segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 4]




Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 4]

Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de EstudosTeologia com Propósito”.

         Veja abaixo a posição de cada teólogo neste tema:

Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando, portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Confira abaixo o desenvolvimento da quarta parte deste debate, onde os debatedores participam respondendo as perguntas enviadas por membros do grupo que estiveram acompanhando o debate ao vivo.
Para ler a terceira parte deste debate, clique aqui.



Pergunta enviada por Adriano Borges
Renato, a Bíblia estabelece alguns parâmetros para o cristão usar o dom de línguas (glossolalia), podemos ver o modo correto de usar em 1 Coríntios 14.27: E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. [ACF]

1- No caso de alguém falar em línguas;
2- Que não seja mais que 2 pessoas;
3- No máximo 3 pessoas;
4- E que seja sucessivo (um após o outro);
5- Que haja no local alguém que interprete.

O versículo 28 diz que, se não tiver um intérprete, então o falante deve ficar calado, falando apenas em pensamento com Deus. Então, a minha pergunta é: porque alguns líderes incentivam os membros da igreja a falarem em línguas, usando frases tais como: “quem é batizado com Espírito Santo é livre para dar uma rajada de línguas”, depois dessas palavras geralmente os membros começam a falar. Por que não é seguido o modelo bíblico para que os fieis possam falar em línguas?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel
Adriano, essa pergunta deveria ser feita exatamente a essa pessoa em questão que incentiva desta maneira, porém, existe um contexto que pode elucidar um pouco. Na igreja de Corinto, não havia microfone, nem caixa de som. Não tinha um dirigente dando oportunidades para as pessoas, portanto, eles se uniam e juntos adoravam e cada um na sua vez, se expressava como podia ou sentia. Como o próprio Paulo disse. "Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro." (vs 30) Era cada um de cada vez! E inclusive a profecia também foi regulada no vs 29... Mas o falar em línguas durante o culto, não era proibido, pelo contrário: "não proibais o falar em outras línguas." (vs. 39) Era somente aconselhado que falasse entre eles mesmos e Deus (28) para não atrapalhar o andamento do culto e a edificação dos irmãos. Hoje em dia, se alguém desse oportunidade para alguém falar em línguas, cairia no mesmo erro dos Corintos, mas acredito que ninguém faça isso... Ou faz? Se você já recebeu uma oportunidade para falar em línguas, me diga depois. Portanto, falar em línguas na igreja não tem nada demais.


Pergunta enviada por Diego Fernandes - Diadema-SP
Luís, como poderei ser edificado falando um idioma humano (árabe, por exemplo)? Em 1 Coríntios 14.4 diz: “O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”

Resposta de Luís Roberto de Souza:
Primeiro eu preciso argumentar que todo dom Divino causa a edificação. Edifica o corpo (igreja) e edifica a pessoa, como expresso em Efésios 4 e 1 Coríntios 12, os dons são de aplicação coletiva e nunca individual. Logo não se pode dizer que para ser edificado eu preciso falar em línguas. Segundo é que quando Paulo diz que há edificação no ato de falar em línguas eu quero lembrar que se trata de um dom Divino que mesmo sem que haja entendimento o espírito humano é fortalecido e alegrado inevitavelmente.
Agora quero atentar para o fato de que em todo os capítulos 12,13 e 14 de I Coríntios, o tom da conversa de Paulo é um chamado ao entendimento de cunho espiritual e intelectual; é um chamado para  a ação da palavra salvando e edificando. A ideia de que só sou edificado porque falo em línguas não é bíblica. Eu também sou edificado falando em línguas, mas o entendimento é a tônica do dom. Portanto não importa o idioma ou o dom. Todos edificam a pessoa. Paulo desafia os cristãos de Corinto a usarem tal dom para edificar de modo coletivo.


Pergunta enviada por Davi Faria de Caires (Campinas-SP):

Renato,
De acordo com pentecostalismo clássico, o batismo pelo Espírito Santo ocorre na conversão com todo crente, tal como também defendem os cristãos tradicionais. Já o batismo no/com o Espírito Santo é uma capacitação para obra missionária e evangelística, evidenciada pelo falar noutras línguas. Considerando como verdadeiro que o Batismo com o Espírito Santo seja evidenciado por falar noutras línguas [glossolalia], pergunto:

1. Porque muitos cristãos não são batizados com o Espírito Santo?

2. Deus em sua soberania é uma explicação?

3. Se sim, então por que devo buscar o Batismo no Espírito Santo se o recebimento depende da vontade soberana de Deus?


Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
Bem Davi, como você sabe (imagino eu), eu não defendo o pentecostalismo clássico, nesse tema eu sou carismático! Isso significa que não vejo o falar em línguas como um batismo com o ES, mas como um dom qualquer, como todos os outros.


Pergunta enviada por Mateus A. Maciel

Luís,

De acordo com a xenoglossia o falar em línguas seriam idiomas antigos e já existentes ou são dialetos humanos não conhecidos?


