segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 2]




Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de EstudosTeologia com Propósito”.


Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando, portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Para ler a primeira parte deste debate, clique aqui. Este debate foi protagonizado por dois teólogos em formato de perguntas, respostas, réplicas e tréplicas, com o acompanhamento de um moderador em tempo real. As intervenções do moderador não foram transcritas.  Confira abaixo o desenvolvimento da segunda parte deste debate. 


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Onde na Bíblia existe a afirmação de que homens falariam idiomas não humanos?


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
Em lugar nenhum da bíblia, existe a afirmação explícita como você sugere de que "homens falariam idiomas não humanos", como também não há afirmação explícita de que os dons de línguas eram idiomas humanos. Caso houvesse uma das duas afirmações na bíblia, certamente não haveria esta discussão. Porém, texto como o já citado 1 Coríntios 14:2, explicitam o fato de esse idioma não ser humano, pelo simples fato de ninguém o poder entender porque como o próprio texto diz: "Quem fala em línguas não fala aos homens...". Negar isso é negar a bíblia!


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Eu esperava ouvir algo bíblico relacionado aos idiomas não humanos. Sua citação pelo contrário traz um termo usualmente tido como idioma humano e órgão humano. Se você deixa essa informação em harmonia com o contexto realmente não estaríamos debatendo. Vou repetir: glossia significa idioma. Todo idioma não dominado se torna um mistério. Deus conhece todos os idiomas, logo quem fala num idioma num lugar que ninguém entende só fala a Deus.
Sobre sua afirmação de que não existe uma negação de idiomas humanos eu lhe desafio a trazer uma explicação mais detalhada sobre o que te faz pensar que glossia significa idioma não humano, pois isso revolucionaria a teologia cristã. O termo antropos e o relacionado a mistérios (que não me lembro agora) não precisam sair do seu sentido para afirmar que sua citação é referência a idioma humano como expus acima. Só é mistério porque ninguém entende e Deus entende tudo. Por demais os originais não me deixaram mentir.


Renato Oliveira Pimentel:
Glossa, não significa idioma! Significa "Língua" como o órgão do corpo! Glossa pode ser utilizado para se referir a idiomas, somente quando usado no sentido figurado, como nós mesmos também usamos, mas a palavra para idioma no grego é dialektos! Eu penso que o dom de "Orar/Falar em línguas" não é humano, por afirmações como: "O que fala em outra língua a si mesmo se edifica (Porque não interpreta), mas o que profetiza edifica a igreja." (1 Coríntios 14:4). Por exemplo que mostra que o intuito do dom de línguas, é a edificação pessoal de quem está orando em línguas.

- Ele não é entendido por ninguém vs. 2

- Ele edifica somente a si mesmo vs. 3

- O meu espírito ora vs. 14

Para interpretar eu não preciso estudar (como seria o comum no caso de ser um idioma humano) preciso orar para receber a interpretação. Tenho toda a bíblia apontando para isso sem falhas de interpretação como a sua tese tem.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
A bíblia diz que o dom de falar em línguas cessaria? Se sim, quando? Se não, onde elas estão?


Luís Roberto de Souza:

Renato,
Há uma referência nesse sentido em 1 Coríntios 13 "havendo línguas cessarão". Isso para alguns teólogos é ponto de apoio para ligar o dom de línguas como idiomas para a geração apostólica. São os chamados cessacionistas. Eu não creio assim. Eu prefiro entender que as línguas como idiomas são um dom potencialmente contemporâneo não havendo razões claras na Bíblia para negá-lo, como há com relação aos apóstolos como explicados em Efésios 2.20.
Porém em vias práticas pouco se houve falar de manifestações desta natureza (como idiomas humanos). Creio que Paulo se refere a um futuro na eternidade onde não haverá a necessidade da fé nem de línguas mas somente do amor eterno de Deus.


Renato Oliveira Pimentel:
Replico repetindo a pergunta inicial: Se não cessou, onde estão? Não seria ele o dom de orar em línguas? Será que a banalização que acontece hoje em dia com o dom de orar em línguas, não acabou por esfriar a fé e cegar o entendimento para o fato bíblico de que eles ainda se aplicam ao nosso tempo?


