quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Pequenos Frascos, Melhores Fragrâncias





Será que o tamanho define a qualidade? O que podemos aprender com os livros que muitas vezes são esquecidos por ocuparem apenas uma ou duas páginas na Bíblia? Aprenda sobre a riqueza teológica que podemos extrair dos Profetas Menores.



Por Gleydson Salviano*


2 Pedro 1.19-21
19 E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração,
20 sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação;
21 porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus faltaram inspirados pelo Espírito Santo.


Há um conhecido dito popular que diz: “Nos pequenos frascos estão as melhores fragrâncias“ e deveras isso se aplica aos chamados Profetas Menores ou, simplesmente, Os Doze. Segundo os pastores Alexandre Coelho e Silas Daniel: “Na literatura judaica, esses livros são chamados de “Os Doze” ou “Os Doze Profetas” (ou Dodekapropheton), no texto grego da Septuaginta) pelo menos desde 132 a.C. (outros datam 190 a.C., época provável da produção do livro apócrifo de Eclesiástico, escrito por Jesus Ben Siraque, que é o primeiro registro conhecido dessa designação (...) Quanto à designação cristã “Profetas Menores”, ela surgiu na Igreja Latina, segundo afirma Agostinho (345-430 d.C.), bispo de Hipona, em sua obra  A Cidade de Deus”[1].
Os Profetas Menores são compostos pelos livros de Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Mas seriam eles chamados de menores em decorrência de possuírem uma superficial teologia? Ou ainda por terem recebido uma porção inferior de inspiração divina em seus escritos? Por tratarem apenas de temas específicos e restritos ao povo de Israel? Ou por serem profetas não respeitados pelo povo? De forma alguma nenhuma destas indagações terá uma resposta afirmativa. Foram assim chamados, devido aos seus escritos registrados e preservados não serem tão volumosos se comparados com os Profetas Maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel), a ponto dos escribas, no passado, transcreverem os doze livros em apenas um rolo.
De forma singular, os Profetas Menores, oferecem uma gama de riquezas teológicas, experiências, promessas e juízos. Vejamos alguns pontos apresentados de forma magistral nesse grupo de livros, por vezes, rejeitados ou menosprezados pelos irmãos:

1) Sua importância foi atestada pelo próprio Cristo e a igreja primitiva: Em diversas oportunidades se vê que Jesus chamava tanto os profetas maiores quanto os menores de apenas “Profetas”, colocando-os em um mesmo patamar de importância quanto à inspiração divina e valor teológico (Mt 5.17; Lc 16.29). O rolo dos Profetas Menores foi considerado como de valor tão estimável que Estêvão, em sua bela defesa, o usou como argumento ao citar uma passagem do livro do profeta Amós (At 7.42).

2) Uma diversidade entre os profetas e a sua mensagem: Ao analisar os Profetas Menores se vê uma variedade grande no processo de chamado e vocação de Deus. Ele chamou profetas dos mais diferentes níveis sociais, a exemplo de Amós que era um simples boiero e cultivador de sicômoros e Sofonias que fazia parte da Corte Real e era tataraneto do rei Ezequias. Isso corrobora com as palavras do próprio Deus ao dizer a Samuel: “Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração” (1 Sm 16.7). Há ainda um fator de destaque nos Profetas Menores quanto à sua mensagem e seus destinatários: Deus mostra o seu amor não somente ao povo de Israel, mas estende a outros povos as profecias de juízo para que também tivessem oportunidade de arrepender-se, a exemplo dos assírios (Na 1.1; Jn 1.2) e dos edomitas (Ob 1.1). Os livros dessas referências citadas são os únicos, na Bíblia, em que a sua mensagem são destinada, na íntegra, a povos gentílicos.

3) São livros altamente cristocêntricos: Se em nossos dias, infelizmente, as pregações e ensinos estão cada vez mais distantes de ter a Cristo como tema central, não era o que acontecia nos Profetas Menores. Em toda a sua extensão de profecias veremos o plano de redenção da humanidade por meio do Messias ser apresentada como uma realidade que se aproximava rapidamente. Observam-se profecias a respeito de toda a vida e ministério de Jesus Cristo: seu nascimento (Mq 5.2), sua infância (Os 11.1), morte e ressurreição (Jn 1.17; 2.10). Além de outras profecias referentes ao reinado eterno de Cristo (Mq 4.7) e o alcance da sua salvação a todos os que quiserem (Ml 4.2).