Resposta de Luís Roberto de Souza:
Essa pergunta tem uma resposta não muito clara. Mas no Evangelho de Marcos, Jesus Cristo promete as novas línguas. E lá ele usa o termo kainós glossa, que significa uma língua nova em qualidade mas não em idade ou criação. Por isso eu concluo que se tratam de qualquer idioma onde o evangelho foi ou será pregado como passível de ser falado por meio da xenoglossia.


Pergunta enviada por Diego Fernandes - Diadema-SP:

Renato,
         Embora o grego fosse mais conhecido, sabemos que o grego koine era uma espécie de inglês dos nossos dias. Mesmo assim você não acha que havia a necessidade de uma capacitação divina aos emissários com relação ao idioma?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
Na verdade, o Grego tinha uma amplitude MUITO maior do que o inglês dos nossos dias... O general de Alexandre impôs Idioma ao povo de modo que até a bíblia teve que ser traduzida para a "LXX" [septuaginta]. E em nenhum lugar onde o povo Judeu foi pregar, houve menção ao auxilio desse dom de idioma. Portanto acredito que não havia, como não houve a necessidade desse dom de "tradução simultânea" na pregação do evangelho primitivo.


Pergunta enviada por Diego Fernandes - Diadema-SP:
Luís,
Por que motivo vou orar/falar com Deus em outro idioma humano? Veja 1 Coríntios 14.2 “Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios”

Resposta de Luís Roberto de Souza:
Justamente era esse o questionamento de Paulo, falar a Deus quando se deveria falar aos irmãos ou incrédulos. Não há referência clara sobre que se deve orar em línguas como um modo perfeito ou mais profícuo de oração. O homem não sabe orar de modo algum, é o Espírito Santo quem o ajuda. Orar em línguas não é ordem apostólica para todos, pois bem sabemos que nem todos poderão ter tal dom. Orar em línguas era um costume sem fundamentação bíblica presente apenas em Corinto por eles extrapolarem no uso do dom. Portanto o orar em línguas não é uma norma universal. A Bíblia não ensina isso.


Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Luís e Renato,
Em sentido prático, como alguém se auto-edifica emitindo sons vocais inéditos ou costumeiramente repetitivos, sem significado e significante para um terceiro que ouve, e que não têm nenhum significado cognoscível para a própria pessoa que fala?

Resposta de Luís Roberto de Souza:
Erroneamente foi criada nos círculos pentecostais essa ideia. Não questiono a sinceridade da pessoa, mas há equívocos sinceros. Na prática não creio haver edificação; somente euforia.

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
A parte de "costumeiramente repetitivos" não está na bíblia. Como eu disse a principio, me basearei somente na hermenêutica e exegese bíblica e não em empirismos. Cleuberth, como alguém se edifica orando (pergunta retórica)? Sendo que a pessoa não obtém resposta, mas fica falando "sozinha"? Você não está edificando a sua mente, mas o seu espírito! Pois ele está falando, orando ou louvando a Deus numa língua espiritual que só o seu espírito e o de Deus conseguem entender! O espírito que fala, o espírito é edificado! Não queira entender teologia apenas com racionalismo humano. O racionalismo é um ferramenta sempre refém da hermenêutica e não o contrário!



Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Renato,

Em português, o texto grego de Daniel 3.4 é traduzido assim: "Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas". No texto grego da Septuagina, a expressão que equivale a "línguas" aparece assim: γλωσσαι. Na tradução portuguesa do Apocalipse 14.6, está escrito assim: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo". No texto grego do NT, a expressão que equivale a "língua" aparece assim: γλωσσαν. Esses textos apontam para os idiomas dos diversos povos contemplados nas proclamações descritas pelos escritores, ou falam dos membros que esses povos carregam na boca?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
Cleuberth, eu não sei onde eu tenho falhado em explicar algo tão simples! A palavra "glossa" é literalmente "língua", um membro inferior que fica na boca. Porém, as palavras podem ser usadas de forma figurada, exemplos:

"Qual língua vc fala" <-- Nesse caso, língua esta sendo usada de forma figurada para se referir a um idioma!

"O garoto me mostrou a língua" <-- Nesse caso, ela está sendo usada no seu sentido literal!

Mas como eu disse, usando no sentido figurado, as palavras podem significar quase qualquer coisa. Exemplos:

"Fulana tem a língua grande" <-- Isso quer dizer que fulana é linguaruda e etc...

Mas a palavra se refere ao membro do corpo em todas as vezes. No caso de ser usada no sentido figurado, é necessário ter o contexto. No caso do grego em particular, a palavra que vem antes ou depois pode definir o sentido da palavra. Portanto, repito: Glossa quer dizer, literalmente, LÍNGUA!


Pergunta enviada por Antônio Caires de Campinas/SP

Renato,

Alguns teólogos da vanguarda pentecostal afirmam categoricamente que o dom de línguas é a porta do entrada para os demais dons espirituais, de modo que sem o dom de línguas é impossível exercer outros dons. Qual a base bíblica para tal afirmação?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:

Não existe base bíblica para isso a meu ver! Nem todos falaram em línguas. Cada um tem uma função no corpo e se todo o corpo fosse boca, não seria boca. Como Paulo diz no decorrer do Capítulo 12 de 1 Coríntios.


Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Renato,
Não seria coerente uma tradução livre do verso "2",  assim:

"Quem fala em línguas estrangeiras durante a reunião cúltica de vocês, ó Corintos, não está se comunicando com nenhum dos irmãos aí reunidos, haja vista que ninguém consegue entendê-lo. Nem mesmo o que fala está entendendo o que diz. Assim, somente Deus consegue entendê-lo"?


Resposta de Renato Oliveira Pimentel:

Não Cleuberth, a palavra de Deus deve ser traduzida com o máximo de fidelidade ao texto, sem tentar interpretações do texto. Uma vez traduzida, devemos ir para o campo do debate testar nossas interpretações. E seria "Ó Coríntios".


Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Renato,

Parte do texto de Atos 2, diz:

"6  Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7  Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? 8  E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9  Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10  da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11  tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?"


Ao ouvirem aquela "voz" (phone = som emitido, mesma expressão usada por Paulo em Coríntios), ficaram perplexos pois ouviam falar, cada um, em suas próprias línguas (dialecktos) materna (v. 8), o que equivale a dizer que os ouviram falar em suas próprias línguas (glossas) v.11. Como glossa (v. 11 - nossas próprias línguas) usado aí no mesmo sentido prático de dialecktos (v. 8 - nossa própria língua materna) não faz referência aos respectivos idiomas daqueles indivíduos?


Resposta de Renato Oliveira Pimentel:

Quem disse que não faz? Como eu já disse, expliquei e tornei a explicar, glossa pode ser usado de forma figurada para se referir a idioma, mas significa literalmente língua. Mas a sua questão não reside nisso! O que eu já falei é que o texto diz que ou ouvintes "Escutaram" em seus próprios idiomas e não que os Discípulos falaram nesses tais idiomas.



Sobre os debatedores:
Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.



Se você gostou deste artigo, está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe os autores e cite a fonte. Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.





segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 3]





Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de EstudosTeologia com Propósito”.

         Veja abaixo a posição de cada teólogo neste tema:

Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando, portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Confira abaixo o desenvolvimento da terceira parte deste debate, onde os debatedores participam respondendo as perguntas enviadas por membros do grupo que estiveram acompanhando o debate ao vivo.

Para ler a segunda parte deste debate, clique aqui.



O que é Glossolalia? – Pergunta enviada por Robson Budib
Renato Oliveira Pimentel: Glossolalia é uma palavra grega que quer dizer "falar/orar em línguas" ou "emitir sons com a língua". Teologicamente falando, é o dom de orar em línguas, dado por Deus para a edificação dos santos.


O que é Xenoglossia? – Pergunta enviada por Robson Budib
Luís Roberto de Souza: Xenoglossia não é um termo bíblico. É uma conclusão lógica sobre as narrativas bíblicas em Atos e 1 Coríntios. Consiste na capacitação especial do Espírito Santo dada a um eleito para falar um idioma humano não estudado previamente. O maior exemplo desta capacitação está relatado por Lucas em Atos 2. E tem sua prática normatizada por Paulo mediante seu uso indevido em Corinto. A palavra em si vem do grego xen(o) diferente glosa língua "Línguas diferentes" ou "Línguas estranhas", como alguns preferem.


Pergunta enviada por Cleuberth Lima (Icatu/MA):
         Renato,

As palavras gregas empregadas no contexto do dom de línguas, são: glossa (Segundo Strong: língua como membro, órgão da fala, língua, idioma, dialeto usado por um grupo particular de pessoas) e dialekto (Segundo Strong: dialeto, fala, língua, língua própria de cada povo). Em Atos 2, está registrado que os crentes falaram em outras glossas (v. 4), mas também está registrado que falaram em outros dialektos (v. 8). Não há dúvidas, pela leitura cuidadosa, que as línguas (glossas/dialektos) faladas ali eram outros idiomas: “E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (Atos 2.8,11). Em 1 Coríntios 14, apesar de não aparecer a palavra grega dialekto, Paulo nos fornece diversas informações que deixam claro que, falar em outras línguas, é o mesmo que falar em outros idiomas, como aconteceu em Atos 2. Ressaltando a importância da interpretação, Paulo está dizendo (vs. 10,11) que há muitos modos de falar NO MUNDO (vejam que ele não está pensando em algo para além do mundo), afirmando que todos têm significado (isto é, são cognoscíveis), e conclui dizendo que, se ele não entende o significado, a situação será semelhante à um estrangeiro que não sabe falar em português tentando entregar uma mensagem para um brasileiro que também não entende o idioma daquele estrangeiro; não haverá comunicação.

