segunda-feira, 31 de julho de 2017

DEBATE - Ordenação feminina: mulheres podem ser pastoras? – #Parte 1




Transcrição do debate entre Adeildo Belisário e Adriana Santos sob o tema “Ordenação Feminina: mulheres podem ser pastoras?”, ocorrido em 28 de Maio de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.
Conheça cada participante em sua apresentação inicial logo abaixo.

Adeildo Belisário: Eu sou Adeildo Belisário, sou membro da Igreja de Deus no Brasil, uma denominação pentecostal que ordena mulheres. Quero dizer que não represento a denominação e também não vejo como “heresia” os argumentos em prol da ordenação feminina. Vejo sim, como um desvio sério que compromete a unidade da igreja de Cristo. Que sejamos edificados e enriquecidos com o nosso debate. Que tudo que seja levantado seja para a glória de Deus, para nosso aprofundamento teológico e para fomentar um raciocínio crítico em todos que acompanharão nossa conversa. A tese que defenderei é esta: Não há base bíblica para a liderança feminina na igreja. Embora não exista um versículo que taxativamente proíba a liderança feminina, há base indireta para isso, tal como a restrição do ministério feminino em relação ao ensino e a submissão à liderança masculina, como encontramos em 1 Timóteo 2.12-14:

“Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” - 1 Timóteo 2.12-14


Adriana Santos: Sou a missionária Adriana Santos, sou da Assembleia de Deus Ministério Bandeira da Fé. Defendo a ordenação feminina para o ministério, mas desde que siga os parâmetros Bíblicos (tenha bom testemunho, seja casada, maneje bem a palavra). Defendo que assim como nem todo homem tem o chamado pastoral nem toda mulher terá também.

Acompanhe abaixo o desenvolvimento deste debate, com pergunta, resposta, réplica e tréplica, que foi mediado pelo moderador Pr. Alcione Pedro, de Sapezal-MT.

PERGUNTA 1 - Adeildo Belisário: Defina: que é um apóstolo, um presbítero e um diácono e quais são suas diferenças?

RESPOSTA 1 - Adriana Santos: Apóstolo: Enviado, ou seja, um é tanto um evangelista como missionário. Presbítero: Ancião, alguém que vistoria, que também tem a responsabilidade de ensinar e aposentar o rebanho do Senhor assim como está registrado em 1 Pedro 5.1-4:

“Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.” – 1 Pedro 5.1-4

Diácono: Serviço. Sabemos que na Igreja primitiva só haviam Diáconos e Presbíteros.

RÉPLICA 1 - Adeildo Belisário: Em um “sentido geral”, apóstolo é um enviado. Num sentido “mais estrito” é aquele que andou com Jesus e lançou os fundamentos ou a base da igreja (Efésios 2.20). Um presbítero tem as mesmas características morais de um diácono, mas a diferença entre eles é que o presbítero deve ser “apto para ensinar” e “presidir ou supervisionar” (1 Timóteo 5.17), entre outros.  As funções do diácono estão na esfera do servir à igreja nas suas necessidades materiais e temporárias. Como disse na pergunta, a partir da descrição de um presbítero, vejo que não há possibilidade de uma mulher ser presbítera por que vai ensinar e presidir, o que não é incentivado na bíblia. Como defendo a complementação, a "função" da mulher é auxiliar o homem para fazer aquilo que é de sua responsabilidade. Entenda-se essa "responsabilidade" como função. Nas descrições de 1 Timóteo 3, uma delas é "governar bem a casa" com condição para cuidar bem da igreja". Isso não condiz com a "tarefa" dada por Deus à mulher.

TRÉPLICA 1 - Adriana Santos: Mulher presbítero não vejo como sendo possível, sendo que presbítero é utilizado para designar funções exercidas no momento. Então não vejo porque uma mulher não pode ensinar se ela tem capacidade e maneja bem a palavra. A mulher pregando ela está exercendo várias funções e vemos que muitas mulheres pregaram o evangelho lado a lado com o apóstolo Paulo junto com demais homens: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Timóteo 3.16). Vemos em atos que Priscila, juntamente com seus esposo levou Apolo para igreja em sua casa e ambos ensinou para ele. Aí você entra no mérito da capacidade e a mulher é tanto capaz quanto o homem.

PERGUNTA 2 - Adriana Santos: Adeildo, você disse que não vê mulher com uma responsabilidade de ensinar como função. Então você vê que mulher não atinge o nível intelectual que o homem ou a mulher não tem potencial necessário para ensinar, é isso? Sabemos que muitas mulheres contribuíram para o crescimento do Evangelho assim como os homens. Não vejo porque não a mulher que governe bem sua casa não venha  perder exercer outras funções.

