segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Famílias com propósito: refletindo a imagem de Deus


Resultado de imagem para família

por Davi Faria de Caires*

O homem precisa de um propósito para viver. Todo ser humano tem anseio pela eternidade, pois Deus mesmo colocou o anseio da eternidade no coração do homem (Ec 3.11). Todo homem possui um senso de divindade (Sensus Divinitatis). Todo ser humano busca coisas como verdade, amor, justiça, beleza e eternidade. Questões sobre a existência, sobre a morte e sobre o propósito da vida são assuntos que permeiam o coração e os pensamentos do homem, em todo lugar e toda época. Vivemos, contudo, em um período de crise existencial nessa geração pós-moderna, onde não há absolutos, onde há ausência de restrições, onde não existe figura de autoridade. As pessoas vivem sem rumo e sem direção. Falta um senso de propósito de vida. O espírito do nosso tempo rege que somos produtos do tempo e do acaso. Imperam em nossos dias o cientificismo, o naturalismo e o evolucionismo darwinista, que exclui Deus da vida e da existência cotidiana.
Infelizmente, muitos cristãos, absortos pelo espírito da filosofia pós-moderna, deixam-se levar por esses valores fluidos, e esquecem-se dos valores perenes e imutáveis da Palavra de Deus. Muitos sequer consultam o manual da vida para obterem respostas às suas vidas e à sua existência, contudo, continuam perguntando: ‘o que estou fazendo com a minha vida?’; ‘porque estou aqui?’; será que minha vida faz alguma diferença no mundo?’. Muitos até ascendem profissionalmente e economicamente, porém, ainda lhes falta um senso de propósito.
O Catecismo de Westminster (o Maior e o Breve) e o Catecismo puritano, e também o mais contemporâneo, Catecismo Nova Cidade, começam com a primeira pergunta:

Pergunta: Qual é o fim principal do homem?
Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre.
        
         Mas ainda fica a questão: como fazer isso na prática? Como glorificar a Deus? Como desfrutá-lo? Ora, temos essa questão respondida na Bíblia, no primeiro capítulo, que responde essas questões no ato da criação do homem e da mulher. Diz-se que os agentes do FBI dos Estados Unidos, para inibir a disseminação de moedas falsas, estudam minuciosamente a moeda. Porém, ao invés de estudarem todos as técnicas de notas falsas, eles estudam em profundidade as características das cédulas verdadeiras! Devemos fazer o mesmo. Não precisamos nos perder estudando toda miríade de falsas definições sobre propósitos de vida produzidos por vãs filosofias. Devemos nos ater, prioritariamente, pelo que diz a Escritura, sobre o que ela diz acerca do nosso propósito de vida. Ao estudarmos e deleitarmo-nos sobre o que diz a Escritura a nosso respeito, seremos capazes de identificar e discernir os falsos ensinos sobre nossa natureza, sobre nosso propósito e sobre a família.
         A bíblia diz, em Gênesis 1.26-28:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.”

O trecho acima focaliza o plano original de Deus para o homem e para a família. Esse trecho é fundamental, pois estabelece o tríplice propósito para o qual Deus nos criou. Existem três propósitos nessa passagem que aponta para a família:
(1) refletir a imagem de Deus;
(2) reproduzir a imagem de Deus e
(3) representar a imagem (reino) de Deus.

Refletir a imagem de Deus
Cristo, de modo perfeito, é o primogênito de toda criação, e a imagem do Deus invisível (Cl 1.15). O homem também, no ato da criação, foi feito à imagem de Deus. O valor e a glória do homem consistem no fato de ter sido feito à imagem de Deus. Logo, o nosso universo está centrado em Deus, e não no homem. Devemos ter uma abordagem do universo em perspectiva teocêntrica e teorreferente, ao invés de uma abordagem humanista e antropocêntrica. Deus é o centro, a causa e o significado primaz do Universo, e não o homem. Isso coloca em perspectiva correta a visão sobre família. O ponto de vista e o ponto de partida é sempre Deus, e não o homem. O dever do homem é adorar a Deus (ler Salmo 29.1,2).

Plural e Singular
         Deus criou toda vida vegetal (Gn 1.11,12) e toda vida animal (Gn 1.20-25); cada um conforme a sua espécie. Ou seja, de forma criativa, Deus imprimiu características novas ao reino vegetal e ao reino animal, de acordo com suas próprias características peculiares e inerentes. O termo “conforme a sua espécie” repete-se dez vezes, quando diz respeito à vida vegetal e à vida animal. E Depois de ter criado os vegetais e os animais, Deus também criou a vida humana (Gn 1.26). E quais características Deus imprimiu na raça humana? O texto diz que o ser humano foi criado à imagem de Deus, conforme a Sua semelhança. Isso não significa que o homem seja um pequeno deus, ou parte de Deus, mas significa que ele passa a possuir atributos e caraterísticas que refletem a natureza de Deus e que nenhuma outra criatura possui – seja do reino vegetal ou do reino animal. O ser humano – o primeiro casal – foi criado à imagem e semelhança de Deus.

Trindade
         O texto usa a palavra ‘façamos’, conjugado na primeira pessoa do plural, evidenciando um ato criativo da trindade que atuou em conjunto. A pluralidade de Deus é demonstrada na criação da pluralidade do ser humano: homem e mulher. A única vez em todo o livro de Gênesis em que Deus se refere a si mesmo na primeira pessoa do plural é na criação do ser humano. Isso mostra que o relacionamento entre o homem e a mulher refletem o relacionamento divino entre as três pessoas da trindade. As três pessoas da trindade estabelecem papéis diferentes na criação e na redenção do homem. Isso é um aspecto elementar da teologia. Somente quando o homem a mulher se unem, em uma só carne, no casamento, é que estão refletindo a relação de amor do Deus triúno.