Paulo disse que falava em outras línguas mais do que todos os seus destinatários (v. 18); estaria ele querendo dizer que falava mais línguas não humanas do que aqueles crentes? Ele concluiu este argumento dizendo que preferia falar cinco palavras com ponderação a fim de instruir seus ouvintes, do que falar dez mil palavras em outra língua (importante: outra língua - no singular), ou seja, do que falar dez mil palavras em outro idioma qualquer, dentre aqueles tantos que ele sabia falar. Nesta parte, usa-se a expressão grega glossan (língua no singular), assim como em Apocalipse 14:6: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo”. Obviamente, no Apocalipse, glossan (língua) é uma referência aos povos de muitos idiomas espalhados pelo mundo (aos muitos modos de falar).

Falando sobre o propósito do dom de línguas, Paulo cita uma profecia que, claramente, trata de outros idiomas humanos: “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor” (v. 21). É óbvio que Paulo não está afirmando que aqueles homens mencionados na profecia falariam em línguas não humanas. Veja o texto fonte escrito na Lei: “O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás” (Deuteronômio 28:49).

Mas, Paulo não disse que a pessoa que fala em outras línguas está falando em ministério e fala a Deus e não aos homens? Sim, ele disse! Veja: “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.” (v. 2). A interpretação plausível é: A pessoa que está falando em outro idioma e não é capaz de interpretá-lo ― no meio da Igreja onde também não há quem possa interpretar ―, está falando em mistério para todos “visto que ninguém o entende”. Nesse caso, nem a pessoa que fala, nem as pessoas que a ouvem, conseguem entender o que ela está dizendo, exceto Deus. É por isso que Paulo diz que ele “não fala a homens (não está ocorrendo uma comunicação com os demais irmãos ali presentes), senão a Deus”, visto que Deus compreende tudo o que se fala em todo e qualquer idioma.

Renato, diante do acima exposto, pergunto-lhe:

Além do olhar fixo e isolado na parte do verso "1" que diz: "não fala a homens, senão a Deus", que outras razões hermenêuticas você enxerga na passagem completa para defender que o falar em línguas estranhas (estrangeiras) aí não equivale a falar em outros idiomas distintos dos idiomas maternos daqueles que estavam a falar?


Renato Oliveira Pimentel:
A pergunta está baseada em pressupostos falsos que devem ser desmontados. Por isso vou dividir a pergunta e responder por partes:

Parte 1 - “Em Atos 2, está registrado que os crentes falaram em outras glossas”
Na realidade, não é isso que está escrito. Está escrito que eles falaram em "heteros glossa" e esse termo "heteros" pode tanto ser outra, quando tem a definição seguinte: "algo que não é da mesma natureza, forma, classe, tipo, diferente". Então, pode-se traduzir que eles estavam falando língua diferente!

Parte 2 - “mas também está registrado que falaram em outros dialektos (v. 8)”
Na realidade não está! O que está escrito no versículo 8 é que os ouvintes, os "entenderam" ou "ouviam" nos seus próprios "dialektos". Mas em momento algum diz que eles estavam falando nesses dialektos!

Parte 3 - “Paulo está dizendo que há muitos modos de falar NO MUNDO (vejam que ele não está pensando em algo para além do mundo), afirmando que todos têm significado (isto é, são cognoscíveis)”
Ele está fazendo uma comparação, para falar sobre a importância de se entender o que é dito e que quando não pode ser compreendido, o outro não é edificado, mas não se esqueça que ele continua afirmando que nesse caso, aquele que fala, é edificado sim! (vs. 4). Se não servisse para outra coisa que não para ser uma tradução simultânea da pregação, isso não aconteceria. E quando ele usa esse exemplo, em nenhum momento ele está dizendo que o dom de orar em língua é uma língua do mundo! Como você mesmo disse, a palavra dialektos, nem sequer é citada...

Parte 4 – “Paulo disse que falava em outras línguas mais do que todos os seus destinatários (v. 18); estaria ele querendo dizer que falava mais línguas não humanas do que aqueles crentes?”
Eu acredito que quando ele diz que fala "mais" línguas do que os outros irmãos, ele está se referindo ao nível e intensidade do dom que está mais aperfeiçoado nele do que nos outros irmãos... Até porque no vs 19 quando ele continua, ele diz que prefere falar poucas palavra "que ele entenda" dando assim a entender, que as "muitas línguas" que ele falava, não eram idiomas que ele havia aprendido ou que passou a conhecer por uma xenoglossia.

Parte 5 - “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.” (v. 21). É óbvio que Paulo não está afirmando que aqueles homens mencionados na profecia falariam em línguas não humanas. Veja o texto fonte escrito na Lei: “O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás;” (Deuteronômio 28:49).
Se o seu método de interpretação for literal, então você vai ter que discordar de Paulo quanto ao cumprimento dessa profecia, pois ela se cumpriu literalmente no cativeiro quando os povos do Norte que falavam aramaico destruiu o povo de Deus. Existe uma certa ambiguidade que deve ser levada em consideração.

