segunda-feira, 12 de junho de 2017

Os Profetas Menores: Resumo e Visão Panorâmica – PARTE 1/2




Por Davi Faria de Caires*

OS PROFETAS MENORES
         As expressões “Profeta Maior” e “Profeta Menor” foram cunhadas pelo teólogo Agostinho de Hipona no século IV dC. O termo menor refere-se à brevidade do segundo grupo, e não à sua importância relativa de seu conteúdo. Os hebreus chamavam esse grupo de livro de “O Livro dos Doze”, e foram agrupados dessa maneira por Esdras, mais ou menos em 425aC, talvez para acomodá-los em um rolo. O grupo todo é mais curto, por exemplo, que Isaías, Jeremias ou Ezequiel.

         Embora os profetas maiores estejam dispostos em ordem cronológica, os livros que compõem o grupo de profetas menores não possuem esta disposição. Os seis primeiros livros (de Oséias a Miquéias) estão relacionados a um período anterior ao cativeiro do Norte (722 aC). Os livros de Naum, Habacuque e Sofonias relacionam-se a um período anterior ao cativeiro do Sul (606 – 586aC), e os três últimos livros (Ageu, Zacarias e Malaquias), posicionam-se em um período posterior ao regresso do cativeiro (536 – 425 aC).

         Neste artigo, estudaremos os seis primeiros livros: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas e Miquéias.


OSÉIAS
         Oséias significa salvação ou livramento. Pouco se conhece sobre este profeta, que profetizou ao Reino do Norte 30 anos antes do cativeiro. Sabe-se que foi escrito em 740 aC. Neste livro, o profeta descreve o estado abominável da nação que, à semelhança de sua esposa, tinha-se entregue à prostituição.  Este profeta recebeu do Senhor a seguinte ordem: “vá, tome uma mulher adúltera” (Os 1.2). Essa ordem parece violar os mandamentos e moral envolvida no Pentateuco. Contudo, em tempos de grande depravação, Deus estava usando um recurso prático e didático para apregoar ao povo através de uma mensagem prática através da vida do profeta.


JOEL
         Sabe-se muito pouco acerca do profeta Joel. Existem na bíblia outras 14 pessoas com este nome. Este livro foi escrito em 825 aC com dois objetivos: histórico e profético. O objetivo histórico era chamar a atenção de Judá ao arrependimento como uma reação adequada aos julgamentos do Senhor com gafanhotos e estiagem, para que uma calamidade mais devastadora não viesse sobre eles. Por outro lado, o objetivo profético era apresentar o futuro “Dia do Senhor”, no qual ele dominará os pagãos e libertará seu povo para habitar com ele. A praga de gafanhotos foi somente uma antecipação daquele futuro “Dia do Senhor”. Joel é conhecido como o profeta do “Dia do Senhor”, por ter utilizado a frase para o grande dia do julgamento das nações. O “Dia do Senhor” é um conceito bíblico que significa um tempo qualquer de intervenção divina, em que Deus assumirá o comando do mundo a fim de trazer julgamento ou bênção de conformidade com seus princípios estabelecidos, de acordo com o programa escatológico divino nos tempos do fim. Portanto, no sentido escatológico, o “Dia do Senhor” é o período futuro em que o Messias julgará as nações afim de preparar o mundo para seu reino milenar.

Joel é também conhecido como o profeta do derramamento do Espírito Santo no Pentecoste. Tanto Pedro quanto Paulo usaram o texto de Joel 2.28-32 como uma profecia da dispensação cristã, em Atos 2.16-21 e Romanos 10.13:


“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos terão sonhos; E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor; E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Atos 2.16-21 – Almeida Corrigida Fiel)


“Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.” (Romanos 10.13)


AMÓS
         Amós significa ‘fardo’ ou ‘carregador de fardos’. O autor do livro que leva o seu nome nasceu em Tecoa, era um homem de negócios, fazendeiro e pregador. Ocupava-se com criação de gado e plantação de frutas. Era um intelectual e sábio escritor. Escreveu o livro em 760 aC. Amós vivia a 7 quilômetros ao sul de Jerusalém, no mesmo lugar em que João Batista cresceu, muito tempo depois.

