segunda-feira, 7 de novembro de 2016

CINCO QUESTÕES SOBRE O MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO



Por Davi Faria de Caires*

Efésios 4.11- “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.

Questão 1: MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO: É VITALÍCIO?
Não. Tem pessoas que usam Romanos 11.29 para tentar provar que o cargo eclesiástico é para sempre: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29). Com isso, interpretam de forma errada que os dons e a vocação são para todo o sempre. Isso não é verdade. Basta vermos o contexto do versículo para vermos que Paulo se refere claramente à Israel, e à sua aliança eterna, e nós como gentios fomos enxertados, etc. Biblicamente, os dons e a vocação ministerial estão condicionados à perseverança na fé, no amor, no trato e no zelo. As qualificações morais de 2 Timóteo 3.1-10 não são apenas para a admissão de líderes! Não é uma lista a ser seguida no ‘período de experiência’. Pelo contrário, são qualificações que o obreiro deve guardar e viver persistentemente até o final de sua vida, com a ajuda e a graça de Deus.

Outro fator que pode interromper o serviço cristão do obreiro é alguma exigência de força maior que o impeça de dar continuidade. Exemplo: caso sua esposa fique enferma, e esta passe a requerer seus cuidados de modo integral, neste caso certamente sua esposa passa a ser sua prioridade. E o texto de 2 Timóteo também deixa claro que a família antecede o ministério eclesiástico. Pois, se “não sabe governar [cuidar] [d]a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?”. A prioridade é clara! A família deve vir primeiro. Isto não pode ser negligenciado.

Questão 2: MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO: É FAMILIAR? (FILHO DE PASTOR É PASTOR ?)
Não. O chamado é individual, não hereditário. No AT, a função sacerdotal vinha de berço, a todos que nascessem de ordem levítica, da ordem de Arão, exerceriam a função sacerdotal, e/ou serviriam no templo. No NT e nos dias de hoje não é assim. Que nenhum filho de pastor se sinta pressionado a também vir a sê-lo. Seu chamado o mesmo, ou pode ser diferente.

Questão 3: EXISTE UMA HIERARQUIA BÍBLICA MINISTERIAL?
Sim e não.   
A hierarquia é clara e necessária, tanto no AT quanto no NT. Moisés, seguindo o conselho de seu sogro Jetro, organizou hierarquias (organograma) com chefes de 1000, chefes de 100 pessoas, 50 e de 10 (Ex 18.25). As questões menores eram resolvidas pelo chefe de 10. No NT, também não é diferente.
Sim. Há hierarquia clara na igreja. A liderança pastoral é autoridade que deve ser respeitada por haver sido colocada por Deus.
Por outro lado, os dons ministeriais listados em Efésios 4.11 são DIFERENTES. Isso é fato.  Mas de modo algum, esses dons se sobrepõem-se uns sobre os outros. Ou seja, no NT não existem chefes de 1000, chefes de 100, chefes de 50 e chefes de 10. Os ministérios e os chamados são ESPECÍFICOS. É muito importante ter isso em vista. Porque o que mais vemos são pessoas em lugares errados. É absolutamente necessário que de acordo com o seu chamado, a pessoa esteja servindo na posição em que foi chamada por Deus. Deste modo, o pastor, evangelista, presbítero, mestre, profeta ou diácono, são DIFERENTES, mas um não é maior do que o outro. Na próxima questão dou continuidade e abordarei melhor isso.

Questão 4: É CORRETO INICIAR UM CRISTÃO NO MINISTÉRIO COMO DIÁCONO E POSTERIORMENTE "PROMOVÊ-LO" A OUTRO MINISTÉRIO?
Dando continuidade ao raciocínio da questão anterior, os dons ministeriais são visivelmente diferentes. Mas não vejo base bíblia para progressão ministerial. Afinal, quem efetua o chamado? É Deus! É uma prática comum nas igrejas atuais haver essa sucessão: cooperador > diácono > presbítero > evangelista > pastor. Ou seja, você pode subir de patente (!?!?). Mas se quem chamou foi Deus, Ele vai mudando de ideia de acordo com o progresso do Cristão? Porque Paulo não começou como diácono? Porque ele foi consagrado diretamente a Apóstolo? Estêvão e Filipe foram excelentes diáconos. E Matias, escolhido como apóstolo, nunca mais foi citado, após ter sido escolhido. Então não há porque fazer uma escala ascendente de progressão ministerial. É uma visão completamente errada. Se tal obreiro tem o chamado para o presbitério, então que já seja separado. Se for para pastor, não há motivo de fazer ‘estágio’ no diaconato. E se ele for chamado para o diaconato, porque ficar insatisfeito com isso? Aliás, se o diácono estiver insatisfeito, é porque não deveria ser diácono, cuja função principal no NT é servir.  Aliás, servir é o que todos foram chamados para fazer. Isso vou falar melhor na próxima questão.

Questão 5: TODO CRISTÃO POSSUI UM MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO?
Todo cristão foi chamado para servir. Nisto, há lugar para todo cristão. A bíblia fala pouco sobre liderança. Mas fala muito sobre servir. A bíblia tem muitos ensinamentos sobre como devemos ser bons servos. Para isso, todos foram chamados. Jesus mesmo nos deu este exemplo. Mas hoje em dia todo mundo quer ser líder, quer ser chefe. Se todos forem líderes, quem serão os liderados? Não sobrará ninguém! Por outro lado, se todos servirem, não haverá falta de nada, pois ao mesmo tempo em que você serve, você também será servido.

Todo cristão também foi chamado para cumprir a grande comissão (Mateus 28.19,20). Tendo como requisito básico ter sido alcançado pelo evangelho, todo cristão pode (e deve) expandir e propagar a mensagem do reino. E isso independe de cargo eclesiástico.

Contudo, o chamado ministerial é específico. Dentre todos os salvos em Cristo, alguns Deus chama para desenvolver ministérios específicos para o governo da igreja. Deus chama, e a igreja reconhece. Não é a igreja quem chama. A igreja, sim, patenteia e reconhece àquele que já possui o chamado de Deus para alguma área específica. E para isso é profundamente necessário que o pastor local esteja atento para identificar esses que têm o chamado ministerial, e formar novos líderes para a próxima geração.

Por fim, vejo que há grande discrepância atualmente entre os dons ministeriais. Há um crescimento deformado. Para que a igreja cresça de modo saudável, todos os dons ministeriais devem ser exercidos de modo equilibrado. O dom que dá ibope hoje em dia é o pregador (que equivale ao profeta de Ef 4.11). Quem almeja ser pastor? Não vejo tanto entusiasmo assim. E mestre? Muitos da igreja nem sabem o que é isso. Parece que soa até arrogância ser mestre, e é um ministério que é deixado de lado. Tanto os dons ministeriais, quanto os dons espirituais, Deus chama e qualifica conforme a necessidade da igreja. Se há falta de alguns, e excesso de outros, a culpa não está em Deus. Está nos homens. Por dois motivos. Ou estão enterrando seus talentos, ou NÃO estão sendo reconhecidos pela liderança imediata. Com isso, quem sofre é a igreja local. Pois como corpo, todos se nutrem pelo dom do outro, e harmonicamente devem crescer de modo proporcional, orientados pelo Cabeça que é Cristo, o dono do corpo (Igreja).


Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


Se você gostou deste artigo, está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e cite a fonte. Não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.


Um comentário:

  1. A graça e a paz, Estou muito feliz por poder ter desfrutado deste banquete, que nosso Aba continue a te usar como manancial de águas vivas que jamais irá secar, parabéns por se deixar ser instrumento de ensino e justiça de Deus.

    ResponderExcluir