Por Davi Faria de Caires*
Introdução
A narrativa da cura dos cegos de Jericó contém
diferenças e contradições aparentes. Este
milagre é registrado nos três primeiros evangelhos:
“E, saindo eles de Jericó, seguiu-o grande
multidão. E eis que dois cegos, assentados junto do caminho, ouvindo que Jesus
passava, clamaram, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós! E a
multidão os repreendia, para que se calassem; eles, porém, cada vez clamavam
mais, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós! E Jesus,
parando, chamou-os, e disse: Que quereis que vos faça? Disseram-lhe eles:
Senhor, que os nossos olhos sejam abertos. Então Jesus, movido de íntima
compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo viram; e eles o seguiram.” (Evangelho
São Mateus 20.29-34, Almeida Corrigida Fiel)
“Depois, foram para Jericó. E, saindo ele
de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de
Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando. E, ouvindo que era Jesus
de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia
de mim. E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez
mais: Filho de Davi! tem misericórdia de mim. E Jesus, parando, disse que o
chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele
te chama. E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se, e foi ter com Jesus. E
Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre,
que eu tenha vista. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e
seguiu a Jesus pelo caminho.” (Evangelho de São Marcos 10.46-52, Almeida
Corrigida Fiel)
“E aconteceu que chegando ele perto de
Jericó, estava um cego assentado junto do caminho, mendigando. E, ouvindo
passar a multidão, perguntou que era aquilo. E disseram-lhe que Jesus Nazareno
passava. Então clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim.
E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda
mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Então Jesus, parando, mandou que
lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe, dizendo: Que queres que te
faça? E ele disse: Senhor, que eu veja. E Jesus lhe disse: Vê; a tua fé te salvou.
E logo viu, e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isto, dava
louvores a Deus.” (Evangelho de São Lucas 18.35-43, Almeida Corrigida Fiel)
A partir do relato bíblico supracitado, observemos o
que diz o relato de cada evangelista:
Mateus:
- Diz que eram dois cegos;
- Curados na saída da cidade;
- E não cita o nome deles.
Marcos:
- Afirma que era um cego;
- Curado na saída;
- Cita o nome: Bartimeu.
Lucas:
- Atesta que era um cego;
- Este ficou sabendo de Jesus na entrada
da cidade;
- Era inoportuno, insistente e quase foi
barrado pela multidão pelo seu
Infortúnio.
Análise
Os três relatos são distintos e se
complementam. A bíblia foi inspirada por Deus, mas foi escrita por homens.
Homens foram inspirados por Deus, mas o jeito de escrever é particular de cada
autor. Contudo, harmoniosamente ela se complementa. No caso dos cegos de
Jericó, os três relatos se complementam.
Lucas narra que o cego procurou Jesus na
entrada da cidade, e perseguiu-o de forma insistente. Acrescentou inclusive que
a multidão tentou barrá-lo, pois estava importunando pelo barulho que estava
fazendo. Por Marcos,
sabemos que o nome de um cego era Bartimeu. Mateus diz que eram dois cegos,
enquanto Marcos e Lucas relatam que era um cego.
Conclusão
Com isso, podemos inferir que eram dois
cegos que, no início da cidade começaram a seguir Jesus. Porém, Bartimeu era
insistente, contundente e barulhento. Por isso chamou a atenção de todos. O
outro cego era mais contido, e estava acompanhando Bartimeu. Ele não estava tão
determinado quanto Bartimeu. Lucas acrescenta também que eles perseguiram
Jesus. Não sabemos por quanto tempo eles perseguiram Jesus, mas não desistiram.
Mas a multidão atrapalhava. E chegando ao final da cidade, com provável
diminuição da multidão, e devido à insistência principalmente de Bartimeu,
Jesus efetua a cura, no final do trajeto.
Aplicação
Essa passagem me faz lembrar a parábola da
viúva que importunava o juiz (Lucas 18). Foi atendida por sua insistência e
persistência. De igual modo, Bartimeu é atendido por sua persistência. Enfrenta
a multidão, atravessa a cidade e segue clamando a Jesus até o final da cidade,
e recebe a cura.
Por outro lado, o outro cego também recebe
a cura, mas é menos 'inoportuno'. Temos outra aplicação aí. Este cego é menos
insistente. Apenas acompanha o amigo, e recebe a cura por através da
insistência do seu amigo. Isso nos mostra a importância dos relacionamentos.
Mesmo que estejamos apenas rastejando na fé, podemos ser muito abençoados ao
andarmos ao lado de pessoas fiéis, piedosas, intercessoras e persistentes.
Escrito em 02 de Março de 2015
Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®. Contato: davifariadecaires@gmail.com
Se você
gostou deste artigo, está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir
este material em qualquer formato, desde que informe o autor e cite a fonte.
Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.