RESPOSTA 2 - Adeildo Belisário: Bom, Adriana, quero deixar claro que não vejo diferença "ontológica", somos imagem e semelhança de Deus, iguais em essência. Minha questão é a diferenciação de papéis a desempenhar nessa vida. E isso eu tiro da criação. Uma definição de John Piper:

“Autoridade refere-se ao chamado divino, dado a homens espirituais e com dons espirituais, que devem então tomar a responsabilidade primária como presbíteros para ter uma liderança servil como cristo teve e ensinar à igreja.” - (John Piper)

É uma responsabilidade pesada que deve encher-nos de temor (Tiago 3:1). Submissão refere-se ao chamado divino para o resto da igreja, sejam eles homens ou mulheres, para honrar e apoiar a liderança e o ensino dos presbíteros; para serem equipados por eles, os presbíteros, para as centenas de ministérios variados que estão disponíveis no serviço de cristo. Defendo a igualdade intelectual, moral, etc. Mas tenho que diferenciar as funções. Ser apto a ensinar é um dom de Deus e pode ser exercido por homens e mulheres. Quero alertar que quando um pastor está à frente de uma igreja, ele tem a responsabilidade de ensinar "autoritativamente" a palavra. É essa questão que coloco aqui. Essa autoridade não pode passar de uma mulher para um homem por causa de Efésios 5.22 e outros. Uma questão de ministérios, TODOS são ministros (Efésios 4:12) então devemos diferenciar em que aspectos uma mulher pode desempenhar um ministério e a um ministério (ordenado) isto é, revestido de autoridade eclesiástica.

RÉPLICA 2 - Adriana Santos: Gênesis: 1.27-28 diz:

“Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.”

Vemos aqui que na criação, Deus designou igualmente ambos com responsabilidade de dominar sobre a Criação. Não vejo mesmo após a queda Deus mudando isso, pelo contrário ele deu mais responsabilidade para ambos, mas ambos foram Criados para sujeitar dominar sobre toda a criação.
Autoridade significa exercer poder, domínio, exigir obediência. Autoridade não faz parte do ministério de um pastor. Ser Pastor é cuidar, alimentar, carregar em seus ombros se preciso. Nunca no ministério de um pastor ou pastora se exerce autoridade. Então mulher como pastora nunca iria exercer autoridade.

 “Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.” - 1 Pedro: 5.1-4

         Veja só, dizer que apascentar se exercer autoridade então esse não é o padrão bíblico. Cristo nunca ensinou usar de força ou domínio para apascenta suas ovelhas; muito pelo contrário: deu exemplo de Líder, lavando os pés dos discípulos para nos deixar como exemplo. Não concordo com modelo de autoridade implantado na Igreja que foi o homem quem implantou, não Jesus Cristo. Não vejo modelo Bíblico nisto [autoridade pastoral].

TRÉPLICA 2 -
Adeildo Belisário: Gênesis 2.15-20 diz:

“Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar. Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea. Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais o campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome. Assim o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.” – Gênesis 2.15-20

Sabemos que o relato de Genesis 1 é a narrativa da criação de uma “ótica geral”, quando o capítulo 2 ele “detalha” os acontecimentos, e o v16 deixa claro que quem recebeu a ordem de cuidar do jardim foi o homem. A mulher foi criada "depois" da ordem que Deus deu a Adão. Isso não quer dizer que a mulher esteja isenta, mas é justamente para "auxiliá-lo" que ela foi criada!
Você disse: “nunca no ministério de um pastor ou pastora se exerce autoridade”.  Irmã Adriana, confira se o episódio com o membro incestuoso não foi fruto de uma ação autoritativa de Paulo:

“Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que cometeu este ultraje.” – 1 Coríntios 5.3

Como John Piper frisou, autoridade não está tão próximo da opressão. A autoridade da bíblia é o exemplo da autoridade de Cristo! Em Efésios 5.22-33, Paulo deixa claro que o modelo de marido em amor é o modelo sacrificial de cristo, e da mulher é a submissão como nós a cristo. Você não vai dizer que Cristo não tem autoridade sobre você, vai? O fato de homens falíveis não exercerem sua autoridade como cristo exerce a sua, não dá o direito das mulheres (em resposta a abusos) usurpar o "direito de liderança dos homens" e é isso que tenho visto: a inércia dos homens tem ampliando a participação das mulheres no reino. Não que as mulheres não sejam capazes, mas que eles não tem a responsabilidade de levar esse fardo! Aqui eu recrimino a mim e todos os homens que não tem um amor sacrificial pelas mulheres piedosas.


Na próxima semana será postada a continuação deste debate. Aguarde!