Luís Roberto de Souza:
Eu respondi onde estão ao dizer que existem relatos desta manifestação. Outro trecho que evitaria tal pergunta é o de 1 Coríntios 12 onde diz que o falar bem línguas é algo inviável para todos do corpo. Logo, o fato de você ou o não presenciar não implica que não ocorre. Orar em línguas é uma referência restrita ao caso de Corinto que volto a frisar usava o dom corretamente.
As incidências relatadas em atos remetem a conversações (pregação). Paulo, porém não proíbe e daí concluí sobre o que ocorre quando se ora em línguas sem intérprete em 14.2 e adiante dá cabo ao abuso desta prática aí mandar que ficassem calados.
Sobre a banalização do dom foi o que ocorreu em Corinto e o apóstolo sabiamente pediu para que orassem em línguas ou com intérprete ou em silêncio ou que se calassem. Essa normativa foi justamente para não esfriar.
Paulo não proíbe de falar em línguas.


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Seu comentário feito anteriormente diz o seguinte:

“Glossa, não significa idioma! Significa "Língua" como o órgão do corpo! Glossa pode ser utilizado para se referir à idiomas, somente quando usado no sentido figurado, como nós mesmo também usamos, mas a palavra para idioma no grego é dialektos!” (sic).

Eu ainda nem estou engatinhando no idioma grego e percebo que você é versátil neste idioma. Portanto eu queria saber sobre essa palavra dialektos usada em Atos 2. Ela foi usada para falar de um idioma humano ou não humano?  Se foi não humano gostaria de ouvir uma explicação plausível a nível exegético.


Renato Oliveira Pimentel:
A palavra "dialektos" quando usada em Atos 2, é usada para se referir a idiomas humanos!


Luís Roberto de Souza:
         Estou satisfeito [com sua resposta]. Isso prova que existe um dom bíblico que consiste em falar um idioma humano sem ter estudado uma vez que assim como glossia que sempre foi usado para dizer sobre língua humana (até que se prove  tecnicamente e sem conclusões rasas) dialektos tem esta aplicação em Atos 2. Percebo então que o desafio dos carismáticos/pentecostais consiste em provar que o leitor original que sempre lia glossia e entendia "línguas humanas ou orgão humano" quando leu a carta do Apóstolo Paulo entendeu "idioma não humano". O desafio está lançado.


Renato Oliveira Pimentel:
Está satisfeito porque não entendeu. Dialektos era referência a idioma humano, mas em Atos 2 em nenhum momento diz que os discípulos falavam dialektos mas sim que eles falavam ετερος γλωσσα. "heteros" quer dizer "algo/alguém que não é da mesma natureza, forma, classe, tipo, diferente". A bíblia diz que eles (os discípulos) falavam uma língua diferente (que não é da mesma natureza) e que os ouvintes os entendiam em seus próprios dialektos.
Os discípulos falavam ετερος γλωσσα e os ouvintes entendiam em seus próprios dialektos. Em momento algum a bíblia diz que os discípulos falaram em outro idioma! E o termo mais usado na bíblia era Glossolalia, que quer dizer, emitir sons com a língua.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
Se as línguas são idiomas conhecidos, porque então precisamos orar como única alternativa (apresentada pela bíblia) para conquistá-los? Porque não podemos aprender esses idiomas sem precisar orar?


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Voltemos no texto e tentemos usar o mesmo contexto que o leitor original vivia. A carta foi escrita no auge do ministério apostólico entre as viagens de Paulo. Logo o contexto dos idiomas deve ser levado em conta, uma vez que o Espírito Santo encheu os quase cento e vinte para que ativamente falassem outros dialektos. A ordem dos fatos é esse enchimento dos discípulos e não nos outros presentes. Tendo isso em vista e o fato de orar em línguas só ter menção em Corinto, logo se trata de uma das facetas do equívoco que aqueles crentes cometiam com o dom quando ao invés de falar do evangelho ao próximo estavam orando a Deus numa demonstração de superioridade bem característico de alguns hoje. Portanto sua pergunta só foi possível porque mais uma vez se esqueceu de olhar o contexto de Atos e de Coríntios.
A fala em Atos não é cerceada porque cumpre sua função em Corinto, o que era pra falar aos incrédulos estava erroneamente sendo usado para orar. Porém se você quer orar em inglês ou aramaico ou grego ou javanês pode orar. Se ninguém interpretar você irá orar somente a Deus e não falará aos homens, pois falará mistérios.