Parte 6 – “Além do olhar fixo e isolado na parte do verso "1" que diz: "não fala a homens, senão a Deus", que outras razões hermenêuticas você enxerga na passagem completa para defender que o falar em línguas estranhas (estrangeiras) aí não equivale a falar em outros idiomas distintos dos idiomas maternos daqueles que estavam a falar?”
O verso não é o 1°, é o 2! Mas não posso ignorá-lo, visto que é tão explícito em dizer do que se trata o assunto. Mas além do fato de ele dizer que "quem fala em línguas não fala aos homens (e não diz: aos homens presentes. Diz que não fala aos homens)" ainda tem alguns outros, como por exemplo, o já citado fato de a bíblia afirmar que quem fala/ora em línguas edifica a si mesmo quando o faz. Ora, se o dom foi dado para a pregação da palavra, sendo assim um dom de "tradução simultânea", porque o fato de pregar sem ter ninguém para ouvir seria edificante?
Outro detalhe que deve ser observado é o conselho de Paulo: "Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus." Porque raio o Espírito Santo, que é uma pessoa inteligente iria inspirar uma pessoa a falar num dom de tradução simultânea sendo que não tinha ninguém para ouvir? E aos que dizem que Paulo está dizendo isso só pra isolar, isso é descrédito a palavra de Deus, a sua inspiração e a sua atualidade!
Entre outros [pontos] que acabaria por tomar muito tempo, mas acredito ter sido satisfatório em minha resposta.



Sobre os debatedores:
Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.


Se você gostou deste artigo, está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe os autores e cite a fonte. Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.





segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 2]




Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de EstudosTeologia com Propósito”.


Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando, portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Para ler a primeira parte deste debate, clique aqui. Este debate foi protagonizado por dois teólogos em formato de perguntas, respostas, réplicas e tréplicas, com o acompanhamento de um moderador em tempo real. As intervenções do moderador não foram transcritas.  Confira abaixo o desenvolvimento da segunda parte deste debate. 


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Onde na Bíblia existe a afirmação de que homens falariam idiomas não humanos?


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
Em lugar nenhum da bíblia, existe a afirmação explícita como você sugere de que "homens falariam idiomas não humanos", como também não há afirmação explícita de que os dons de línguas eram idiomas humanos. Caso houvesse uma das duas afirmações na bíblia, certamente não haveria esta discussão. Porém, texto como o já citado 1 Coríntios 14:2, explicitam o fato de esse idioma não ser humano, pelo simples fato de ninguém o poder entender porque como o próprio texto diz: "Quem fala em línguas não fala aos homens...". Negar isso é negar a bíblia!


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Eu esperava ouvir algo bíblico relacionado aos idiomas não humanos. Sua citação pelo contrário traz um termo usualmente tido como idioma humano e órgão humano. Se você deixa essa informação em harmonia com o contexto realmente não estaríamos debatendo. Vou repetir: glossia significa idioma. Todo idioma não dominado se torna um mistério. Deus conhece todos os idiomas, logo quem fala num idioma num lugar que ninguém entende só fala a Deus.
Sobre sua afirmação de que não existe uma negação de idiomas humanos eu lhe desafio a trazer uma explicação mais detalhada sobre o que te faz pensar que glossia significa idioma não humano, pois isso revolucionaria a teologia cristã. O termo antropos e o relacionado a mistérios (que não me lembro agora) não precisam sair do seu sentido para afirmar que sua citação é referência a idioma humano como expus acima. Só é mistério porque ninguém entende e Deus entende tudo. Por demais os originais não me deixaram mentir.


Renato Oliveira Pimentel:
Glossa, não significa idioma! Significa "Língua" como o órgão do corpo! Glossa pode ser utilizado para se referir a idiomas, somente quando usado no sentido figurado, como nós mesmos também usamos, mas a palavra para idioma no grego é dialektos! Eu penso que o dom de "Orar/Falar em línguas" não é humano, por afirmações como: "O que fala em outra língua a si mesmo se edifica (Porque não interpreta), mas o que profetiza edifica a igreja." (1 Coríntios 14:4). Por exemplo que mostra que o intuito do dom de línguas, é a edificação pessoal de quem está orando em línguas.

- Ele não é entendido por ninguém vs. 2

- Ele edifica somente a si mesmo vs. 3

- O meu espírito ora vs. 14

Para interpretar eu não preciso estudar (como seria o comum no caso de ser um idioma humano) preciso orar para receber a interpretação. Tenho toda a bíblia apontando para isso sem falhas de interpretação como a sua tese tem.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
A bíblia diz que o dom de falar em línguas cessaria? Se sim, quando? Se não, onde elas estão?


Luís Roberto de Souza:

Renato,
Há uma referência nesse sentido em 1 Coríntios 13 "havendo línguas cessarão". Isso para alguns teólogos é ponto de apoio para ligar o dom de línguas como idiomas para a geração apostólica. São os chamados cessacionistas. Eu não creio assim. Eu prefiro entender que as línguas como idiomas são um dom potencialmente contemporâneo não havendo razões claras na Bíblia para negá-lo, como há com relação aos apóstolos como explicados em Efésios 2.20.
Porém em vias práticas pouco se houve falar de manifestações desta natureza (como idiomas humanos). Creio que Paulo se refere a um futuro na eternidade onde não haverá a necessidade da fé nem de línguas mas somente do amor eterno de Deus.


