Essa pergunta tem se tornado a pergunta mais feita nos
últimos dias e décadas. Há uma necessidade no ser humano saber qual é o seu
propósito e também saber o propósito alheio. Essa pergunta virou tão rotineira
e contextualizada que quando nos é dirigida essa indagação nós nem paramos,
muita das vezes, para pensar o peso que essa indagação carrega. Não é de se
admirar que ela esteja perdendo o seu poder reflexivo, visto que ela é muito
usada de diversas formas no nosso dia a dia, em entrevistas de trabalhos, em
casa, na escola, em relacionamentos amorosos, enfim, ela está em todo lugar e
agora ocupa nosso tempo aqui nessa leitura. E para falarmos sobre propósito,
temos que usar o “homem”, no sentido de humanidade. O homem é notavelmente
objeto de estudo de muitas matérias, o psicólogo Skinner diz, “Quase todos os
que se interessam pelos problemas humanos – o cientista político, o filósofo, o
homem de letras, o economista, o psicólogo, o linguista, o sociólogo, teólogo,
o antropólogo, o educador ou o psicoterapeuta...”¹. Junto com a The Heritage of History quero usar o Catecismo Maior de Westminster, para
resgatar o nosso “real” propósito.
No Catecismo Maior e
Breve de Westminster, na primeira pergunta, diz:
“1. Qual é o fim
supremo e principal do homem?
O fim supremo e
principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.
Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22-24; Is
43.7; Rm 14.7-8; Is 61.3”.
Na pergunta a palavra “fim”,
quer dizer propósito para algo que existe. Um dos significados da palavra, propósito
é, “intenção, desígnio, decisão, fim que se visa”². Somos pessoas cheias de propósitos para
realizar, mergulhadas em metas a serem batidas, mas será que estamos ou ao
menos sabemos qual o verdadeiro propósito? Eis ai duas palavras que trazem
supremacia na pergunta, e são elas, “supremo
e principal”, devemos ter planos e metas, sonhos e objetivos, mas não
podemos perder aquilo que é “principal”, e deixar que o “supremo” se torne
diminuto em nossa vida. Digo isso, pois, muitos têm desvirtuado essa pergunta
do catecismo, mudando-a em suas vidas para, o fim do homem é buscar felicidade?
E o bem para todos? É certo que todos querem a felicidade, desejam prosperidade
emocional, espiritual, financeira e material. Essas perguntas diferentes acabam
tendo e recebendo respostas antibíblicas que contradiz as Escrituras,
principalmente a pergunta ecumênica, “o bem ou o melhor para todos?”, essa
pergunta coloca o foco central no homem como sendo o centro das atenções e até
mesmo suscitando a idolatria ao ego, fazendo o homem crer que o seu fim
principal é buscar a felicidade alheia. Mas o fim principal, ou seja, o
propósito supremo do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Uma
questão interessante é analisarmos o porquê de “glorificar e gozá-lo” nesta ordem em que estão. Uma coisa é que,
glorificar a Deus é o mais importante e é o fio condutor da vida, e gozá-lo é
uma dádiva á aqueles que adoram a Deus verdadeiramente. Certamente aqueles que
glorificam a Deus experimentam um gozo divinal em sua vida espiritual. Para
iluminar e trazer a tona esse conceito divino de propósito verdadeiro, vamos
analisar algumas das passagens usadas na resposta da pergunta.
“Porque dele, e por meio dele, e para
ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” Romanos
11:36
O apóstolo Paulo tem em mente e no seu louvor, uma
exaltação da majestade de Deus na salvação, depois de expor um argumento sólido
sobre Israel e gentios, ele está atônito sobre a grandeza da sabedoria e do
conhecimento de Deus, Paulo entoa então um hino que ficou muito reconhecido, e
no final desse hino, ele declara essa maravilha que direciona toda a glória a
Deus, e ele vai além abordando início, meio e fim, dizendo, “porque d’Ele, por
meio d’Ele, e para Ele”. Totalmente dependente de Deus, Calvino comenta:
“Esta é uma confirmação
da sentença precedente. O apóstolo nos mostra quão longe estamos de ser capazes
de vangloriar-nos, contra Deus, de algum bem que porventura seja propriamente
nosso, visto que fomos criados por Deus, a partir do nada, e agora o nosso
mesmo ser depende Dele. Disto ele concluir ser justo que nosso ser seja
orientado para sua glória. Quão absurdo seria que as criaturas, a quem Ele
formou e sustenta, possuíssem algum outro propósito que não fosse a manifestação
da glória de seu Criador!”³
Notamos Calvino dizer algo importante, que somos feitura de
Deus e por Ele sustentado, e mesmo assim notamos pessoas cometer o absurdo de
se vangloriar-se no simples ato de exaltar seu ego sob seus projetos e propósitos
vazios. Mas precisamos abandonar qualquer propósito que não trará gloria ao
Criador de nossas vidas.
