Transcrição
do debate entre Adeildo Belisário e Adriana Santos sob o tema “Ordenação
Feminina: mulheres podem ser pastoras?”, ocorrido em 28 de Maio de 2017
no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.
Conheça
cada participante em sua apresentação inicial logo abaixo.
Adeildo Belisário:
Eu sou Adeildo Belisário, sou membro da Igreja de Deus no Brasil, uma
denominação pentecostal que ordena mulheres. Quero dizer que não represento a
denominação e também não vejo como “heresia” os argumentos em prol da ordenação
feminina. Vejo sim, como um desvio sério que compromete a unidade da igreja de
Cristo. Que sejamos edificados e enriquecidos com o nosso debate. Que tudo que
seja levantado seja para a glória de Deus, para nosso aprofundamento teológico
e para fomentar um raciocínio crítico em todos que acompanharão nossa conversa.
A tese que defenderei é esta: Não há base bíblica para a liderança feminina na
igreja. Embora não exista um versículo que taxativamente proíba a liderança
feminina, há base indireta para isso, tal como a restrição do ministério feminino
em relação ao ensino e a submissão à liderança masculina, como encontramos em 1
Timóteo 2.12-14:
“Não permito, porém, que a mulher
ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.
Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a
mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” - 1
Timóteo 2.12-14
Adriana Santos:
Sou a missionária Adriana Santos, sou da Assembleia de Deus Ministério Bandeira
da Fé. Defendo a ordenação feminina para o ministério, mas desde que siga os
parâmetros Bíblicos (tenha bom testemunho, seja casada, maneje bem a palavra).
Defendo que assim como nem todo homem tem o chamado pastoral nem toda mulher
terá também.
Acompanhe
abaixo o desenvolvimento deste debate, com pergunta, resposta, réplica e
tréplica, que foi mediado pelo moderador Pr. Alcione Pedro, de Sapezal-MT.
PERGUNTA 1 - Adeildo Belisário:
Defina: que é um apóstolo, um presbítero e um diácono e quais são suas
diferenças?
RESPOSTA 1 - Adriana Santos:
Apóstolo: Enviado, ou seja, um é
tanto um evangelista como missionário. Presbítero:
Ancião, alguém que vistoria, que também tem a responsabilidade de ensinar e
aposentar o rebanho do Senhor assim como está registrado em 1 Pedro 5.1-4:
“Aos anciãos, pois, que há entre
vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e
participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus, que
está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus;
nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que
vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se
manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.” – 1
Pedro 5.1-4
Diácono:
Serviço. Sabemos que na Igreja primitiva só haviam Diáconos e Presbíteros.
RÉPLICA 1 - Adeildo Belisário:
Em um “sentido geral”, apóstolo é um enviado. Num sentido “mais estrito” é
aquele que andou com Jesus e lançou os fundamentos ou a base da igreja (Efésios
2.20). Um presbítero tem as mesmas características morais de um diácono, mas a
diferença entre eles é que o presbítero deve ser “apto para ensinar” e
“presidir ou supervisionar” (1 Timóteo 5.17), entre outros. As funções do diácono estão na esfera do
servir à igreja nas suas necessidades materiais e temporárias. Como disse na
pergunta, a partir da descrição de um presbítero, vejo que não há possibilidade
de uma mulher ser presbítera por que vai ensinar e presidir, o que não é
incentivado na bíblia. Como defendo a complementação, a "função" da
mulher é auxiliar o homem para fazer aquilo que é de sua responsabilidade.
Entenda-se essa "responsabilidade" como função. Nas descrições de 1
Timóteo 3, uma delas é "governar bem a casa" com condição para cuidar
bem da igreja". Isso não condiz com a "tarefa" dada por Deus à
mulher.
TRÉPLICA 1 - Adriana Santos:
Mulher presbítero não vejo como sendo possível, sendo que presbítero é
utilizado para designar funções exercidas no momento. Então não vejo porque uma
mulher não pode ensinar se ela tem capacidade e maneja bem a palavra. A mulher
pregando ela está exercendo várias funções e vemos que muitas mulheres pregaram
o evangelho lado a lado com o apóstolo Paulo junto com demais homens: “Toda
Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender,
para corrigir, para instruir em justiça” (2 Timóteo 3.16). Vemos em atos que
Priscila, juntamente com seus esposo levou Apolo para igreja em sua casa e
ambos ensinou para ele. Aí você entra no mérito da capacidade e a mulher é
tanto capaz quanto o homem.
PERGUNTA 2 - Adriana Santos:
Adeildo, você disse que não vê mulher com uma responsabilidade de ensinar como
função. Então você vê que mulher não atinge o nível intelectual que o homem ou
a mulher não tem potencial necessário para ensinar, é isso? Sabemos que muitas
mulheres contribuíram para o crescimento do Evangelho assim como os homens. Não
vejo porque não a mulher que governe bem sua casa não venha perder exercer outras funções.
RESPOSTA 2 - Adeildo Belisário:
Bom, Adriana, quero deixar claro que não vejo diferença "ontológica",
somos imagem e semelhança de Deus, iguais em essência. Minha questão é a
diferenciação de papéis a desempenhar nessa vida. E isso eu tiro da criação.