4)  O registro histórico do relacionamento de Deus com seu povo: Os Profetas Menores atuaram entre os séc. VIII e V a.C., sendo assim por meio das profecias podemos entender como Deus foi lidando com o seu povo em cada fase da sua história. Normalmente, as pessoas tem o entendimento errôneo de cada profeta foi enviado, necessariamente, após a morte de um profeta antecessor, porém não foi assim. Muitos profetas atuaram durante o mesmo período de tempo, tanto os Profetas Maiores quanto os Menores. Seguem a relação dos Profetas Menores utilizados em cada período histórico de Israel: período pré-exílico (Joel, Miquéias, Habacuque, Sofonias, Oséias, Amós, Obadias, Jonas e Naum) e período pós-exílico (Ageu, Zacarias e Malaquias).
A partir dessa publicação, iniciarei uma série de estudos envolvendo os Profetas Menores, por esta razão achei conveniente mostrar-lhes o quanto valorosos são estes escritos e o quanto podemos aprender com eles a respeito do conhecimento teológico teórico-prático, pois de quê nos serviria conhecer as Sagradas Escrituras, de capa a capa, e não aplicá-la em nossas vidas. Por isso Deus utilizando-se de um dos Profetas Menores, por nome Oséias, assim diz ao seu povo: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (Os 6.4). Que as bênçãos do Senhor Jesus estejam sobre a vida que cada leitor até que nos encontremos com Ele na glória. A Ele toda honra, toda glória para todo o sempre. Amém.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. “Os doze profetas menores”. Editora CPAD, 2012.



Gleydson Salviano



*Gleydson Salviano é casado com Ana Karolina, formado em Administração e com MBA em Gestão de Negócios, Controladoria e Finanças, é Superintendente e Professor de EBD na Assembléia de Deus de Brasília em Samambaia/DF pastoreada pelo Pr. Erasmo Araújo Pinto.



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No princípio criou Deus... Com intervalo ou sem? [Parte 2 de 2]





A Terra terá mesmo bilhões de anos? Houve um mundo pré-adâmico que fora destruído por um cataclismo tão intenso que deixou a Terra sem forma e vazia? Conheça a Teoria do Intervalo e a crença de dias não literais e comuns na narrativa de Gênesis 1.
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Para ler a parte 1 deste artigo, clique aqui.



Agora vamos analisar se há base bíblica para defender dias não literais ou diferentes em tempo dos nossos atuais e, ainda, base para um intervalo onde houvera muitos bilhões de anos onde todo um mundo pré-adâmico foi sucumbido diante da rebelião de seu governante. Partiremos, primeiramente, dos argumentos bíblicos que defendem os dias como sendo literais e de 24 horas (os argumentos foram extraídos original e parcialmente da obra “Criacionismo: Verdade ou Mito” (Ham, 2003) do Dr. Ken Ham e citados aqui de forma indireta e acrescidos de comentários meus):


1)          O uso do termo hebraico yom traduzido como dia: O termo utilizado em Gênesis capítulo 1 para “dia” é yom. Na maioria das vezes que o termo é usado no Antigo Testamento refere-se ao dia comum, de 24 horas. Quando se tratava de um período longo ou indefinido utilizavam os termos hebraicos olam ou qedem. Por que apenas o livro de Gênesis seria a única exceção e não seriam dias comuns e, sim alegóricos ou representariam eras?


2)          O contexto de Gênesis reafirma o argumento 1: O próprio contexto de Gênesis e o uso de expressões como “noite e manhã”, “primeiro dia, segundo dia, terceiro dia”, o ciclo de luz/trevas, a associação do dia com os corpos celestiais (v. 14) apontam para dias literais e normais e reafirmam que o termo yom foi utilizado com o objetivo do argumento apresentado anteriormente.


3)          O registro das genealogias dos capítulos 5 e 11: As genealogias de Gênesis não nos revela, apenas, o quanto longevo eram os homens e mulheres do período pré-diluviano. Elas vão muito além revelando-nos que os anos entre a Criação e nossa época não são de bilhões de anos, mas apenas de poucos milhares (aprox. 6.000 anos).

4)          A instituição da guarda do sábado aos judeus: Ao meditarmos em Êxodo 20.9-11 observamos que ao instituir a guarda do sábado ao povo de Israel, Moisés ratifica que os dias da obra criativa de Deus em Gênesis eram dias comuns e normais. Assim diz o texto em apreço: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou” [grifo nosso]. No original hebraico, Moisés utilizou o termo yom tanto para referir aos dias normais que os israelitas deveriam trabalhar quanto para os dias que Deus utilizou-se para concluir sua Criação. Mais uma vez, Moisés poderia ter se utilizado dos termos olam e qedem para os dias da Criação a fim de defini-los como longos períodos e diferentes dos dias normais, mas não o fez.


5)          Jesus ensina sobre a idade da terra como sendo jovem: Jesus em alguns de seus discursos dava-nos indícios de como a idade da terra calcula-se em milhares de anos, ao invés de bilhões como afirmam os cientistas. Em Marcos 10.6 diz: “porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea”, com isso Jesus nos aponta que ainda no princípio de tudo (Gn 1.1) Deus fez o homem e a mulher, ou seja, não houve nenhum intervalo longo entre o princípio e o sexto dia da Criação, mas apenas um breve intervalo. Já em Lucas 11.50-51 consta: “para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração”, mais uma vez Jesus nos indica que entre a fundação e a morte de Abel havia um pequeno intervalo de tempo, considerando o assassínio de Abel como um evento próximo a fundação do mundo.


