dos
objetivos desta breve reflexão adiante estou apontando adiante alguns pontos que são considerados vulneráveis neste sistema.
Como já exposto
no Sistema Espiscopal o poder é
concentrado, esta particularidade gera inevitávelmente o partidarismo por parte
de liderados que podem vir a se beneficiar com determinado lider no poder,
infelizmente isso gera um comportamento de conivência dos subalternos em
relação ao líder.
Outra
vulnerabilidade do meio Episcopal está no fato que não existe uma norma bíblica
que limite o tempo de governo de um lider, ou seja quase sempre no meio
evangélico o topo do poder acaba por ser ocupado por alguém por anos e até
décadas, e ainda existem casos em denominações tradicionais o posto passa de
pai para filho como se fosse uma dinastia, este é um ponto sensível de
discussão visto que na bíblia, não há argumento neotestamentário que possa
fundamentar a sucessão familiar no governo da igreja, como sugere o apóstolo
Paulo na sua carta a igreja de Éfeso quem levanta um líder para exercer governo
é o Cristo de maneira soberana, não havendo menção de que isso esteja delegado
a alguma família em especial: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros
para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e
doutores,Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo.” (Efésios 4:11,12).
A percepção
sobre os fatores acima expostos dá ao cristão que vive este modelo de governo e
a pessoa que está incumbida de governar é que ambos precisam viver esta
realidade nos parâmetros bíblicos. Se por um lado a bíblia exorta os cristãos a
serem obedientes à sua liderança, por outro ela é enfática em parametrizar a
maneira como o governante deve proceder. Não por acaso o escritor da carta aos Hebreus
se referiu à Biblia santa, perfeita e sem erros como:
“Porque a
palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois
gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e
é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura
alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos
olhos daquele com quem temos de tratar” (Hebreus 4.12,13).
Parte 3:
O Governo Presbiteriano.
O sistema de governo
Presbiteriano pode ser definido como governo representativo, neste contexto a
igreja possui um grupo de presbíteros que governa uma congregação em um mandato
limitado. Esta igreja está subordinada a um Presbitério regional e este por sua
vez responderá a sínodos superiores até uma instancia máxima: o supremo
concílio.
O grupo de presbíteros que
governa a igreja local se divide em presbíteros docentes e regentes, o primeiro
se dedica a ensinar a igreja e os demais a administrar a igreja nas questões
administrativas e eclesiásticas.
O presbiterianismo talvez seja o
modelo de governo eclesiástico que mais possua raízes neotestamentária, pois as
alusões ao presbiterianismo encontram apoio com maior frequência (Atos 14.23, Atos
15 e Tito 1.5).
Pontos favoráveis ao Presbiterianismo
O
sistema presbiteriano consegue coadunar duas características de extrema
importância: a deliberação nas decisões e a capacidade de quem decide.
As
decisões que são tomadas partem de pessoas qualificadas teológica e
espiritualmente. Como fator favorável ainda existe o fator da deliberação que
há antes da decisão ser oficializada diminuindo o risco de serem tomadas
decisões equivocadas ou precipitadas, já que quanto mais pessoas e quanto maior
a qualificação destas o risco de erro diminui proporcionalmente.
Um
exemplo bíblico de deliberação acerca de assuntos eclesiásticos é encontrado no
fato que é conhecido como primeiro concílio da igreja registrado no livro de
Atos dos Apóstolos onde claramente a decisão é tomada por um colegiado formado
por líderes (entre eles os presbíteros, conforme Atos 15.2; 4.23).
Pontos Desfavoráveis ao Presbiterianismo:
Nem
sempre no Presbiterianismo as decisões são tomadas de maneira ágil. Alguns
fatores podem colaborar para delongamento das mesmas.
Pelo
fato do presbitério ser formado por pessoas que teoricamente são formadores de
opinião podem surgir impasses mais em função de questões pessoais do que
teológicas ou administrativas.
Outro
fator desfavorável que pode ocorrer neste sistema é o surgimento do
desinteresse de alguns membros para com os assuntos administrativos da igreja.
*Sobre o autor:
Luís
Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica,
graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em
teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição
histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com
Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema:
“Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com
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