segunda-feira, 22 de maio de 2017

Os Livros Históricos – Resumo e Visão Panorâmica – PARTE 2/2



Por Davi Faria de Caires*


INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS
         Os doze livros, de Josué a Ester, são chamados livros históricos, pois narram a história do povo de Israel na conquista de Canaã e nos séculos posteriores. O período cobre aproximadamente 1000 anos da história de Israel: entre 1405 a 405 aC, de Moisés até Esdras, o mestre da lei. Nos livros históricos vemos o cumprimento cabal das bênçãos e maldições previstas e preditas por Moisés nos capítulos 28 a 30 de Deuteronômio.
         O contexto geográfico donde se desenrola os fatos dos 12 livros é na atual palestina, a terra santa, ou a terra de Canaã.
         Neste artigo serão abordados os livros de I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.


SAMUEL
         O autor de I e II Samuel são desconhecidos, embora os autores prováveis sejam Samuel, Natã e Gade. Os eventos descritos no livro ocorrem no período entre 1100 a 970 aC. O objetivo deste livro é narrar a consolidação da monarquia teocrática, passando de uma anarquia no tempo dos juízes e chegando em um estado organizado e unificado, sob a liderança de Saul, Davi, Salomão e os reis posteriores.
Um destaque relevante neste livro é a oração que inicia o primeiro livro, feito por Ana, mãe de Samuel. É uma poesia que registra uma das orações mais notáveis da Bíblia. Vemos também neste livro a vida do Sacerdote Eli, que portou-se de modo negligente na criação dos filhos Hofni e Fineias, levando a um final de morte trágica. Sua vida foi marcada por falta de disciplina pessoal, ausência de piedade e sem poder para exercer sua tarefa sacerdotal. Neste livro vemos também a trajetória da Arca, que após ter sido capturada pelos Filisteus, percorreu várias cidades, sendo depois devolvida. 
         Um importante personagem neste livro é Samuel, que pode ser comparado a Moisés e Esdras, dada sua importância de liderança espiritual no Antigo Testamento, tal como exerceram os dois personagens supracitados. Samuel ungiu os dois primeiros reis de Israel: Saul, que fora escolhido pelo povo como um rei alto, com qualificações pessoais que agradavam o povo, e Davi, que fora escolhido por Deus, possuindo uma aparência contrastante de Saul, um homem de baixa estatura. Davi foi um homem de qualificações extraordinárias. Foi um homem altamente estimado por Deus e pelos homens. Tanto é que tornou-se o paradigma, através do qual é utilizado como parâmetro de referência para todos os demais reis de Israel nos séculos posteriores. Davi não foi um homem perfeito, mas demonstrava arrependimento genuíno após seus erros. Ele teve 12 esposas e 10 concunbinas, com as quais teve 21 filhos e uma filha. Não foi um pai presente, e falhou na criação dos filhos.
         Este notável personagem, Davi, é considerado um tipo de Cristo, tendo em vista ter exercido ministério tríplice. Tal como o Messias, Davi também foi rei, sacerdote e profeta.


REIS
         Tal como Samuel, os livros de I e II Reis, na bíblia hebraica, era apenas um livro. Na septuaginta (tradução do Antigo Testamento para o grego), os tradutores dividiram-no em dois livros: III e IV Reis, e os livros de Samuel na Septuaginta foram denominados I e II Reis. Provavelmente para ser inserido em dois rolos. Os dois livros possuem autoria incerta, mas podem ter sido escritos por Jeremias, com auxílio de seu secretário Baruque. As histórias narradas neste livro estão situadas no tempo histórico de 970 a 560 aC, desde a morte do Rei Davi, o primeiro rei da Aliança até o cativeiro de Zedequias, último rei de Judá.
         Judá teve ao todo 19 reis e uma rainha, e Israel teve ao todo, 19 reis. Em 2 Samuel, vemos Davi comprando o local do tempo. Em 1 Reis, vemos Salomão preparando a construção do templo, e em 2 Reis vemos a destruição do templo. O templo construído por Salomão foi um portento do mundo antigo. Se valor atual é estimado em 87 bilhões de dólares (tomando como base o cálculo do ouro a 35 dólares cada 28 gramas). Foi uma construção colossal, que envolveu muito dinheiro e recursos, que foram acumulados durante o reinado de Davi. Este templo durou 380 anos.
         Após o reinado de Salomão, o reino foi dividido em Reino do Norte (Israel), e Reino do Sul (Judá). O Reino do Norte foi formado por 10 tribos, e o Reino do Sul foi formado por duas tribos, Judá e Benjamin. Por três motivos houve essa cisão: motivos espirituais, políticos e econômicos. A idolatria, a rivalidade entre Judá e Efraim e também os altos impostos culminaram na divisão entre dois reinos.
         Vemos também neste livro a atuação de dois profetas prolíficos: Elias e Eliseu. Esses dois profetas tiveram uma atuação muito importante, com o desafio principal de combater a idolatria vigente em seu tempo. A despeito da grande idolatria pré-exílica, além dos profetas, houveram também reis que atuaram com reformadores, todos dos quais reinaram no Sul, em um total de 9, que são considerados bons reis. Pela idolatria, por não aceitar as correções dos profetas e também por terem se recusado a guardar o sábado, o povo foi levado para o exílio Assírio-Babilônico.