“a todos os que são chamados pelo meu
nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz.” Isaías 43:7
Isaías, um dos profetas maiores, responsável pela maioria
das profecias sobre a vinda de Jesus, O apresenta em seus diversos ofícios,
como servo, como rei e aqui ele O apresenta como o Único Salvador. O texto começa com Isaías falando o que um
verdadeiro profeta diz, “Assim diz o Senhor”, e falando as promessas preciosas
ao seu povo em um período delicado. E o versículo primeiro é muito semelhante
ao sétimo, pois ambos falam de criação, redenção, chamado de Deus e confiança
em Deus. Nesse sentido Matthew Henry,
escreve e nos dá dois pontos:
“Ele
nos diz (v.7) que eles são os que Deus criou para sua glória. Porquê: 1. Eles
são chamados pelo seu nome. Eles professam a fé, e são distinguidos do resto do
mundo pela sua relação de aliança com Deus, e por serem chamados pelo seu nome.
2. Eles são criados para sua glória. O espírito dos israelitas é criado neles,
e eles são formados segundo a vontade de Deus. E estes serão congregados.
Observe que somente aqueles que são criados pela graça de Deus e para sua
glória são de dignos de serem chamados por seu nome. E aqueles a quem Deus
criou e chamou serão agora congregados a Cristo como cabeça deles, e no futuro,
ao Céu como seu lar. Ele ajuntará os seus escolhidos desde os quatro ventos.
Esta promessa aponta para o ajuntamento dos espertos entre os gentios, e dos
estrangeiros dispersos, pelo Evangelho de Cristo, que morreu para reunir em um
corpo os filhos de Deus que andavam despeço pelo mundo; porque a promessa diz
respeito a todos os que estavam longe, a tantos quanto Deus, nosso Senhor,
chamar e criar. Deus está com a igreja; portanto, ela não precisa temer:
ninguém que é de Cristo se perderá.”4
Eis a nossa responsabilidade escrita no comentário, de
todas as formas, porque somos chamados, escolhidos, criados, ajuntados,
guardados e tudo isso para a Eterna glória de Deus. Somos distinguidos do mundo
pela profissão de fé, devemos também ter uma visão e propósito distinto do
mundo, e carregarmos um nome tão santo como o de Deus.
Porque nenhum de nós vive para si
mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se
morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do
Senhor. Romanos 14:7-8
No meio de uma
discursão na igreja de Roma concernente a alimentos, dias e datas comemorativas,
Paulo vê que tudo isso era uma questão espiritual, tendo pessoas maduras e
outras ainda fraca na fé. Paulo declara que eles devem acolher os fracos, e que
ambos, o forte e o fraco, estão no Senhor Jesus Cristo, e que o seu viver deve
ser para o Senhor, em todos os extremos da vida, quer seja na vida, quer seja
na morte. Com essa certeza, Calvino escreve acertadamente:
“Não é necessário que nos sintamos surpreso pelo fato de as ações pessoais
de nossa vida estarem relacionadas com o Senhor, uma vez que a própria vida
deve ser totalmente devotada a sua glória. A vida de um cristão só vai estar
devidamente ordenada quando ela visa à vontade divina como seu objeto máximo.
Mas se todas nossas ações não se acham relacionadas com sua vontade, é
completamente errôneo evitar fazer algo que consideramos desagradá-lo, quando,
deveras, o que somos não nos convence de que o agradamos. ...mas significa ser
conformado a sua vontade e prazer, bem como para ordenar todas as coisas para
sua glória. Nem devemos só viver para o Senhor,
mas também morrer para o Senhor, ou,
seja: tanto nossa morte quanto nossa vida devem ser entregues a sua vontade.”5
Calvino diz e conclama que nossas ações pessoais estão
ligadas ao Senhor e que isso não é de surpreender. Mas hoje em nossa cultura
manchada pelo idolatrado “estado laico”, os cristãos vem adotando um modo
dicotômico de viver, dividindo a vida em duas esferas e facetas como, vida
secular, emprego secular, lazer secular entre vida espiritual, trabalho
ministerial, igreja e afazeres religiosos. Esse modo dicotômico tem feito
muitos cristãos ficarem confuso em sua caminhada cristã e até mesmo priorizar
uma delas, e geralmente segue pelo caminho secular deliberado. Nesta vida temos
que glorificar a Deus no nosso trabalho onde quer que esteja, na igreja, na
sociedade, fazendo a vontade de Deus. Ler esse comentário de Calvino nos lança
a uma penetrável sondagem em nosso viver diário com o Senhor, e pergunto, será
que suas ações tem se relacionado com a vontade de Deus? “tanto nossa morte quanto nossa vida devem ser entregues
a sua vontade.”.