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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Expiação Limitada x Expiação Ilimitada: qual das visões está correta? [PARTE 4]





Transcrição do debate entre Adeildo Belisário e Isaac Silva, sob o tema: " Expiação Limitada x Expiação Ilimitada ", ocorrido em 10 de Abril de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.

Conheça cada teólogo em sua apresentação inicial abaixo:


EXPIAÇÃO LIMITADA:
Adeildo Belisário: Eu sou Adeildo Espíndola Belisario, sou de Caruaru-PE, estou cursando Bacharelado em Teologia na FAETEO (Faculdade de Teologia e Cursos de Capelania), instituição on-line mesmo.  Vou defender primeiramente que Jesus Cristo não morreu por todos. Seu sacrifício substitutivo foi a favor de um grupo específico. E este grupo específico é a igreja.


EXPIAÇÃO ILIMITADA:
Isaac Silva: Bom dia a todos e em especial ao nobre servo de Cristo meu irmão Adeildo, desde já um grande prazer poder estamos aqui para agregarmos conhecimento. Sou servo de Cristo, meu nome Isaac Silva, quero dizer que não sou calvinista e nem arminiano; sou biblista e estarei me postando ao que a bíblia fala, que todos pecaram (Rm 3.23), e como todos é todos, Cristo morreu por todos.

Confira abaixo o desenvolvimento da quarta e última parte deste debate, com pergunta, resposta, réplica e tréplica entre os debatedores; perguntas dos leitores do blog e também as considerações finais dos debatedores.



PERGUNTA:
Isaac Silva: “Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2:3-4). Este texto é tão claro quanto os anteriores que postei, aqui Paulo diz basicamente o mesmo que Pedro: que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. A evidência de que o “todos” inclui também os não-regenerados é que o apóstolo diz desejar que eles cheguem ao conhecimento da verdade, o que implica que tais pessoas ainda não conheciam a verdade. Portanto, dentro da expressão “todos”, estão incluídos também aqueles que ainda estão nas trevas, afastados da verdade, precisando ainda conhecê-la e serem libertos por ela (Jo.8:32) [Extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017]. Qual o embasamento bíblico e exegético que se pode dar à expressão todo, nos textos supracitados, todos significa todos ou não? Explique.


RESPOSTA:
Adeildo Belisário: Aqui é o mesmo mecanismo de João 3.16 e 14.17! No versículo um, consta “súplicas em favor a todos os homens”. No versículo dois ele especifica quem são os todos os homens: “reis, em eminência”. Continuando, versículo três diz todos os homens sejam salvos. Todos os que detêm poder e podem dar vida tranquila e mansa, para pregá-lo visto o ensejo histórico de perseguição. Então não há motivos para quer que todos sejam (ou Deus queira que todos os reis sejam salvos), mas que Deus quer que todas as classes de pessoas sejam salvas, e não somente pobres. O tema do trecho não é a salvação de todos, mas uma discriminação entre classes que são objeto da morte de Cristo.

RÉPLICA:
Isaac Silva: 1ª Timóteo 2:4 diz: “Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2:3-4). Este texto é tão claro quanto o anterior, pois Paulo diz basicamente o mesmo que Pedro: que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. A evidência de que o “todos” inclui também os não-regenerados é que o apóstolo diz desejar que eles cheguem ao conhecimento da verdade, o que implica que tais pessoas ainda não conheciam a verdade. Portanto, dentro da expressão “todos”, estão incluídos também aqueles que ainda estão nas trevas, afastados da verdade, precisando ainda conhecê-la e serem libertos por ela (Jo.8:32). As tentativas de corromper o significado da palavra “todos” nestes textos têm sido tão frustradas quanto nos demais, chegando ao ponto de um dos maiores pregadores calvinistas na história, Spurgeon, tê-las repudiado vigorosamente. Ele reconheceu:


“Nossos amigos calvinistas mais antigos tratam esse texto. ‘Todos os homens’, dizem eles – isto é, ‘alguns homens’: como se o Espírito Santo não pudesse ter dito ‘alguns homens’ se quisesse dizer ‘alguns homens’. ‘Alguns homens’, dizem eles, como se o Senhor não pudesse ter dito ‘todos os tipos de homens’ se quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu ‘todos homens’, e é inquestionável que ele quer dizer todos os homens” - (SPURGEON, Charles H, apud, Murray, Spurgeon v. Hyper-Calvinism, p. 150.)