CRÔNICAS
         O livro de Crônicas contém a mais vasta abrangência cronológica que qualquer livro da Bíblia. Inicia-se em Adão e conclui em Ciro da Pérsia, em 538aC. O nome original deste livro era “Atos de Dias”, ou “Atos dos Tempos”, e Jerônimo, no século IV da Era Cristã renomeou-o com o título de “Crônicas”, sugerindo um registro cronológico da história sob a perspectiva divina. De acordo com a tradição hebraica, o autor deste livro é Esdras, o sacerdote.
         Este livro contém muita semelhança do conteúdo contido em Reis e em Samuel. A despeito de o conteúdo ser bastante semelhante, o propósito é diferente. O enfoque de Crônicas é sacerdotal. Ao invés de focar nos profetas ou nos reis, o livro de Crônicas possui uma nítida ênfase nos Levitas e sacerdotes do templo. Neste livro, o autor registra e sintetiza toda história sagrada afim de lembrar a geração do seu tempo e também às gerações futuras de que Deus é a figura central do seu povo. O autor procurou ressaltar a soberania de Deus.
         O versículo chave desses livros é 2 Crônicas 7.14: “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” (ACF - Almeida Corrigida Fiel). Além de ressaltar a soberania de Deus, esse livro possui enfoque em convocar o povo ao culto e à santificação. Enfatiza também o perigo de deixar Deus de lado em época de prosperidade ou poder, que são bênçãos divinas, mas há o perigo de os alcançados por elas se afastarem de Deus.


ESDRAS E NEEMIAS
         Esses livros narram a volta do cativeiro, e foram escritos entre 430 e 425aC. Esdras, o sacerdote, é considerado o autor de quatro livros: Esdras, Neemias, 1 Crônicas e 2 Crônicas. Utilizou-se de memória própria e memória de Neemias, além de utilizar também outros documentos oficiais da época, escritos em aramaico, língua oficial da época. O tema central de Esdras é narrar o retorno de Israel do cativeiro afim de reconstruir o templo para adoração. E em Neemias, o enfoque é a reconstrução do muro e a renovação da aliança. Aliás, vale ressaltar que alguns judeus alcançaram posição de destaque político relevante e altos postos no governo persa, a exemplo de Daniel, Ester e Mardoqueu.
         Em relação ao pensamento religioso da época do livro, foram contemporâneos alguns pensadores bastante conhecidos hoje, tais como Sócrates (c. 469), Platão (427), Aristóteles (384), Zaratustra, ou Zoroastro (628-551), Buda (Gautama, 563-486) e Confúcio (Kung Fu-Tsé, em 551-479 aC). Neste ínterim, Esdras teve um papel fundamental em preservar a religião verdadeira ensinada pelos patriarcas e profetas.
         Esdras, que também escreveu o Salmo 119, ordenou o divórcio a 113 homens, que haviam casado com mulheres de outras nações, que praticavam culto a outros deuses. Contudo, mesmo havendo o divórcio, o texto sugere que foi-lhes exigido manterem o cuidado das esposas e filhos que haviam sido destituídos.


ESTER
         Este livro tem por objetivo narrar o livramento que o povo judeu recebeu no período entre 483 e 473aC, quando eram perseguidos pelos agagitas (Agague, título real do rei dos amalequitas). O nome do livro diz respeito a uma judia que tornou-se rainha e salvou todos os judeus da morte. Neste livro, é descrito uma explicação genuína da origem da festa judaica de Purim, que é praticada anualmente pelos judeus até os dias de hoje, onde inclusive este livro é lido na íntegra. Os acontecimentos deste livro encaixam-se cronologicamente entre os capítulos 6 e 7 de Esdras, e foi escrito no ano 460aC. O autor é desconhecido.
         Este livro possui uma narrativa dramática fascinante. Muito embora não mencione em nenhum local o nome de Deus, vê-se sua mão em todos os acontecimentos, preservando o povo de um genocídio total. Aliás, este livro descreve também o surgimento do antissemitismo e do antijudaísmo em todo o mundo. Embora este termo antissemitismo tenha sido cunhado somente no ano 1879 (Judeus, Deus e a História, p.313ss, Max Dimont, citado por Ellisen, 2007), este fenômeno de ódio aos judeus é relatado pela primeira vez no livro de Ester. Esta luta entre judeus e seus inimigos contemporâneos não possuía penas fundo político ou racial, mas era também uma luta espiritual, com a tentativa de Satanás exterminar o povo sobre o qual haveria de vir o Cristo. Daniel, aliás, descreve essa luta espiritual, nos capítulos 10 e 11 do profeta Daniel. Deus sempre preserva seu povo nas perseguições, propiciando líderes que são levantados para um fim libertador, tal com Cristo, o definitivo Salvador do seu povo.



REFERÊNCIA

Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.


  


Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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