Portanto, quer comais, quer bebais ou
façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1 Coríntios 10:31
A fim de concertar uma visão e prática dos irmãos da igreja
de Corinto que não agradava a Deus, e que eles estavam correndo sérios riscos
em sua saúde espiritual, Paulo se dedica a escrever sobre tal problema, um
combate firme contra a idolatria no culto e participação em cerimônias
consagradas ao Diabo. O apóstolo precisava moldar a visão deles expelindo o
erro e moldando um novo modo de comportamento que glorifica a Deus. Ele aborda
que “tudo para a glória de Deus”, com
essa grandiosa confissão, Calvino escreve:
“Para que não tivessem a impressão de que
não havia nenhuma necessidade de preocupar-se em evitar censura, imaginando que
não passava de uma questão trivial, Paulo ensina que não há parte alguma de
nossa vida ou conduta, por mais insignificante que seja, que não esteja
relacionada com a glória de Deus, e que devemos preocupar-nos, sim, ao comermos
e bebermos, e tudo fazendo para promovê-la. Esta sentença concorda com a que
precede, a saber: se formos zelosos pela glória de Deus, como de fato devemos
ser, até onde estiver em nosso poder, evitaremos que suas bênçãos se
transformem em objetos de abuso. Isto foi bem expresso no provérbio antigo:
"Que não vivamos para comer, e, sim, comamos para viver.” Desde que o
propósito da vida seja ao mesmo tempo mantido em nossa mente, em certo sentido
nosso alimento será, consequentemente, consagrado a Deus, porque ele será
destinado a sua honra [e glória].”6
Com a
visão dicotômica da glória de Deus, as pessoas estão em constante tempo
expressando que algumas questões da vida cristã não passam de triviais. Toda a
nossa conduta e propósito deve ser para a glória de Deus. Calvino escreve que o
propósito da vida deve continuar o mesmo na mente, isso significa que dia após
dia devemos estar sempre constantes e consequentemente na busca por consagração
a Deus, em nossas atividades, no viver em família, em sociedade, na escola e em
todos os lugares.
Em Gálatas (5:22) estão listados os frutos do Espírito
Santo, e na lista da tradução, “Almeida Revista e Corrigida”, está a palavra
“Gozo”, a qual em outras traduções está escrito “Alegria”. Na pergunta do
catecismo expressa, “e gozá-lo para sempre”, ou seja, “alegrar-se Nele para
sempre”. Os discípulos trasbordavam de alegria (At 13.52), Paulo fala da
alegria no Espírito Santo (Rm 14.17), declara também alegria em momento de
tribulação (1Co 8.2), na contribuição não com tristeza e necessidade, mas com
alegria (2Co 9.7), Paulo orava pela igreja com alegria (Fp 1.4), ele declara
que a igreja aceitou a palavra com alegria (1Ts 1.6), Tiago nos exorta a ter
alegria nas tribulações (Tg 1.2), e João se enche de alegria por saber que os
cristãos estão andando na verdade (3 Jo 1.4).
Motivo de alegria é que não falta na Bíblia, nós cristãos
precisamos ter alegria, e essa alegria vem de uma vida que tem o alvo de
glorificar a Deus, é Deus que dá e enche seus filhos de alegria. Muitos
evangélicos se questionam que suas vidas não tem alegria e não tem propósito,
outros se queixam que suas vidas não têm propósitos, outros têm propósitos, mas
não tem alegria. A grande questão é que as pessoas estão buscando seus próprios
propósitos e vontades, correndo atrás da alegria em seus sonhos e projetos sem
Deus e carregando uma visão dicomizada sobre a realidade da vida cristã.
Não existe felicidade sem Deus e não existe glória a Deus
sem felicidade, por isso tenha em sua vida em um só propósito: “Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.”.
Referências:
B.F.Skinner, Para além da liberdade e da dignidade, Edições
70 LTDA- Lisboa/Portugal, 2002, pág 14.
I Coríntios / João Calvino; tradução de Valter Graciano
Martins. 2. ed. - São Bernardo do Campo, SP: Edições Parakletos,2003, págs
324-25
Matthew Henry Comentário, 3° Ed.- Rio de Janeiro: CPAD,
2015, pág 193.
Romanos/João Calvino; tradução de Valter Graciano Martins-
2.ed.- São Paulo: Edições Parakletos, 2001, pág 429.
Romanos/João Calvino; tradução de Valter Graciano Martins-
2.ed.- São Paulo: Edições Parakletos, 2001, pág 481.
Ximenes, Sérgio, Editouro, 2001.
Irmão Bruno,
ResponderExcluirQuero parabeniza-lo meu nobre irmão em Cristo Jesus, por essa mensagem, que vem nos despertar,para compreender-mos um pouco mais, o real sentido da vida cristã.
Tanto o início da nossa vida,quanto o findar da nossa existência terrena,e o futuro eterno, estão no Deus que é: O Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim; o Senhor Jesus, que é, e que era,e que há de vir, o Todo-Poderoso... Apoc 1:8...
De seu irmão em Cristo ,
André Luís Alexandre
O motivo de minha alegria é saber que minha fé não e vão, porque Jesus morreu e ressuscitou, porque se ele não tivesse ressuscitado a nossa fé era em vão
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