Imagem e Semelhança
O termo imagem não diz respeito à aparência física, mas sim diz respeito à esfera espiritual, intelectual e moral. Neste aspecto, o homem é diferente dos animais e dos vegetais, e semelhante à Deus. Normalmente, o termo imagem na bíblia tem o significado de ídolos, que indica algo negativo e reprovado por Deus. Mas aqui a conotação é diferente. Deus abomina o uso de ídolos, pois sua representação já é refletida no ser humano! O homem foi criado à imagem de Deus. O homem não é apenas uma representação de aspectos do ser divino; ele é a melhor e mais exata representação de Deus na terra. O homem herdou de Deus, na criação, aspectos e atributos tais como: personalidade, vontade, intelecto, espírito, emoção, memória e cognição.

Imagem como comunidade
Vemos, portanto, que há estreitas relações entre a trindade e o ser humano, quando se unem no casamento. As três pessoas da trindade são distintas, porém há somente um Deus. Existe absoluta unidade na diversidade dentro da trindade. Homem e mulher, quando se unem no casamento, são distintos. Porém, de algum modo, tornam-se uma só carne. Vemos também unidade na diversidade. São relacionamentos que se complementam. Isso é um mistério.  A criação do homem como macho e fêmea refletem a unidade da trindade, criados por um Deus triúno que se comunica, que age e que se relaciona.

Algo faltando
A única vez que ele declarou que algo não era bom na sua criação original foi depois que ele vê a solidão do homem que criara: “não é bom que o homem esteja só” (2.18). Contudo, isso não significa que havia algum pecado, alguma imperfeição ou algum erro. Não havia. Mas havia evidências de que algo estava faltando. Em outras palavras, faltava a união, a complementaridade e a intimidade entre o homem e a sua mulher. Somente depois de criar a mulher, Deus declara: “e viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (1.31). A obra está encerrada e completa somente depois da criação da mulher para complementar o homem. A frase contém dois adjetivos, que qualificam positivamente a avaliação que Deus estabelece sobre sua criação. E, depois de fazer uma companheira para o homem e estabelecer o primeiro casamento, Deus encerra sua avaliação, afirmando que era tudo “muito bom”.  E para celebrar esse ato criativo, vemos a primeira poesia na bíblia (v27):

“E criou Deus o homem à sua imagem;
à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.”

Proteção da imagem a dois
Vemos, portanto, que casamento é coisa séria. O casamento não foi criado pelo homem. O casamento foi estabelecido por Deus, e reflete verdades teológicas sérias e profundas. O casamento, tal como Deus o criou, entre um homem e uma mulher, refletem a magnificência da e expressam características da própria trindade. Como devemos reagir frente à esta revelação? Em termos práticos, o relacionamento entre marido e esposa deve ser protegido a qualquer custo. No casamento, dois são um. Isso é uma sombra, uma parábola de como na Trindade, três são um.
A configuração que Deus estabeleceu é bem clara: um homem e uma mulher. Essa é a estrutura elementar da criação. O que passa disso é distorção e desvio. Outras configurações e combinações não podem ser chamadas de ‘casamento’, pois o casamento é entre um homem e uma mulher.

Ataque satânico
Em Gênesis, vemos o relato de toda criação de Deus. Com o poder da sua palavra, e pelo seu ato deliberativo, pela sua própria vontade e pelo seu próprio poder, Deus criou o tempo e o espaço. Ele criou o universo, criou as estrelas, o planeta terra, as águas, o reino vegetal e o reino animal. Criou o homem e a mulher. Em Gênesis vemos o início dos povos, a entrada do pecado no mundo e o plano de Deus para redenção do seu povo (Gn 3.15).
O casamento faz parte da criação, e é um elemento fundamental da obra  de Deus. Tudo o que Deus criou era muito bom, porém, desde o início da criação, Satanás e seus demônios lutam ativamente para perverter e distorcer a obra perfeita de Deus. O diabo sempre procura atacar e desviar esse relacionamento humano estabelecido por Deus: o casamento. Nós, cristãos, devemos estar preparados para combater o bom combate e defender o próprio casamento e a instituição do matrimônio, a qualquer custo. 

Conclusão
O propósito do casamento é refletir a imagem de Deus. Portanto, Deus faz isso para a sua própria glória. Quando Deus une duas pessoas no casamento, ele não o faz pensando primeiramente nelas. Quando Deus une duas pessoas no casamento, ele está pensando em si mesmo. Lembre-se: o propósito da criação é o próprio Deus, e não o homem. A visão que devemos ter sobre o casamento deve ser teocêntrica e teorreferente; não humanista e antropocêntrica. O propósito maior de Deus para nossos casamentos não é a nossa felicidade. O propósito é bem maior que isto! O propósito primaz do casamento é refletir a glória de Deus.  O fim principal não é o prazer próprio, e sim a glória de Deus.



Davi Faria de Caires

Casado, natural de Campinas-SP e residente em Atibaia-SP, acadêmico do Master of Divinity (M.Div) pela Escola de Pastores da Primeira Igreja Batista de Atibaia-SP (EPPIBA). Membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®.

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