Ele era tão firme neste ponto que chegou a zombar dos calvinistas que interpretavam o “TODOS” como NÃO SENDO “TODOS”, dizendo que, se fosse assim, seria melhor e mais fácil que Paulo tivesse dito o contrário:


“Eu pensei, quando li sua exposição, que teria sido um comentário muito bom sobre o texto se esse dissesse: ‘Que não quer que todos os homens sejam salvos nem venham ao conhecimento da verdade’”. (SPURGEON, Charles H, apud, Murray, Spurgeon v. Hyper-Calvinism, p. 151.)


De fato, se o texto dissesse o contrário daquilo que diz, expressaria perfeitamente a opinião da maioria dos calvinistas acerca dele. Spurgeon, portanto, rejeitava a interpretação calvinista tradicional deste texto pelas seguintes razões:

- Se Paulo quisesse dizer “alguns” onde ele disse “todos”, ele poderia e teria feito isso, dizendo “alguns homens” no lugar de “todos os homens”.

- Se Paulo estivesse falando dos tipos de homens, ele poderia e teria feito isso, dizendo “todos os tipos de homens” ao invés de “todos os homens”.

- Se o texto estivesse dizendo o contrário do que diz, afirmando que Deus não quer que todos os homens sejam salvos, estaria expressando com muito mais exatidão a interpretação calvinista do que do jeito que ele está escrito.

Resumidamente, o que Spurgeon se recusava a fazer era lutar contra o óbvio do texto bíblico, corrompendo o significado daquilo que está claro. Mas isso não entra em contradição direta com a tese calvinista da expiação limitada? Sim, entra. E ele reconhecia isso. Mesmo assim, ele preferia parecer inconsistente com sua própria teologia do que com o texto bíblico:
        

“Eu preferiria centenas de vezes parecer incoerente comigo mesmo que ser incoerente com a Palavra de Deus” (SPURGEON, Charles H, Apud Murray, Spurgeon v. Hyper-Calvinism, p. 150.)


Também podemos observar que “a mesma palavra grega para ‘todos’ é utilizada em 2ª Timóteo 3.16 para dizer que ‘toda’ a Escritura é inspirada. Se a palavra não significar literalmente ‘todos’ em 1ª Timóteo 2.4, então ela também não significa ‘toda’ em 2ª Timóteo 3.16 (‘toda a Escritura é inspirada’). Seria mais honesto que os calvinistas fizessem como Spurgeon e reconhecessem o óbvio do texto de 1ª Timóteo 2:4, mesmo conflitando com sua própria teologia, do que insistirem em interpretar um texto diferente do seu significado evidente [Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017].


TRÉPLICA:
Adeildo Belisário: Bom, concluir que todos os homens no verso um, são todas as pessoas indistintamente, é ignorar a própria temática do capítulo inteiro. Paulo admoesta Timóteo e suas ovelhas, a interceder por todas as classes de pessoas, nas quais estão incluídos os reis e governantes. O fato de calvinistas não lidarem bem com essa a passagens, faz realçar que todos estão aprendendo. Tanto calvinistas quanto arminianos. É que o todos do verso primeiro são todas as classes de pessoas, assim como o verso 4. Só que há a especificação do todos no verso 2. Isso os arminianos não veem! E o calvinismo preza justamente pelo peso da morte de Cristo, se ele pagou os pecados, propiciou,  fez justiça pela sua morte, tem de ser lógico que todos serão salvos pela qualidade do autor da operação. Enfim, o significado dos termos são preenchidos pelo contexto e pelo dicionário, mas o peso mais forte é pelo contexto.


ð  PERGUNTAS ENVIADAS PELOS LEITORES DO BLOG:


PERGUNTA PARA ISAAC:

“Tendo em vista a unicidade do texto bíblico no diz respeito à mensagem que é única sendo Cristo o centro da escritura. Na expiação veterotestamentaria onde o sacerdote fazia a expiação pelo povo,  o mesmo era elemento passivo e que apenas recebia os benefícios da expiação.  No contexto neotestamentário se a  expiação  efetuada por Cristo for ilimitada uma vez que sendo a humanidade passiva e recebedora dos benefícios da expiação sendo assim inevitavelmente todos seriam salvos. Como resolver essa questão do universalismo?”
(Pergunta enviada por Luís).


Isaac Silva: se eu entendi bem sobre quem é passivo, a questão de ser passivo no ofertante ou ofensor era meramente em relação ao benefício advindo do ato de ofertar o sacrifício, isto no antigo testamento, é o mesmo ato era fundamentado pela fé no sacrifício que cobriria seu pecado é claro que o mérito esta unicamente no sacrifício. O mesmo princípio se aplica por inferência no novo testamento. Ofertante agora não precisa mais sua atuação "ativa" de trazer um novilho para o sacrifício. Sua passividade continua a mesma em relação ao poder do sacrifício, pois o mérito é de outrem JESUS, porém sua atuação em receber os benefícios deste sacrifício superior permanece o mesmo o ato de crer, o exercício da fé.