6)          O ensino da Bíblia sobre pecado, morte, redenção e caráter de Deus: Ao acreditar que a Terra tem bilhões de anos e houve um intervalo de período desconhecido ou ainda que os seis dias da Criação foram períodos ou eras longas, ao invés de dias normais e literais, nós ferimos todo o princípio que a Bíblia nos ensina sobre o caráter de Deus, o pecado, a morte e a redenção. Ao concluir sua Criação no sexto dia, Deus a contempla e chama tudo de “muito bom” (Gn 1.31). Deus criou tudo perfeito, belo e maravilhoso. Originalmente, tanto o homem quanto os animais tinham uma alimentação vegetariana apenas (Gn 1.29,30) e não havia derramamento de sangue e morte. Diante da astuta cilada da serpente, Adão e Eva acabaram por ceder ao pecado e, consequentemente, lhes sobreveio a morte física, a maldição do próprio solo. Paulo bem nos explica ao escrever aos nossos irmãos de Roma que toda a criação geme e está à espera da redenção final, quando veremos a restauração de todas as coisas (Rm 8.19-25). Com essa história aprendemos que a morte, a violência, a fome e todas as coisas ruins entraram no mundo em decorrência do pecado da desobediência. Ao aceitar as teorias de bilhões de anos, somos forçados a acreditar que todas essas camadas de fósseis descrevendo mortes, sofrimento, violência ocorreram antes de o pecado entrar no mundo, contradizendo o ensinamento bíblico. Além de descrever o caráter de Deus, diferente do restante das Sagradas Escrituras, onde um Deus utiliza-se da morte, da doença, a extinção para causar dano à sua Criação e, ainda assim, a chama de “muito bom”. Então por que precisaríamos que o nosso pecado fosse expiado na cruz por Cristo, se Deus permite todas as coisas ruins, mesmo que não tenha havido pecado? Ou ainda, se pensarmos que Deus permitiu essas mortes em decorrência da rebelião de Lúcifer, então teríamos um Deus injusto que puniu seres alheios ao pecado, ao invés do seu causador. No Dilúvio de Noé, Deus puniu os homens pelos seus pecados, mas preocupou-se em guardar os animais na Arca.

7)          A Teoria do Intervalo abole a evidência do evento histórico do dilúvio global: Segundo estes teoristas, a formação dos fósseis foi em decorrência do Dilúvio de Lúcifer ocorrido no período longo e indeterminado entre Gn 1.1 e 1.2. Contudo, se ele é o responsável pelos fósseis que evidência restou do Dilúvio de Noé? Eles acreditam que o segundo Dilúvio praticamente não deixou vestígios, pois se tratou apenas de um Dilúvio local. Mas esta teoria é inconsistente se analisarmos a luz de 2 Pe 3.5-7: “Eles voluntariamente ignoram isto: que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste; pelas coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio. Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios”. O texto bíblico é claro ao comparar que o Dia do Juízo será semelhante ao Dilúvio, todos serão julgados e receberão sua recompensa, conforme sua vida de piedade ou impiedade. Se acreditarmos que o Dilúvio de Noé foi apenas local, devemos acreditar que no Juízo Final apenas uma parte será punida e outra não. Além de pensarmos o porquê Deus ordenaria a Noé construir uma arca para salvar a ele, sua família e os animais se o Dilúvio seria local? Bastaria, para tanto, que Deus indicasse a Noé em qual local não choveria e transportar para lá os animais.

Irmãos, ainda haveria outros argumentos que mostram a inconsistência da Teoria do Intervalo, mas creio que os elencados aqui já sejam suficientes no momento. Para um estudo mais aprofundado indico o livro “Criacionismo: Verdade ou Mito?” do Dr. Ken Ham, publicado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus). Espero que esse pequeno artigo, seja um fator motivador para aprofundar-se nesta área do conhecimento teológico. E desejo que as bênçãos do Senhor Jesus estejam sobre a vida que cada leitor até que nos encontremos com Ele na glória. A Ele toda honra, toda glória para todo o sempre. Amém.



Sobre o autor:
Gleydson Salviano é casado com Ana Karolina, formado em Administração e com MBA em Gestão de Negócios, Controladoria e Finanças, é Superintendente e Professor de EBD na Assembléia de Deus de Brasília em Samambaia/DF pastoreada pelo Pr. Erasmo Araújo Pinto. Escreve quinzenalmente neste Blog sobre o tema: "Profetas Menores".


Permissões:
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e cite a fonte. Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.


Referências:
HAM, Ken. “Criacionismo: verdade ou  mito?”. Editora CPAD, 2013.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

No princípio criou Deus... Com intervalo ou sem? [Parte 1 de 2]




A Terra terá mesmo bilhões de anos? Houve um mundo pré-adâmico que fora destruído por um cataclismo tão intenso que deixou a Terra sem forma e vazia? Conheça a Teoria do Intervalo e a crença de dias não literais e comuns na narrativa de Gênesis 1.