Uma definição de John Piper:
“Autoridade refere-se ao
chamado divino, dado a homens espirituais e com dons espirituais, que devem
então tomar a responsabilidade primária como presbíteros para ter uma liderança
servil como cristo teve e ensinar à igreja.” - (John Piper)
É
uma responsabilidade pesada que deve encher-nos de temor (Tiago 3:1). Submissão
refere-se ao chamado divino para o resto da igreja, sejam eles homens ou
mulheres, para honrar e apoiar a liderança e o ensino dos presbíteros; para
serem equipados por eles, os presbíteros, para as centenas de ministérios
variados que estão disponíveis no serviço de cristo. Defendo a igualdade
intelectual, moral, etc. Mas tenho que diferenciar as funções. Ser apto a
ensinar é um dom de Deus e pode ser exercido por homens e mulheres. Quero
alertar que quando um pastor está à frente de uma igreja, ele tem a
responsabilidade de ensinar "autoritativamente" a palavra. É essa
questão que coloco aqui. Essa autoridade não pode passar de uma mulher para um
homem por causa de Efésios 5.22 e outros. Uma questão de ministérios, TODOS são
ministros (Efésios 4:12) então devemos diferenciar em que aspectos uma mulher
pode desempenhar um ministério e a um ministério (ordenado) isto é, revestido
de autoridade eclesiástica.
RÉPLICA 2 - Adriana Santos:
Gênesis: 1.27-28 diz:
“Criou, pois, Deus o homem à
sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os
abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que se arrastam sobre a terra.”
Vemos
aqui que na criação, Deus designou igualmente ambos com responsabilidade de
dominar sobre a Criação. Não vejo mesmo após a queda Deus mudando isso, pelo
contrário ele deu mais responsabilidade para ambos, mas ambos foram Criados
para sujeitar dominar sobre toda a criação.
Autoridade
significa exercer poder, domínio, exigir obediência. Autoridade não faz parte
do ministério de um pastor. Ser Pastor é cuidar, alimentar, carregar em seus
ombros se preciso. Nunca no ministério de um pastor ou pastora se exerce
autoridade. Então mulher como pastora nunca iria exercer autoridade.
“Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu,
que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante
da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus, que está entre
vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por
torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram
confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo
Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.” - 1
Pedro: 5.1-4
Veja
só, dizer que apascentar se exercer autoridade então esse não é o padrão
bíblico. Cristo nunca ensinou usar de força ou domínio para apascenta suas
ovelhas; muito pelo contrário: deu exemplo de Líder, lavando os pés dos
discípulos para nos deixar como exemplo. Não concordo com modelo de autoridade
implantado na Igreja que foi o homem quem implantou, não Jesus Cristo. Não vejo
modelo Bíblico nisto [autoridade pastoral].
TRÉPLICA 2 -
Adeildo Belisário: Gênesis
2.15-20 diz:
“Tomou, pois, o Senhor Deus o
homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar. Ordenou o Senhor Deus
ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da
árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás. Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o
homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea. Da terra formou,
pois, o Senhor Deus todos os animais o campo e todas as aves do céu, e os
trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a
todo ser vivente, isso foi o seu nome. Assim o homem deu nomes a todos os
animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o
homem não se achava ajudadora idônea.” – Gênesis 2.15-20
Sabemos
que o relato de Genesis 1 é a narrativa da criação de uma “ótica geral”, quando
o capítulo 2 ele “detalha” os acontecimentos, e o v16 deixa claro que quem
recebeu a ordem de cuidar do jardim foi o homem. A mulher foi criada
"depois" da ordem que Deus deu a Adão. Isso não quer dizer que a
mulher esteja isenta, mas é justamente para "auxiliá-lo" que ela foi
criada!
Você
disse: “nunca no ministério de um pastor
ou pastora se exerce autoridade”. Irmã Adriana, confira se o episódio com o
membro incestuoso não foi fruto de uma ação autoritativa de Paulo:
“Eu, na verdade, ainda que
ausente no corpo, mas presente no espírito, já julguei, como se estivesse
presente, aquele que cometeu este ultraje.” – 1 Coríntios 5.3
Como
John Piper frisou, autoridade não está tão próximo da opressão. A autoridade da
bíblia é o exemplo da autoridade de Cristo! Em Efésios 5.22-33, Paulo deixa
claro que o modelo de marido em amor é o modelo sacrificial de cristo, e da
mulher é a submissão como nós a cristo. Você não vai dizer que Cristo não tem
autoridade sobre você, vai? O fato de homens falíveis não exercerem sua
autoridade como cristo exerce a sua, não dá o direito das mulheres (em resposta
a abusos) usurpar o "direito de liderança dos homens" e é isso que
tenho visto: a inércia dos homens tem ampliando a participação das mulheres no
reino. Não que as mulheres não sejam capazes, mas que eles não tem a
responsabilidade de levar esse fardo! Aqui eu recrimino a mim e todos os homens
que não tem um amor sacrificial pelas mulheres piedosas.
Na próxima semana
será postada a continuação deste debate. Aguarde!
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