Este livro tem com objetivo expressar o julgamento de Deus sobre a nação que vivia em tempos de corrupção espiritual, moral e social. Em contraponto com Oséias que pregou o amor divino, Amós foi apregoeiro da justiça, com forte ênfase em justiça social. 


OBADIAS
         Obadias significa “servo do Senhor”. Era um nome comum no Antigo Testamento. Não se sabe nada sobre Obadias, exceto que estava em Jerusalém na ocasião dos violentos ataques de Edom à cidade. Este livro foi escrito em 845aC, com o objetivo de anunciar juízo e a destruição final de Edom em razão de sua violência e vingança constantes ao povo escolhido de Israel. Esse livro também afirma escatologicamente o tempo em que Israel possuirá a terra de Edom. Portanto, o livro narra o destino final de Edom, povo descendente de Esaú, e também o destino final de Israel, povo descendente de Jacó, ambos filhos de Isaque e Rebeca. Apesar de descenderem de dois irmãos gêmeos, as nações Edom e Israel tornaram-se inimigas rancorosas e implacáveis. Essa inimizade entre Israel e Edom perdurou por mil anos, de Moisés a Malaquias, envolvendo muitas contendas e brigas.

         A nação de Edom (conhecida como Iduméia), tal como Israel, foram extintas no ano 70dC com a invasão romana. Porém os edomitas nunca mais ressurgiram. Foram totalmente extirpados. Obadias é a síntese do último capítulo da história desse povo, como se fosse a conclusão dos livros sobre Edom, que foram eliminados por desprezarem a Palavra de Deus, por terem vendido sua primogenitura e por terem infligido guerras e disparates ao povo escolhido de Deus.


JONAS
         Jonas é o mais provável autor deste livro. Ele é identificado como o profeta de 2 Reis 14.25:

“Também este restituiu os termos de Israel, desde a entrada de Hamate, até ao mar da planície; conforme a palavra do SENHOR Deus de Israel, a qual falara pelo ministério de seu servo Jonas, filho do profeta Amitai, o qual era de Gate-Hefer.” 


         A tradição judaica diz ser ele o filho da viúva de Sarepta, que foi ressuscitado por Elias. Este livro foi escrito em 765aC. Historicamente, no tempo de Jonas, Israel sentia-se seguro e estava em ascensão, enquanto a Assíria achava-se em declínio político. O objetivo deste livro é apresentar como Deus julga a iniquidade em todas as esferas e, do mesmo modo, reage ao arrependimento das nações.

Este livro contém milagres “inacreditáveis”, tal como ser engolido por um grande peixe por três dias. E do mesmo modo em que Jonas esteve no ventre do peixe (lugar de morte) durante três dias e três noites, o Filho do homem esteve no coração da terra: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mateus 12.40 - ACF). Jesus usou a experiência de Jonas para tipificar a maior verdade bíblica: sua própria ressurreição dentre os mortos.


MIQUÉIAS
         Miquéias significa: “quem é igual a Javé?”. É uma expressão adequada à mensagem do livro, tendo em vista haver ênfase no grande poder de Deus no primeiro capítulo, e seu grande perdão no último. O profeta Miquéias era de origem humilde e conhecia as más condições dos pobres. É reconhecido como o único profeta cujo ministério foi simultaneamente direcionado a Judá e Israel.

Miquéias apresenta semelhanças e contrastes com Isaías, profeta contemporâneo. Tal como Isaías, ambos profetizaram sobre a vinda do Messias. Isaías falou de seu nascimento, e Miquéias determinou o local de seu nascimento. Em contrapartida, como contraste evidente entre ambos, Isaías dirigiu seu ministério à aristrocracia urbana de Jerusalém, enquanto Miquéias falou ao povo comum da zona rural.

Em Miquéias vemos o melhor resumo da Lei, em seu estilo mais simples e profundo, sem rodeios, com ênfase na prática da justiça, amor e demonstração de bondade e submissão em humildade para com Deus:


“Com que me apresentarei ao SENHOR, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” - (Miquéias 6.6-8 – Almeida Corrigida Fiel)




REFERÊNCIA

Ellisen, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento: um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007.





Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com



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