Gênesis 1.1-2
1 No princípio, criou Deus os céus e a terra.
2 E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.



Gênesis é um dos meus livros da Bíblia preferidos, sem esse precioso escrito, não poderíamos responder a perguntas básicas: Quem nós somos? Quem nos criou e por que viemos à vida? Quais os planos desse Criador para conosco?

 Moisés, utilizando-se de três formas de recuperação histórica (tradição oral, documentos preservados e a inspiração do Espírito Santo) recebeu a incumbência de Deus de registrar o princípio de tudo: a origem dos céus e da Terra, do homem, do pecado, do juízo, do plano de redenção, do povo de Israel (Êx 17.14; 34.27; Dt 31.9). O nome do próprio livro já nos fornece forte indício de seu objetivo, em hebraico bereshit, que significa “Princípio”. O nome Gênesis deriva da forma grega utilizada na primeira vez na Septuaginta.

Hoje em dia, há uma controvérsia muito grande quanto à idade da Terra em decorrência de “fatos científicos” que apresentam bilhões de anos em escala evolutiva, gradual e lenta. Até o século XVIII poucos ousavam interpretar o texto de Gênesis diferentemente do que indica o próprio texto, contudo diante das descobertas científicas muitos teólogos e estudiosos começaram a modificar a interpretação do texto com o objetivo de adequar-se às novas realidades. Argumentos de dias da Criação não serem dias literais e comuns (24 horas) e a Teoria do Intervalo, Ruína e Reconstrução começaram a ter cada vez mais espaço no meio evangélico. Cabe destacar aqui, que a maioria dos pais da Igreja, principalmente até o século IV d.C entendiam que os seis dias da Criação eram dias literais e não meramente alegóricos.

A chamada Teoria do Intervalo consiste em acreditar que entre os versículos 1 e 2 do primeiro capítulo de Gênesis houve um período de tempo longo e desconhecido em que houve um mundo pré-adâmico habitado e perfeito, governado pelo próprio Lúcifer, enquanto ainda gozava dos privilégios angelicais e, anteriormente a sua queda. Ensinam que esse mundo fora destruído por Deus em decorrência da rebelião liderada por Lúcifer, que foi o responsável pelo juízo divino vindo sob sua Criação perfeita em forma de um dilúvio global e devastador, o que explicaria o fato da terra ser apresentada no versículo 2 como sendo “sem forma e vazia” e que “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Uma das maiores referências a essa Teoria é o pastor Finis Jennings Dake, que assim descreve o chamado por ele de Dilúvio de Lúcifer:

Esse dilúvio foi mais devastador e durou muito mais tempo do que o dilúvio de Noé, pois destruiu também a vegetação (Gn 2.5,6; Jr 4.23-26), enquanto um ano e 17 dias do dilúvio de Noé não o fizeram (Gn 8.11,22; 9.3). Não existe conflito entre a ciência e a Bíblia. Entretanto, descobertas científicas reais devem ser distinguidas de meras teorias. A ciência, em especial, a geologia, ainda está na infância e o testemunho das rochas não é confiável. As afirmativas verdadeiras da Palavra de Deus também devem ser distinguidas da interpretação que o homem faz delas. Quando os homens finalmente concordarem sobre a idade da Terra, então coloque os muitos anos (acima dos históricos 6.000) entre Gn 1.1 e 1.2, e não haverá nenhum conflito entre o livro de Gênesis e a ciência (Dake, 2012).

Ora, vocês podem perguntar: que diferença faz se os dias de Gênesis foram dias literais ou não, se houve um período longo e desconhecido entre os dois primeiros versículos ou que mal há em tentar conciliar a narrativa de Gênesis às novas descobertas da ciência? O problema encontra-se no princípio basilar de interpretação bíblica: ela é infalível, inerrante e interpreta a si mesmo. É algo muito preocupante quando se começa a utilizar fontes externas à própria Bíblia para interpretá-la. Quando eu digo, que diante dos avanços científicos, o livro de Gênesis pode ser reinterpretado a fim de equalizar-se a esses avanços, estou dizendo que a sua interpretação pode variar muitas vezes, conforme a necessidade e conveniência. E isso abre precedentes para que o mesmo ocorra com outros trechos das Sagradas Escrituras, além de que isso prejudica a imagem da Palavra de Deus que deixa de ser completa, suficiente e verdadeiramente fiel. Colocamos sua credibilidade em jogo. Não é à toa que em muitos países a Bíblia já não é tida como um livro de ensino fundamental e, consequentemente, a cada dia que se passa vê-se as gerações mais afastadas de Deus. Quando houver uma divergência entre ciência e a Bíblia, a filosofia e a Bíblia, a política e a Bíblia, nunca hesite em escolher a Palavra de Deus sempre. Quem a inspirou é o Criador de tudo. Glória a Deus!