Renato Oliveira Pimentel:
O dom de línguas fugiu ao contexto indicado por você tanto em Corinto, quanto em Cesaréia e em Éfeso, não só em corinto, e em nenhum desses lugares é cerceada a fala! Nem mesmo em Corinto como você supõe: “Porém se você quer orar em inglês ou aramaico ou grego ou javanês pode orar” (sic). Dizendo isso você parece admitir que o dom tenha a função de levar a orar em línguas. Interessante isso!
Mas falando de contexto de Coríntios... Eles moravam no lugar onde o mundo todo passava. Era um centro comercial! Era um lugar onde provavelmente, se falavam muitos idiomas. Quando Paulo diz que para entender eles tem que orar e pedir, está claro como água que ele não está se referindo a um idioma humano que pode ser aprendido!


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Mais uma conclusão sem sentido baseada unicamente no fato de haver ausência ou contraponto. Isso é mais uma conclusão forçada dos pentecostais/ carismáticos. Primeiro sobre afirmar que em um centro comercial do passado todos eram poliglotas. Isso cai por terra quando Lucas registra a admiração dos incrédulos ao verem que se tratava de galileus e repito adiante em atos tal fato recorre. Seu argumento sobre a cidade poliglota já não existe quando a bíblia é lida com atenção.
Eu usei a palavra "cerceada" de modo errado realmente meu português é fraco o correto seria normatizado ou regulamentado. Portanto uma leitura atenta em coríntios você verá que o conjunto da obra ali é: “deixem de ser meninos”. Você diz: “Quando Paulo diz que para entender eles tem que orar e pedir, está claro como água que ele não está se referindo a um idioma humano que pode ser aprendido" (sic). Isso pelo simples fato de assumir baseado numa ausência de algo que não está sendo tratado. O fato de Paulo incentivar a orar para interpretar é um incentivo a buscar um dom. Não é uma norma dizendo que só se entende idiomas quem recebeu o Dom.


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Você é capaz de provar que o termo glossa é uma palavra grega que pode ser traduzida como idioma não humano? Se sim, justifique sua resposta.


Renato Oliveira Pimentel:
Sim!
A palavra γλωσσα (glossa) não quer dizer idioma, mas quer dizer "língua"! Uma palavra no sentido figurado pode significar qualquer coisa dependendo do contexto, como por exemplo, idioma.
Quando a bíblia usa o termo γλωσσαλαλεω (Glossolalia), usada sempre no contexto de Coríntios, a palavra γλωσσα (glossa) é usada em junção com a palavra λαλεω (laleo), e nesse contexto ela pode estar se referindo ao membro do corpo e não a um idioma, pois, literalmente significa "Emitir som com a língua"! Uma característica bastante peculiar ao dom de orar em línguas.
Sendo assim, essa expressão de sons com a língua pode ser tida como um bárbaro falando, pois não pode ser entendida por ninguém! Mas ainda assim, isso edifica a quem fala. Se fosse um dom de tradução simultânea para a pregação, seria incoerente dizer que quem ora em línguas edifica a si mesmo, tendo ouvintes ou não. Mas a bíblia diz isso!


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Eu percebo a dificuldade e concluir de modo intuitivo deixam de lado a Bíblia. Outro ponto é que laleo tbm é falar segundo [o dicionário] Strong. Veja:

“5) usar palavras a fim de tornar conhecido ou revelar o próprio pensamento. 5a) falar”

Ora quanto aos outros significados, todos são aplicáveis de modo plausível a uma conversa entendida. É lógico que ao falar se emite sons com a língua isso faz parte da anatomia humana. A língua ajuda na emissão de sons.
Sobre seu primeiro ponto, você afirma e não prova de modo técnico de um modo mais aceitável e isso soa mais como uma adaptação dedutiva do que uma prova linguística: “Não quer dizer idioma" (sic). Seria mais sério dizer que nem sempre é idioma podendo ser órgão humano.
Você não respondeu de modo profícuo, restando-me apenas esperar que os leitores façam suas ponderações levando em conta o fato de que você afirma o que obviamente defende; mas não prova.