Renato Oliveira Pimentel:
Replico repetindo a pergunta inicial: Se não cessou, onde estão? Não seria ele o dom de orar em línguas? Será que a banalização que acontece hoje em dia com o dom de orar em línguas, não acabou por esfriar a fé e cegar o entendimento para o fato bíblico de que eles ainda se aplicam ao nosso tempo?


Luís Roberto de Souza:
Eu respondi onde estão ao dizer que existem relatos desta manifestação. Outro trecho que evitaria tal pergunta é o de 1 Coríntios 12 onde diz que o falar bem línguas é algo inviável para todos do corpo. Logo, o fato de você ou o não presenciar não implica que não ocorre. Orar em línguas é uma referência restrita ao caso de Corinto que volto a frisar usava o dom corretamente.
As incidências relatadas em atos remetem a conversações (pregação). Paulo, porém não proíbe e daí concluí sobre o que ocorre quando se ora em línguas sem intérprete em 14.2 e adiante dá cabo ao abuso desta prática aí mandar que ficassem calados.
Sobre a banalização do dom foi o que ocorreu em Corinto e o apóstolo sabiamente pediu para que orassem em línguas ou com intérprete ou em silêncio ou que se calassem. Essa normativa foi justamente para não esfriar.
Paulo não proíbe de falar em línguas.


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Seu comentário feito anteriormente diz o seguinte:

“Glossa, não significa idioma! Significa "Língua" como o órgão do corpo! Glossa pode ser utilizado para se referir à idiomas, somente quando usado no sentido figurado, como nós mesmo também usamos, mas a palavra para idioma no grego é dialektos!” (sic).

Eu ainda nem estou engatinhando no idioma grego e percebo que você é versátil neste idioma. Portanto eu queria saber sobre essa palavra dialektos usada em Atos 2. Ela foi usada para falar de um idioma humano ou não humano?  Se foi não humano gostaria de ouvir uma explicação plausível a nível exegético.


Renato Oliveira Pimentel:
A palavra "dialektos" quando usada em Atos 2, é usada para se referir a idiomas humanos!


Luís Roberto de Souza:
         Estou satisfeito [com sua resposta]. Isso prova que existe um dom bíblico que consiste em falar um idioma humano sem ter estudado uma vez que assim como glossia que sempre foi usado para dizer sobre língua humana (até que se prove  tecnicamente e sem conclusões rasas) dialektos tem esta aplicação em Atos 2. Percebo então que o desafio dos carismáticos/pentecostais consiste em provar que o leitor original que sempre lia glossia e entendia "línguas humanas ou orgão humano" quando leu a carta do Apóstolo Paulo entendeu "idioma não humano". O desafio está lançado.


Renato Oliveira Pimentel:
Está satisfeito porque não entendeu. Dialektos era referência a idioma humano, mas em Atos 2 em nenhum momento diz que os discípulos falavam dialektos mas sim que eles falavam ετερος γλωσσα. "heteros" quer dizer "algo/alguém que não é da mesma natureza, forma, classe, tipo, diferente". A bíblia diz que eles (os discípulos) falavam uma língua diferente (que não é da mesma natureza) e que os ouvintes os entendiam em seus próprios dialektos.
Os discípulos falavam ετερος γλωσσα e os ouvintes entendiam em seus próprios dialektos. Em momento algum a bíblia diz que os discípulos falaram em outro idioma! E o termo mais usado na bíblia era Glossolalia, que quer dizer, emitir sons com a língua.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
Se as línguas são idiomas conhecidos, porque então precisamos orar como única alternativa (apresentada pela bíblia) para conquistá-los? Porque não podemos aprender esses idiomas sem precisar orar?


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Voltemos no texto e tentemos usar o mesmo contexto que o leitor original vivia. A carta foi escrita no auge do ministério apostólico entre as viagens de Paulo. Logo o contexto dos idiomas deve ser levado em conta, uma vez que o Espírito Santo encheu os quase cento e vinte para que ativamente falassem outros dialektos. A ordem dos fatos é esse enchimento dos discípulos e não nos outros presentes. Tendo isso em vista e o fato de orar em línguas só ter menção em Corinto, logo se trata de uma das facetas do equívoco que aqueles crentes cometiam com o dom quando ao invés de falar do evangelho ao próximo estavam orando a Deus numa demonstração de superioridade bem característico de alguns hoje. Portanto sua pergunta só foi possível porque mais uma vez se esqueceu de olhar o contexto de Atos e de Coríntios.
A fala em Atos não é cerceada porque cumpre sua função em Corinto, o que era pra falar aos incrédulos estava erroneamente sendo usado para orar. Porém se você quer orar em inglês ou aramaico ou grego ou javanês pode orar. Se ninguém interpretar você irá orar somente a Deus e não falará aos homens, pois falará mistérios.