Para ler a parte 2 deste artigo, clique aqui.


Sobre o autor:
Gleydson Salviano é casado com Ana Karolina, formado em Administração e com MBA em Gestão de Negócios, Controladoria e Finanças, é Superintendente e Professor de EBD na Assembléia de Deus de Brasília em Samambaia/DF pastoreada pelo Pr. Erasmo Araújo Pinto. Escreve quinzenalmente neste Blog sobre o tema: "Profetas Menores".


Permissões:
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e cite a fonte. Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.


Referência:
DAKE, Finis Jennings. “Bíblia de Estudo Dake”. Editora Atos, 2012.


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Escatologia, o estudo das últimas coisas [parte 3/3]




Por Davi Faria de Caires*


Quando se dará a volta de Cristo? A humanidade sempre se preocupou com o fim dos tempos?


Em toda história da Igreja, desde o primeiro século, os seres humanos se preocupam com o fim dos tempos. Por conta disso, surgem muitos falsos profetas, fazendo tentativas de previsões acerca de como será o fim do mundo. Nostradamus, um astrólogo francês nascido em 1481, fez uma série de previsões sobre o futuro. Em suas profecias, consta que o Juízo Final dar-se-á no ano 3.797. Algumas de suas profecias de fato se cumpriram, por obra do acaso e certamente também por influência maligna. Mas inúmeras de suas profecias não se concretizaram, provando que é um falso profeta.
No princípio do século dezenove houve um despertamento de interesse pela Segunda vinda de Cristo entre os cristãos.  Guilherme Miller era um pastor batista, e no ano de 1818 dedicou-se ao estudo detalhado das escrituras proféticas. Convenceu-se de que Daniel 8.14 se referia à vinda de Cristo para "purificar o santuário". Calculando que cada um dos 2.300 dias representava um ano, tomou como ponto de partida a carta de regresso de Esdras e seus compatriotas a Jerusalém e 457 a.C., e chegou à conclusão de que Cristo voltaria à terra em 21 de Março de 1843. Chegou o dia e o evento esperado não aconteceu. Miller revisou os seus cálculos, descobriu um erro de um ano. Devia ser no dia 21 de março de 1844. Ao chegar essa data, nada aconteceu. Uma vez mais um novo cálculo indicou que seria o dia 22 de outubro de mesmo ano. Porém essa previsão também falou. Depois deste fracasso, Miller se arrependeu publicamente, se retratando por suas falsas previsões. Porém os discípulos de Miller fundaram a Igreja Adventista do Sétimo dia, sendo a principal expoente Ellen G. White.
Outras predições falidas foram feitas por Charles Taze Russell, fundador de um grupo de estudos que posteriormente deu origem ao que hoje é conhecido como as Testemunhas de Jeová. No ano 1870, Russel fez uma série de predições sobre o arrebatamento. Indicou os anos 1881, 1910 e 1914 como a data do arrebatamento dos santos. Porém todas essas datas se passaram, e a suas profecias não se cumpriram.


Aguardando pela segunda vinda de Cristo

Uma das peculiaridades da nossa santa religião é esperar pela segunda vinda de Cristo: “E esperar dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (1 Tessalonicenses 1.10).  Aqueles que crêem que Ele virá esperam que virá para a nossa alegria. Os crentes debaixo do Antigo Testamento esperavam pela vinda do Messias, e os crentes agora esperam pela sua segunda vinda. Ele está para chegar. E há um bom motivo para crer que Ele virá, porque Deus o ressuscitou dos mortos. Essa é uma garantia para todas as pessoas de que Ele virá para o julgamento (At 17.31). E há um bom motivo para esperar por essa vinda, porque Ele nos libertou da ira vindoura. Ele veio para obter a salvação, e a trará consigo quando voltar, uma libertação plena e final do pecado, e da morte, e do inferno, dessa ira vindoura que virá sobre os incrédulos. Quando essa ira chegar, ela continuará, porque é um fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos (Mt 25.41) (Henry, 2008). 


Advertências e exortações finais

A bíblia fornece advertências sobre as coisas do porvir. O apóstolo Paulo adverte-nos: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias virão tempos angustiantes.” (2 Timóteo 3.1). Com esta antecipação, o apóstolo pretendia aumentar ainda mais a diligência de Timóteo. Quando as coisas caminham como queremos, a tendência é nos tornarmos mais displicentes; a necessidade dos últimos tempos, porém, nos põe em alerta. Assim Paulo adverte a Timóteo, dizendo que a Igreja estará sujeita a terríveis enfermidades e tribulações que demandarão de seus pastores incomum fidelidade, diligência, prudência, sabedoria e incansável constância (Calvino, 2009). Quanto mais se aproxima a segunda vinda de Cristo, a Igreja tem de lidar com os ímpios e os perversos, tal como fizeram os profetas e sacerdotes piedosos de outrora.