PERGUNTA APARA ADEILDO:

“Ezequiel: 18.23 diz: “Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? Diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” Se Deus não tem prazer na morte do ímpio e deseja que o ímpio se converta, por que o sacrifício não se estenderia a todos ímpios?”

(pergunta enviada por Diego Fernandes).


Adeildo Belisário: Bom, irmão, temos que entender que tipo de vontade Deus tem. Que tipo de amor Deus tem e aplica. É claro que Deus não trata todos de igual forma, digo, Deus não manifesta se amor na mesma intensidade.  Como a manifestação máxima de amor é a morte de Cristo, Essa manifestação não pode ter barreiras, o que o calvinismo faz é dar o devido poder da morte que traz vida. Deus deseja algo, mas Deus também deseja algo com mais intensidade. Aí se parte para o decreto, que Deus escolheu fazer aquilo que teve vontade, essa vontade é diferente da vontade do texto de Ezequiel 18. Como harmonizar com as outras partes da bíblia como Isaías 43? Farei toda a minha vontade? É fazendo diferenciação entre o que Deus quer daquilo que ele quer mais, que no final é a sua própria Glória.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Isaac Silva: Em minhas considerações finais quero agradecer a oportunidade em poder ter contribuído para o elevo espirituais de todos, pelo convite a mim feito pelo irmão Alcione Pedro, valeu todos esses dias de pesquisa, me preparei e muito. E agradecer o amado irmão Adeildo, meu conterrâneo pois morei por 30 em Recife e sobre tudo ao nossos Deus que nos Amou com AMOR IMUTAVEL, dito isto, finalizo dizendo que:

“A crença na expiação limitada nunca surgiu através de um exame detido das Escrituras, razão pela qual eles possuem quase nenhuma fonte de apoio acerca disso, exceto alguns versículos que, como mostramos, nem de longe favorecem a visão limitada da expiação. Se a expiação limitada é verdadeira, ela passou despercebida pela Bíblia, por todos os Pais da Igreja, por Lutero e até pelo próprio Calvino. Até que um homem, sucessor de Calvino, percebeu que limitar a extensão da expiação era totalmente necessário para dar sentido e ligação às demais crenças calvinistas. Por isso, a Bíblia não apenas foi revista, mas muitas vezes manipulada, corrompida e flagrantemente adulterada nas tentativas de reinterpretação de textos históricos que sempre foram usados na defesa da expiação universal e que claramente atestam que Cristo morreu por todos. Lutar contra eles, tentando forçar os textos a dizer algo diferente daquilo que eles explicitamente dizem, não melhoram nada – apenas demonstra como alguém é capaz de lutar contra o óbvio. Como resultado das interpretações manipuladas, o “mundo” não é mundo, o “todos” não é todos, o “querer” não é querer, o “redimir” não é redimir, o “destruir” não é destruir e a palavra “alguns” não existia no vocabulário de Paulo e dos demais escritores neotestamentários. Foi um trabalho árduo a revisão de textos que claramente apontam para a expiação universal, mas, infelizmente, foi onde eles tiveram que chegar para assumir as consequências de uma doutrina que começa errada, e que termina pior ainda.” [Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017].



Adeildo Belisário: Agradeço a oportunidade!  E Pr Isaac,  foi um prazer debater a palavra de Deus com você, foi muito estudo também de minha parte, mas tudo contribui para o nosso bem!

Minha consideração é que pela história, a teologia vem se desenvolvendo,  como a doutrina da Trindade, e todas que foram objeto dos concílios. Não se falava em expiação limitada em Calcedônia porque os pais estavam preocupados com outra questão. A recomendação que faço é que cada um pegue a bíblia e Leia TODOS os versículos, TODOS os pontos de vista e orientem-Se pelo Espírito Santo. E pesem a questão do monergismo e sinergismo, que acho o ponto crítico entre calvinistas e arminianos.

Graça e paz a todos!





segunda-feira, 17 de julho de 2017

Expiação Limitada x Expiação Ilimitada: qual das visões está correta? [PARTE 3]





Transcrição do debate entre Adeildo Belisário e Isaac Silva, sob o tema: " Expiação Limitada x Expiação Ilimitada ", ocorrido em 10 de Abril de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.

Conheça cada teólogo em sua apresentação inicial logo abaixo:


EXPIAÇÃO LIMITADA:
Adeildo Belisário: Eu sou Adeildo Espíndola Belisario, sou de Caruaru-PE, estou cursando Bacharelado em Teologia na FAETEO (Faculdade de Teologia e Cursos de Capelania), instituição on-line mesmo.  Vou defender primeiramente que Jesus Cristo não morreu por todos. Seu sacrifício substitutivo foi a favor de um grupo específico. E este grupo específico é a igreja.