Renato Oliveira Pimentel:
O dom de línguas fugiu ao contexto indicado por você tanto em Corinto, quanto em Cesaréia e em Éfeso, não só em corinto, e em nenhum desses lugares é cerceada a fala! Nem mesmo em Corinto como você supõe: “Porém se você quer orar em inglês ou aramaico ou grego ou javanês pode orar” (sic). Dizendo isso você parece admitir que o dom tenha a função de levar a orar em línguas. Interessante isso!
Mas falando de contexto de Coríntios... Eles moravam no lugar onde o mundo todo passava. Era um centro comercial! Era um lugar onde provavelmente, se falavam muitos idiomas. Quando Paulo diz que para entender eles tem que orar e pedir, está claro como água que ele não está se referindo a um idioma humano que pode ser aprendido!


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Mais uma conclusão sem sentido baseada unicamente no fato de haver ausência ou contraponto. Isso é mais uma conclusão forçada dos pentecostais/ carismáticos. Primeiro sobre afirmar que em um centro comercial do passado todos eram poliglotas. Isso cai por terra quando Lucas registra a admiração dos incrédulos ao verem que se tratava de galileus e repito adiante em atos tal fato recorre. Seu argumento sobre a cidade poliglota já não existe quando a bíblia é lida com atenção.
Eu usei a palavra "cerceada" de modo errado realmente meu português é fraco o correto seria normatizado ou regulamentado. Portanto uma leitura atenta em coríntios você verá que o conjunto da obra ali é: “deixem de ser meninos”. Você diz: “Quando Paulo diz que para entender eles tem que orar e pedir, está claro como água que ele não está se referindo a um idioma humano que pode ser aprendido" (sic). Isso pelo simples fato de assumir baseado numa ausência de algo que não está sendo tratado. O fato de Paulo incentivar a orar para interpretar é um incentivo a buscar um dom. Não é uma norma dizendo que só se entende idiomas quem recebeu o Dom.


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Você é capaz de provar que o termo glossa é uma palavra grega que pode ser traduzida como idioma não humano? Se sim, justifique sua resposta.


Renato Oliveira Pimentel:
Sim!
A palavra γλωσσα (glossa) não quer dizer idioma, mas quer dizer "língua"! Uma palavra no sentido figurado pode significar qualquer coisa dependendo do contexto, como por exemplo, idioma.
Quando a bíblia usa o termo γλωσσαλαλεω (Glossolalia), usada sempre no contexto de Coríntios, a palavra γλωσσα (glossa) é usada em junção com a palavra λαλεω (laleo), e nesse contexto ela pode estar se referindo ao membro do corpo e não a um idioma, pois, literalmente significa "Emitir som com a língua"! Uma característica bastante peculiar ao dom de orar em línguas.
Sendo assim, essa expressão de sons com a língua pode ser tida como um bárbaro falando, pois não pode ser entendida por ninguém! Mas ainda assim, isso edifica a quem fala. Se fosse um dom de tradução simultânea para a pregação, seria incoerente dizer que quem ora em línguas edifica a si mesmo, tendo ouvintes ou não. Mas a bíblia diz isso!


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Eu percebo a dificuldade e concluir de modo intuitivo deixam de lado a Bíblia. Outro ponto é que laleo tbm é falar segundo [o dicionário] Strong. Veja:

“5) usar palavras a fim de tornar conhecido ou revelar o próprio pensamento. 5a) falar”

Ora quanto aos outros significados, todos são aplicáveis de modo plausível a uma conversa entendida. É lógico que ao falar se emite sons com a língua isso faz parte da anatomia humana. A língua ajuda na emissão de sons.
Sobre seu primeiro ponto, você afirma e não prova de modo técnico de um modo mais aceitável e isso soa mais como uma adaptação dedutiva do que uma prova linguística: “Não quer dizer idioma" (sic). Seria mais sério dizer que nem sempre é idioma podendo ser órgão humano.
Você não respondeu de modo profícuo, restando-me apenas esperar que os leitores façam suas ponderações levando em conta o fato de que você afirma o que obviamente defende; mas não prova.


Renato Oliveira Pimentel:
Eu provei! Se você aceita ou não é outro caso. E sobre Glosso"lalia", eu usei o termo como ele é tido hoje pelos grandes linguistas de todo o mundo (Sem faltar o respeito ao Strong). Sobre a palavra glossa, você se apega ao erro mesmo sabendo que está errado. A palavra glossa quer dizer literalmente língua. Eu já disse e repito, ela só pode ser usada como idioma em sentido figurado, mas em sentido figurado, tudo pode dizer qualquer coisa!
Eu não tive dificuldade alguma, e sim! Recorri à bíblia sim! Quando eu analiso a bíblia exegeticamente, o que mais eu estou fazendo se não recorrendo à bíblia? O termo Glossolalia está lá e o significado desse termo é sabido de todos.  Por outro lado Xenoglossia não existe na bíblia (em todos os sentidos). O que deixa de lado a bíblia é a interpretação de que são idiomas, pois para se crer assim se faz necessário negar todo o capítulo 14 de Coríntios, partindo para o racionalismo humano.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
A bíblia afirma explicitamente em algum momento que o dom de línguas é um dom de idiomas? Se sim, aponte-nos o texto! Se não, como provar que são idiomas e não língua secreta? Só através do racionalismo humano, ou a exegese nos leva a isso?