Leia aqui a parte 1/3
Leia aqui a parte 2/3



Obras consultadas:
CALVINO, João. "Pastorais. Série comentários bíblicos". São José dos Campos: Fiel, 2009.
CHAMPLIN, Russel Norman. "O novo testamento interpretado versículo por versículo". São Paulo: Candeia, 1982
EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood e CHILDERS, Charles L. "Comentário Bíblico Beacon - Vol. 6". Rio de Janeiro: CPAD, 2006
HENRY, Matthew. "Comentário bíblico Novo Testamento. Atos a Apocalipse". Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
PATE, C. Marvin. “As interpretações do apocalipse”. São Paulo: Vida, 2002
PENTECOST, J. Dwight. “Manual de escatologia”. São Paulo: Vida, 2006.
GILBERTO, Antônio. Daniel e Apocalipse: o panorama do futuro”. EETAD, 2007.
RENOVATO, Elinaldo. “O final de todas as coisas”. Rio de Janeiro: CPAD, 2015
RENOVATO, Elinaldo. “Revista Lições Bíblicas - 1º trimestre de 2016”. Rio de Janeiro: CPAD, 2016


Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Escatologia, o estudo das últimas coisas [parte 2/3]




Por Davi Faria de Caires*


Quais os temas estudados pela escatologia? Quais as principais interpretações escatológicas a respeito do fim?


            Este artigo visa apresentar as diferentes escolas de interpretação do apocalipse, com desdobramentos em relação à posição do milênio e da grande tribulação. Ao final, apresento uma sequência cronológica dos fatos do porvir a partir da visão dispensacionalista, futurista, pré-milenista e pré-tribulacionista.


As quatro linhas de interpretação do Apocalipse
Existem quatro linhas de interpretação do apocalipse:  Preterista, Historicista, Futurista e Simbolista (Pate, 2002).
A interpretação Preterista (passado), entende que os acontecimentos do Apocalipse em grande parte foram cumpridos nos primeiros séculos da era cristã, tanto na década de 70dC, na queda de Jerusalém, tanto na queda de Roma, no século V. Essa visão regride a data do livro para a década de 50-60, contrariando a data predominante (94-96dC).
A escola Historicista encara os eventos do Apocalipse como um desdobramento no curso da história. Essa perspectiva era especialmente compatível com o pensamento dos reformadores protestantes que compararam o sistema papal de sua época com o anti-cristo.
A sinopse Futurista discute que os eventos do Apocalipse, em grande parte, não foram cumpridos, assegurando que os capítulos 4 – 22 esperam o fim dos tempos para a sua realização. Essa escola é a mais bíblica, e segue uma interpretação literal das Escrituras. Ao final deste artigo, apresento uma cronologia dos fatos escatológicos a partir da visão futurista.
O ponto de vista Simbolista, idealista ou espiritualista, por meios de contraste em relação às três escolas anteriores, é reticente em identificar historicamente o simbolismo do Apocalipse. Para essa escola de pensamento, o Apocalipse relata verdades infinitas relativas à batalha entre o bem e mal que continuam ao longo da era da igreja.


Posições em relação ao milênio
            Em relação ao milênio, existem três escolas de interpretação: pré-milenistas, amilenistas e pós-milenistas.
O Pré-Milenismo crê que a igreja de Jesus não passará pela grande tribulação, pois seremos arrebatados antes dela. Crê no milênio literal e utiliza-se da visão futurista do apocalipse. Esta linha de interpretação é a que mais está de acordo com a bíblia. Ao final deste artigo, apresento uma cronologia dos fatos do porvir, a partir desta visão.
O amilenismo defende a tese de que não haverá um milênio literal no futuro. Acredita que o milênio já começou com a ascensão de Jesus Cristo, ou seja, o milênio seria um tempo indeterminado entre a ressurreição de Cristo e sua segunda vinda. Defende ainda que o reinado de Cristo ocorre somente no coração das pessoas. Crê ainda que a igreja passará pela tribulação que virá sobre todo mundo.
O pós-milenismo  crê que o mundo que agora existe dará lugar ao Evangelho de Jesus. Em outras palavras, a cada dia que se passar as pessoas aceitarão a Jesus como Senhor e reconhecerão sua soberania, portanto, essa visão crê que o mundo irá tornar-se cada vez mais pacífico com o passar do tempo. Com as duas grandes guerras mundial que aconteceram, muitos abandonaram esta linha de pensamento.


Posições em relação à grande tribulação
Em relação à grande tribulação, existem também três linhas de interpretação: Pré-Tribulacionismo, Meso-Tribulacionismo e Pós-Tribulacionismo. Tendo em vista que o escopo deste artigo é apenas introdutório e panorâmico, não pretende abordar esse tópico em minúcias. Apenas dizer sucintamente que, o Pré-Tribulacionismo entende que a igreja será arrebatada antes da grande tribulação, o Meso-Tribulacionismo, por sua vez, entende que a igreja será arrebatada durante a grande tribulação e o Pós-Tribulacionismo entende que a igreja será arrebatada após a grande tribulação. Portanto, esta última linha prega que a igreja sofrerá as agruras deste período de dor e trevas.