EXPIAÇÃO ILIMITADA:
Isaac Silva: Bom dia a todos e em especial ao nobre servo de Cristo meu irmão Adeildo, desde já um grande prazer poder estamos aqui para agregarmos conhecimento. Sou servo de Cristo, meu nome Isaac Silva, quero dizer que não sou calvinista e nem arminiano; sou biblista e estarei me postando ao que a bíblia fala, que todos pecaram (Rm 3.23), e como todos é todos, Cristo morreu por todos.

Confira abaixo o desenvolvimento da terceira parte deste debate, com pergunta, resposta, réplica e tréplica.



PERGUNTA:
Adeildo Belisário: Como já falamos de texto e contexto, pergunto: Qual a diferença da palavra "mundo" nos textos de João 3.16 e João 14.17?

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3.16)

"O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós." (João 14.17)


RESPOSTA:
Isaac Silva: Quero fazer uma análise em João 3.16. [extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017]. Uma vez que os calvinistas não têm mais textos, analisaremos agora os vários versículos bíblicos que foram usados pelos Pais e doutores da Igreja cristã por quinze séculos até Teodoro de Beza, na defesa da doutrina da expiação universal, a qual nem o próprio Calvino tinha a mínima dúvida a respeito.  O primeiro e mais famoso texto é o de João 3:16, que diz: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que TODO o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Os calvinistas interpretam o termo “MUNDO” como se referindo apenas aos eleitos. Isso tem tanta cara de distorção bíblica que até o calvinista Arthur Pink, um dos maiores defensores da expiação limitada, admitiu: 

“Pode parecer para alguns de nossos leitores que a exposição que demos de João 3:16 no capítulo sobre ‘Dificuldades e Objeções’ é forçada e não natural, na medida em que nossa definição do termo ‘mundo’ parece estar fora de harmonia com o significado e escopo desta palavra em outras passagens, onde, fornecer o mundo de crentes (os eleitos de Deus) como uma definição de ‘mundo’ parece não fazer sentido” 

[Fonte: Arthur Pink. A Soberania de Deus. Editora Fiel. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/comentarios/joao3_16_pink.htm Acesso em: 10 de Abril de 2017.] 


[extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017]. A verdade é que qualquer pessoa que ler o Evangelho de João, pelo menos uma vez na vida, irá facilmente se deparar com o fato de que a palavra “mundo” ali nunca significa somente os eleitos.
A palavra “mundo” aparece 57 vezes em João, e em lugar nenhum tem esse significado. Tente, por exemplo, interpretar “mundo” como se referindo somente aos eleitos nestas passagens:

“Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos” (João 21:25)

“Disse Jesus: ‘O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui’” (João 18:36)

“Pai justo, embora o mundo não te conheça, eu te conheço, e estes sabem que me enviaste” (João 17:25)

“Eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:16) 

“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:14)

“Eu rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus” (João 17:9)

“Já não lhes falarei muito, pois o príncipe deste mundo está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (João 14:30)

“Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou” (João 15:18)

“Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia” (João 15:19)

“Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria” (João 16:20)

“O Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês” (João 14:17)

“Disse então Judas (não o Iscariotes): ‘Senhor, mas por que te revelarás a nós e não ao mundo?’” (João 14:22)

“Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (João 14:27)

“O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau” (João 7:7)


Interpretar “mundo” nestas e em outras passagens similares no Evangelho de João como significando “os eleitos” seria um delírio.  Um exame mais detido deste evangelho nos mostra que a palavra “mundo” só possui dois significados: o natural (o mundo geográfico) e o espiritual (os perdidos). Em nenhum texto há o significado intrínseco de “mundo dos eleitos”, como uma referência exclusiva aos crentes. Afirmar que João 3.16 e textos similares que estendem a expiação ao mundo todo são exceções à regra geral é algo infundado e oriundo puramente dos próprios pré-conceitos calvinistas, onde a exegese é deixada de lado para dar luz a interpretações fantasiosas que se encaixem na sua teologia.
João também escreveu sobre a expiação ilimitada de Cristo ao mundo inteiro em sua primeira epístola, em dois momentos diferentes: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2) e “Nós temos visto e testificamos que o Pai enviou a seu Filho como Salvador do mundo” (1ª  João 4:14). Ele não diz que Cristo era somente salvador dos eleitos, ou que expiou somente os nossos pecados. Ele diz que ele é o salvador do mundo e que propiciou não somente os nossos pecados, mas também os pecados do mundo todo. João usou a palavra “mundo” em sua primeira epístola 16 vezes, e, mais uma vez, ela nunca teve o sentido de “eleitos”, como podemos ver nestes textos:


