por Davi Faria de Caires
Em tempos de ceticismo
religioso, parece não haver espaço para a fé no presente século. O debate sobre
a existência de Deus é tão antigo quanto a humanidade. Porém, em tempos pós
iluminismo, nossa era cientifista e naturalista pretende banir a fé do debate
público, à guisa de pretensa superioridade lógica, metodológica e
epistemológica. O cristão não deve ficar alheio a este debate. Pelo contrário,
ele é desafiado pela a fornecer justificativas racionais para a fé cristã (1
Pedro 3.15,16), santidade, conhecimento e mansidão. Entretanto, é possível
saber que Deus existe? Quais são os argumentos sobre a sua existência? Sim,
existem argumentos racionais favoráveis à existência de Deus, tais como o
argumento cosmológico, o argumento do design e o argumento moral. Neste espaço, vamos nos ater somente ao
primeiro: o argumento cosmológico.
O argumento cosmológico
sobre a existência de Deus é um argumento que foi criado pelos muçulmanos na
idade média. É o argumento 'KALAM', um termo derivado do vocábulo árabe que
designa a escola islâmica medieval, o movimento intelectual responsável pelo
desenvolvimento desse argumento. O objetivo desse argumento é refutar a teoria
da eternidade do universo. Os gregos trabalhavam com a concepção de que o
universo era eterno, e que sempre existiu. Para os hebreus, contudo, o universo
teve um início: "no princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gênesis
1.1). O argumento Kalam irá mostrar que o universo teve um início e que como
nada surge do nada, então uma causa transcedente (Deus) deu causa ao universo.
Esse debate já intrigou cientistas na história. Einstein, por exemplo, odiava a
ideia de o universo ter tido um início. Contudo, ele percebeu que suas equações
apontavam um início para o universo e camuflou suas próprias equações!
Nesse argumento, há três
premissas: (1) qualquer coisa que começa a existir tem uma causa; (2) o
universo começou a existir; (3) portanto, o universo tem uma causa. A primeira
premissa é um princípio autoevidente. Aqueles que negam essa premissa devem
acreditar que viemos do nada, por meio do nada e para nada, o que é certamente
implausível. Se algo pudesse surgir do nada, então seria inexplicãvel porque
todas as coisas ou qualquer coisa não surgem do nada. Porque esse princípio não
continua se aplicando? Porque uma bicicleta ou Beethoven não surgem de forma
não causada? Isso é contrário à nossa experiência. Céticos dizem que, na física
moderna, partículas subatômicas, chamadas de partículas virtuais, e até mesmo o
universo, podem passar a existir do nada, mas isso é apenas o vácuo, e não o
nada. A premissa lógica é que o universo começou a existir. Portanto, o
universo tem uma causa. E como deve ser essa causa? O argumento cosmológico
Kalam propões que essa causa deve ser: (1) autoexistente, atemporal e não
espacial; (2) imutável; (3) imaterial; (4) inimaginavelmente poderosa; (5)
pessoal.
Em última análise, é
preciso reconhecer que estes argumentos não provam a existência de Deus. Isso
parece antagônico, paradoxal e emblemático. Mas é impossível provar Deus. Se
fosse possível, não precisaríamos de fé. Fé é acreditar naquilo que não vemos
(Hebreus 11.1-3). Ter fé não significa que a crença em Deus seja irracional, ou
então que daremos um salto cego no escuro. Existem, sim, argumentos sobre a
existência de Deus! Eles são úteis e demonstram que nossa fé não é irracional
ou desprovida de argumentos lógicos.
Davi Faria de Caires
Casado, natural de Campinas-SP e residente em Atibaia-SP, acadêmico do Master of Divinity (M.Div) pela Escola de Pastores da Primeira Igreja Batista de Atibaia-SP (EPPIBA). Membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®.
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