Conclusão
Considerando todas essas linhas de interpretação apresentadas neste artigo, faz-se necessário um posicionamento e defesa em uma linha de interpretação que utilize o método de interpretação literal das Escrituras. O pré-milenismo, que é a visão do autor deste artigo, parte de uma interpretação literal das Escrituras. O método de interpretação histórico-gramatical é mais seguro que o método alegórico (Pentecost, 2006), donde surgem outras linhas de interpretação, tal como o amilenismo.
Segue abaixo uma cronologia de quinze fatos do porvir (Gilberto, 2008) em ordem cronológica, segundo a visão dispensacionalista, futurista, pré-milenista e pré-tribulacionista.


Quinze fatos escatológicos em ordem cronológica

1.    Rapto da Igreja (1 Ts 15.51);
2.    Julgamento da Igreja no Tribunal de Cristo, para galardão (2 Co 5.10);
3.    As bodas do Cordeiro (Ap 19.7-9);
4.    Retirada do ES como restritor do pecado (2 Ts 2.3-10);
5.    Surgimento do Anticristo (Ap 13.1,2);
6.    Surgimento do Falso Profeta (Ap 13.11-16);
7.    Os sete selos (Ap 6);
8.    As duas testemunhas (Ap 11.3-12);
9.    Salvação de 144 mil judeus em Israel (Ap 7.4);
10.  As sete trombetas (Ap 8);
11.  As sete taças (Ap 15 - 16);
12.  Aprisionamento de Satanás (Ap 20.1-3);
13.  O milênio (Ap 20.4-6);
14.  O juízo final (Ap 20.11-15);
15.  Novos céus e nova terra (Ap 12 - 22).

Toda interpretação humana, por melhor que possa parecer, é falível. Somente a Escritura é infalível. Uma ortodoxia que não admite que existam outras ortodoxias válidas se torna sectária. Portanto, apesar de grandes diferenças entre as linhas de interpretação escatológicas, há um ponto central do cristianismo que as une. O ponto em comum que existe entre todas essa linhas de interpretação é que Jesus Voltará para buscar sua noiva.


Leia aqui a parte 1/3

Leia aqui a parte 3/3



Referências consultadas
CALVINO, João. "Pastorais. Série comentários bíblicos". São José dos Campos: Fiel, 2009.

CHAMPLIN, Russel Norman. "O novo testamento interpretado versículo por versículo". São Paulo: Candeia, 1982

EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood e CHILDERS, Charles L. "Comentário Bíblico Beacon - Vol. 6". Rio de Janeiro: CPAD, 2006

HENRY, Matthew. "Comentário bíblico Novo Testamento. Atos a Apocalipse". Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

PATE, C. Marvin. “As interpretações do apocalipse”. São Paulo: Vida, 2002

PENTECOST, J. Dwight. “Manual de escatologia”. São Paulo: Vida, 2006.

GILBERTO, Antônio. Daniel e Apocalipse: o panorama do futuro”. EETAD, 2008.

RENOVATO, Elinaldo. “O final de todas as coisas”. Rio de Janeiro: CPAD, 2015

RENOVATO, Elinaldo. “Revista Lições Bíblicas - 1º trimestre de 2016”. Rio de Janeiro: CPAD, 2016



Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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domingo, 27 de dezembro de 2015

Escatologia, o estudo das últimas coisas [parte 1/3]



Por Davi Faria de Caires*


Descrição
O que é escatologia? Quais são os sinais do fim dos tempos?


Introdução
A escatologia é o ponto culminante na teologia bíblica. É o desfecho para onde apontam todas as coisas. É de longe, o assunto predominante na bíblia. Cerca de vinte e cinco por cento das Escrituras são proféticas (Pentecost, 2006). Ou seja, vinte e cinco por cento dos textos prediziam fatos futuros, na época em que foram escritos. Dada a relevância deste assunto, faz-se necessário ao cristão estudar em pormenores o que diz a Palavra de Deus sobre tão nobre assunto, tendo em vista que este assunto traz o coração dos crentes a esperança de um dia estarem para sempre com o Senhor Jesus Cristo.

O que é escatologia?
            Escatologia é o estudo sistemático das coisas que acontecerão nos últimos dias. A palavra escatologia tem origem em dois termos gregos: “eschatos” e “logos”. Eschatos = último. Logos = estudo, mensagem, palavra. O termo grego cognato é éschata, que significa últimas coisas. Portanto, escatologia é a doutrina das últimas coisas (Renovato, 2015).
            Quando pensamos em escatologia, o primeiro livro que nos vêm à mente é Apocalipse. De fato, este é o principal livro escatológico. Porém não é o único. A bíblia toda contém elementos que formam a doutrina das coisas do porvir, principalmente os livros de Daniel, Isaías, Malaquias, Mateus, 1 e 2 Tessalonicenses e Apocalipse.  Portanto, vamos analisar algumas passagens que nos trazem um panorama geral da escatologia. Neste artigo, abordaremos Mateus. No terceiro artigo desta série, abordaremos Tessalonicenses e Timóteo.