“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1ª João 5:19)

“Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus” (1ª João 5:5)

O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1ª João 5:4)

“Eles vêm do mundo. Por isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve” (1ª João 4:5)

“Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1ª João 4:4)

“Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia” (1ª João 3:3)

“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1ª João 3:1)

“O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1ª João 2:17)

“Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo” (1ª João 2:17)

“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1ª João 2:15)


Substituir “mundo” por “eleitos” nestas passagens seria cômico. João sempre usava a palavra “mundo”, quando em sentido espiritual, para se referir aos incrédulos. Portanto, pelo mesmo critério e coerência, o “mundo” de 1ª João 2:2 e de 1ª João 4:14 deve ser estendido aos próprios descrentes. Cristo também morreu por eles e expiou seus pecados. Paulo diz que “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação” (2Co 5:19). O calvinista tem todo o direito de interpretar a palavra “mundo” do jeito que bem entender. Só não tem o direito de dizer que a interpretação de “eleitos” é séria, exegética ou criteriosa, porque não é.  À luz de uma exegese criteriosa, tal interpretação soa mais como um deboche [extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017].


RÉPLICA:
Adeildo Belisário: Mundo é kosmos em João 3.16.  Creio que isso diz respeito à sua criação, não somente a todos os homens. A palavra que vão afetar nossa compreensão da palavra mundo está em “TODO o que nele crê”, “Deus enviou seu filho ao mundo para que ele fosse salvo” (v17), “aquele que não crê já está condenado”.
Como essa parcela dos que não creem pôde estar inserida no mundo do versículo 16? O v. 36, mata a compreensão de que a ira de Deus permanece em quem não crê. Logo não podemos colocar o mundo que não crê com o mundo que crê no mesmo mundo que ele amou de tal maneira. A mesma palavra em João 14. Será que esse mundo do v.17 é todas as pessoas, já que dentre o mundo há os que conhecem e recebem o Espírito? Logo, o fato de o Espírito habitar e estar em vós é a diferença entre receber é ou não.  No dicionário a palavra mundo tem o mesmo significado, mas diante de contexto e é uma ideia central percorrendo o livro, vê-se que há outros significados.


TRÉPLICA:
Isaac Silva: [extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017]. A primeira razão pela qual os arminianos rejeitam a visão de uma expiação limitada é porque ela limita o amor de Deus, restringindo-o aos eleitos. Se textos como João 3:16 não falam que Deus amou o mundo todo e se entregou por ele, mas apenas pelo “mundo dos eleitos”, então o amor de Deus é limitado a eles. Deus não poderia verdadeiramente amar alguém sem nem ao menos oferecer uma oportunidade de salvação a ele. Deus não amaria alguém por quem ele não quis morrer. Morrer pelo próximo é um ato de amor (Jo 10.11-16), que os calvinistas negam aos não-eleitos.
Talvez essa não fosse a principal objeção de Calvino à expiação limitada, mas é a primeira conclusão que qualquer arminiano chega ao ouvir que Deus limita a expiação de Cristo.
Vários calvinistas reconhecem que a expiação limitada também limita o amor de Deus, como William Ames, que disse que “Deus odeia os não-eleitos. Esse ódio é de negação ou de privação, porque nega a eleição, mas tem um conteúdo positivo, porque Deus deseja que alguns não possuam a vida eterna”.
John Owen, que foi provavelmente o maior defensor da expiação limitada, também disse que “Deus, tendo ‘feito alguns para o dia do mal (…) odiou-os antes que fossem nascidos’ (…) e ‘ordenou-os de antemão para a condenação”. Essa visão que limita o amor de Deus e que o restringe aos eleitos é condenada tanto filosoficamente como biblicamente. Foi exatamente este conceito distorcido do amor de Deus que levou o filósofo cristão William Lane Craig a rejeitar a visão de Deus no islamismo em um debate com o muçulmano Jamal Badawi. Ele disse:
        

“Além de ser todo-poderoso, onisciente, onipresente, etc, o maior ser que pode ser concebido deve ser também todo-amoroso, pois obviamente é melhor ser amoroso do que ser não-amoroso, e Deus é um ser moralmente perfeito. Portanto Deus, como o ser moralmente perfeito, deve ser todo-amoroso, e isto é exatamente o que a Bíblia afirma. A Bíblia diz: ‘Deus é amor, e nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho para ser sacrificado pelos nossos pecados’. E ainda: ‘Deus demonstra seu amor por nós porque, quando ainda pecadores, Cristo morreu por nós’”

Fonte: CRAIG, William Lane. Debate Cristão x Muçulmano. Disponível em: htttp://apologiacrista.com/index.php?pagina=1079980198. Extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017.