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Como você mesmo concluiu hoje, nem tudo está explícito na Bíblia pela definição e sim por nuances em que os leitores vão inferindo, respeitando-se regras de interpretação.
Respeitando-se que dialektos e glossa para seu leitor original eram referências a idioma humano a prova bíblica está concretizada. Os textos são os clássicos avivamentos de Atos, as normativas em Corinto e poucas provas veterotestamentarias. Uma em Isaías, por exemplo citada por Paulo  em Coríntios mais uma vez como idiomas humanos já que para falar a humanos se usa língua humana até onde sei.
Qualquer conclusão favorável aos idiomas humanos só pode ser tirada quando há sujeição e humildade com o texto. Porém todo argumento contrário passa necessariamente por uma desconstrução de 19 séculos de ortodoxia quanto a este assunto e o desrespeito com o texto e contexto.


Renato Oliveira Pimentel:
“Respeitando-se que dialektos e glossa para seu leitor original eram referência a idioma humano a prova bíblica está concretizada” (sic).

Ainda bem que você colocou o "se", assim o erro se torna potencial.

“Os textos são os clássicos avivamentos de Atos, as normativas em Corinto e poucas provas veterotestamentarias. Uma em Isaías por exemplo citada por Paulo  em Coríntios mais uma vez como idiomas humanos já que para falar a humanos se usa língua humana até onde sei” (sic)

Você está se referindo ao versículo 21 que diz: "Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor", que é referência à profecia de Isaías 28.11 que diz: "Pelo que por lábios gaguejantes e por língua "estranha" falará o SENHOR a este povo". Porém, o sinal predito não era que eles entendessem as línguas, muito pelo contrário, o texto diz que ainda assim "eles não o escutariam". O sinal foi o cumprimento da profecia! As profecias sempre foram usadas por Deus como um sinal para os incrédulos acreditarem em sua existência e Divindade.

"Todas as nações se reúnem, e os povos se ajuntam. Qual deles predisse isto e anunciou as coisas passadas? Que eles façam entrar suas testemunhas, para provarem que estavam certos, para que outros ouçam e digam: "É verdade" (Isaias 43:9)


"Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus. Quem há como eu? Que o proclame e o exponha perante mim! Quem tem anunciado desde os tempos antigos as coisas vindouras? Que nos anuncie as que ainda hão de vir." (Isaías 44:6-7).


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Quando você diz que glossa só é usado para idiomas em sentido figurado e que em sentido figurado pode ser qualquer coisa parece um argumento válido. Desde que você prove! Caso contrário, é nulo e sem valor. Ou melhor definindo, é conjectura.
Outro ponto é que sua interpretação sobre minha frase foi errada.  "Respeitando-se" é diferente de "respeitando que se". Neste segundo caso, o início da sua postagem teria tido algum valor. Eu quero pensar que foi a pressa e o nervosismo, já que você excedeu o limite de tempo. Te aconselho que mantenha calma. Ou então uma interpretação mal feita mesmo.
Sigamos. Essa referência de Isaías não muda o sentido, já que você não prova que línguas estranhas são idiomas não humanos recorrendo a um comportamento intuitivo e inclinado a ver no texto aquilo que você quer ver. Isso é exegese. Realmente, Renato, seu uso do grego é bem similar ao meu.
Então eu sugiro que ao afirmar algo busque prova que dêem apoio as suas argumentações. Estas sim são muito boas, mas carecem de técnica com a língua. Eu me limito a entender do modo que no texto é expresso: glossa = idiomas humanos; dialektos = idiomas humanos. Assim eu fujo de arranjos como estes que são apresentados por você aqui sucessivamente.


Renato Oliveira Pimentel - Considerações Finais:
Bem, finalmente, considero que o dom de línguas é uma ferramenta dada por Deus para a edificação do sujeito, pois através do mesmo, ele ora, louva e se tiver intérprete, também profetiza! Isso deve ser buscado por todos nós, pois é de grande utilidade para a nossa vida espiritual, mas devemos nos lembrar de não nos ensoberbecer  por contar de portarmos os dons do Espírito Santo, mas sempre usá-los para a edificação do corpo de Cristo, o nosso cabeça.
Espero ter abençoado a vida dos espectadores do debate, do irmão Luís e agradeço a oportunidade de participar de um debate com um tema tão profícuo para nós. Obrigado!


Luís Roberto de Souza – Considerações Finais:

Minhas considerações finais: Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos. Meus irmãos, não tenham receio com a Bíblia. Ela é clara, e quer nos mostrar o caminho. A melhor parte de perceber um equívoco é perder mudar de lado. Obrigado, Renato, e a todos!






Sobre os debatedores:
Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.


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