O final dos tempos e os sinais do fim
O capítulo 24 de Mateus refere-se à queda de Jerusalém em 70 d.C, e também diz respeito a eventos futuros dos finais dos tempos. Este sermão do capítulo 24 de Mateus é o único discurso longo registrado nos três Evangelhos Sinóticos, e encontra-se em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 (Earle, 2006). Para efeito deste estudo, vamos focar os versículos 4 a 14 deste capítulo:

Mateus 24
4.E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane;
5.Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.
6.E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.
7.Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
8.Mas todas estas coisas são o princípio de dores.
9.Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vosão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
10.Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarào.
11.E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
12.E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.
13.Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.
14.E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. (Versão ACF)

Em Mateus 24.4-14 são dados nada menos que dez sinais do fim dos tempos. Os problemas enumerados aqui serão característicos do final dos tempos, a última dispensação antes da segunda volta de Cristo, com acentuado aumento na grande tribulação, antecedendo o reino milenial de Jesus Cristo.
O primeiro sinal é o surgimento dos falsos messias (5): muitos virão, dizendo: Eu sou o Cristo (isto é, “o Messias”). Já no primeiro século, apareceram 3 falsos messias, registrados em Atos: Teudas (5.36), Judas da Galiléia (5.37) e o egípcio (21.28). Este último, egípcio, levou 30 mil pessoas ao deserto, prometendo-lhes libertação do jugo romano e muitos sinais. A maioria dessas 30 mil pessoas que o acompanharam foram mortas pelo procurador Félix (Champlin, 1982), evidenciando assim que aquele messias era falso. Nos dias atuais, muitos também aparecem se dizendo o Cristo.
O segundo sinal é a informação de guerras e de rumores de guerras (6). Praticamente todas as gerações têm sofrido este mal. Porém isso vai piorar ainda mais durante o período mais próximo do final dos tempos. O termo fim refere-se ao da presente dispensação antes da segunda vinda de Cristo.  
O terceiro sinal é fomes, o quarto é pestes - estes dois caminham, freqüentemente, juntos - e o quinto é terremotos (7). Todas essas coisas, disse Jesus, são o princípio das dores (8). O termo ‘princípio das dores’ refere-se a dores de parto, conforme 1 Tessalonicenses 5.3: “Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão”.
O sexto sinal é a perseguição. Os seguidores de Cristo serão entregues para serem atormentados (9, 10) e atribulados. O sétimo sinal, intimamente relacionado, é que muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão (10). O oitavo sinal é o surgimento de falsos profetas, que enganarão a muitos (11). Não se pode deixar de mencionar a multiplicidade de falsas seitas nos últimos anos.
O nono sinal (somente no texto de Mateus) é a falta de amor: por se multiplicar a iniqüidade (literalmente “ilegalidade”), o amor de muitos se esfriará (12). O amor que aparece neste texto é o “ágape”.  A palavra traduzida por amor, na bíblia possui quatro formas diferentes: Fileo (amizade), Storge (esposo/esposa; família), Eros (sexual) e Ágape (incondicional, amor de Deus). Todos os seres humanos possuem, por natureza, os três tipos de amor mencionados (“eros”, “fileo” e “storge”), entretanto, o amor “ágape” só se adquire quando se nasce de novo.
O décimo sinal é a evangelização do mundo (14). Uma vez que, provavelmente, todas as gentes, no sentido geral da expressão, ouviram o Evangelho pelo menos em parte - e os meios de comunicação estão acelerando esse processo nos dias atuais - parece que ninguém poderia negar a possibilidade de que este sinal já tenha sido totalmente cumprido. O fim dos tempos pode chegar a qualquer momento.




Clique aqui para ler a parte 2/3



Obras consultadas
CALVINO, João. "Pastorais. Série comentários bíblicos". São José dos Campos: Fiel, 2009.
CHAMPLIN, Russel Norman. "O novo testamento interpretado versículo por versículo". São Paulo: Candeia, 1982
EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood e CHILDERS, Charles L. "Comentário Bíblico Beacon - Vol. 6". Rio de Janeiro: CPAD, 2006
HENRY, Matthew. "Comentário bíblico Novo Testamento. Atos a Apocalipse". Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
PATE, C. Marvin. “As interpretações do apocalipse”. São Paulo: Vida, 2002
PENTECOST, J. Dwight. “Manual de escatologia”. São Paulo: Vida, 2006.
GILBERTO, Antônio. Daniel e Apocalipse: o panorama do futuro”. EETAD, 2007.
RENOVATO, Elinaldo. “O final de todas as coisas”. Rio de Janeiro: CPAD, 2015
RENOVATO, Elinaldo. “Revista Lições Bíblicas - 1º trimestre de 2016”. Rio de Janeiro: CPAD, 2016


Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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