Norman Geisler também percebe a fragilidade do calvinismo neste ponto e escreve:


“Um Deus que ama parcialmente é menos que um Deus supremamente bom a ideia que os calvinistas extremados fazem de ‘Deus’ não é o Bem supremo, ela não representa Deus de forma alguma. O Deus da Bíblia é infinitamente amoroso, isto é, todo-benevolente. Ele deseja o bem de toda a criação (At 14.17; 17.25) e a salvação de todas as almas (Ez 18.23,30-32; Os 11.1-5,8,9; Jo 3.16; lTm 2.4; 2Pe 3.9)”. [GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 158. Extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017.]



Além disso podemos ver a ilógica calvinista nas seguintes palavras: É lógico que esta perspectiva parece negar a ‘ONIBENEVOLÊNCIA’ (amor total) de Deus. A Bíblia diz que ‘Deus é amor’ (1 João 4:16) e que Ele ama o mundo (João 3:16). De fato, ‘para com Deus não há acepção de pessoas’ (Rom. 2:11), não apenas no que concerne à Sua justiça, mas em todos os Seus atributos, inclusive Seu amor (Mat. 5:45). De fato, se Deus é simples, Seu amor estende-se por toda Sua essência, e não apenas em parte. Daí decorre que Deus não pode amar parcialmente. Mas, se Deus é todo-amor, de que maneira pode Ele amar apenas a alguns, de modo a conceder-lhes, e somente a eles, o desejo de salvar-se?

No calvinismo, Deus pode limitar seu amor, mas não pode limitar sua glória. Essa é uma enorme contradição à luz do esvaziamento da glória de Cristo descrita em Filipenses 2:5-8. Olson observa isso e diz:


“Aparentemente, Deus pode (ou deve) limitar seu amor, mas ele não pode limitar sua autoglorificação. Eu inverteria a ordem das coisas e diria que, à luz do auto esvaziamento de Cristo (Fp 2), Deus pode limitar sua glória (poder, majestade, soberania), mas não seu amor (porque Deus é amor; ver 1 João 4!)” [OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 180. Extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017.]


Além disso, para um calvinista ser sincero, ele não pode anunciar a todos que Jesus morreu por eles, pois isso seria falso. Ele não pode chegar a um pecador e dizer: “Jesus te ama e ele morreu por você”, quando crê que Jesus morreu apenas pelos eleitos e que a grande maioria das pessoas no mundo não são “eleitas”. Consequentemente, para qualquer descrente que ele anunciar o evangelho há sempre uma possibilidade maior de ele não ser um eleito, de Jesus não ter morrido por ele e de Deus não amá-lo. É algo de outro mundo em se tratando de evangelismo, mas é o que deveria ser feito caso os calvinistas levassem seu calvinismo a sério. 

Como que um calvinista, pregador do evangelho, isso sem mencionar Deus, pode dizer a uma congregação ou a outro ajuntamento de pessoas: ‘Deus te ama e Jesus morreu por você para que você possa ser salvo, isso se você se arrepender e crer no Senhor Jesus Cristo’, sem acrescentar a advertência, ‘se você for um dos eleitos de Deus’? O pregador calvinista não pode fazer isso com a consciência limpa. Assim sendo, um calvinista não pode dizer para qualquer pessoa que Jesus morreu por ela. Ele no máximo pode dizer que Jesus pode ter morrido por ela. Se ela não é uma pessoa eleita, dizer que Jesus morreu por ela seria uma mentira e uma enganação. Iria iludir alguém que pode até pensar que Jesus a ama incondicionalmente – o que seria a pior das heresias. Como Gary Schultz afirmou, “se a expiação foi apenas para os eleitos, pregar esta mensagem aos não eleitos seria, no seu melhor, dar a eles uma falsa esperança e, no seu pior, falso” [Gary L. Schultz, Jr., “Why a Genuine Universal Gospel Call Requires an Atonement That Paid for the Sins of All People”, Evangelical Quarterly 82:2 (2010), p. 115. Extraído de: Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”. Fonte: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017].

O evangelismo calvinista então deveria ser feito dizendo ao pecador ainda não-convertido que Jesus pode ter morrido por ele, que ele o ama se ele for um eleito, e que ele tem uma chance de ser salvo contanto que tenha a sorte de não ter sido rejeitado desde antes da fundação do mundo. É um evangelismo que nos faz gelar o sangue nas veias. Isso difere de forma gritante do ensino bíblico, onde alguém como Paulo desejava até ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor dos descrentes de Israel (Rm 9.1-)