Renato Oliveira Pimentel:
Eu provei! Se você aceita ou não é outro caso. E sobre Glosso"lalia", eu usei o termo como ele é tido hoje pelos grandes linguistas de todo o mundo (Sem faltar o respeito ao Strong). Sobre a palavra glossa, você se apega ao erro mesmo sabendo que está errado. A palavra glossa quer dizer literalmente língua. Eu já disse e repito, ela só pode ser usada como idioma em sentido figurado, mas em sentido figurado, tudo pode dizer qualquer coisa!
Eu não tive dificuldade alguma, e sim! Recorri à bíblia sim! Quando eu analiso a bíblia exegeticamente, o que mais eu estou fazendo se não recorrendo à bíblia? O termo Glossolalia está lá e o significado desse termo é sabido de todos.  Por outro lado Xenoglossia não existe na bíblia (em todos os sentidos). O que deixa de lado a bíblia é a interpretação de que são idiomas, pois para se crer assim se faz necessário negar todo o capítulo 14 de Coríntios, partindo para o racionalismo humano.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís,
A bíblia afirma explicitamente em algum momento que o dom de línguas é um dom de idiomas? Se sim, aponte-nos o texto! Se não, como provar que são idiomas e não língua secreta? Só através do racionalismo humano, ou a exegese nos leva a isso?


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Como você mesmo concluiu hoje, nem tudo está explícito na Bíblia pela definição e sim por nuances em que os leitores vão inferindo, respeitando-se regras de interpretação.
Respeitando-se que dialektos e glossa para seu leitor original eram referências a idioma humano a prova bíblica está concretizada. Os textos são os clássicos avivamentos de Atos, as normativas em Corinto e poucas provas veterotestamentarias. Uma em Isaías, por exemplo citada por Paulo  em Coríntios mais uma vez como idiomas humanos já que para falar a humanos se usa língua humana até onde sei.
Qualquer conclusão favorável aos idiomas humanos só pode ser tirada quando há sujeição e humildade com o texto. Porém todo argumento contrário passa necessariamente por uma desconstrução de 19 séculos de ortodoxia quanto a este assunto e o desrespeito com o texto e contexto.


Renato Oliveira Pimentel:
“Respeitando-se que dialektos e glossa para seu leitor original eram referência a idioma humano a prova bíblica está concretizada” (sic).

Ainda bem que você colocou o "se", assim o erro se torna potencial.

“Os textos são os clássicos avivamentos de Atos, as normativas em Corinto e poucas provas veterotestamentarias. Uma em Isaías por exemplo citada por Paulo  em Coríntios mais uma vez como idiomas humanos já que para falar a humanos se usa língua humana até onde sei” (sic)

Você está se referindo ao versículo 21 que diz: "Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor", que é referência à profecia de Isaías 28.11 que diz: "Pelo que por lábios gaguejantes e por língua "estranha" falará o SENHOR a este povo". Porém, o sinal predito não era que eles entendessem as línguas, muito pelo contrário, o texto diz que ainda assim "eles não o escutariam". O sinal foi o cumprimento da profecia! As profecias sempre foram usadas por Deus como um sinal para os incrédulos acreditarem em sua existência e Divindade.

"Todas as nações se reúnem, e os povos se ajuntam. Qual deles predisse isto e anunciou as coisas passadas? Que eles façam entrar suas testemunhas, para provarem que estavam certos, para que outros ouçam e digam: "É verdade" (Isaias 43:9)


"Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus. Quem há como eu? Que o proclame e o exponha perante mim! Quem tem anunciado desde os tempos antigos as coisas vindouras? Que nos anuncie as que ainda hão de vir." (Isaías 44:6-7).


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Quando você diz que glossa só é usado para idiomas em sentido figurado e que em sentido figurado pode ser qualquer coisa parece um argumento válido. Desde que você prove! Caso contrário, é nulo e sem valor. Ou melhor definindo, é conjectura.
Outro ponto é que sua interpretação sobre minha frase foi errada.  "Respeitando-se" é diferente de "respeitando que se". Neste segundo caso, o início da sua postagem teria tido algum valor. Eu quero pensar que foi a pressa e o nervosismo, já que você excedeu o limite de tempo. Te aconselho que mantenha calma. Ou então uma interpretação mal feita mesmo.
Sigamos. Essa referência de Isaías não muda o sentido, já que você não prova que línguas estranhas são idiomas não humanos recorrendo a um comportamento intuitivo e inclinado a ver no texto aquilo que você quer ver. Isso é exegese. Realmente, Renato, seu uso do grego é bem similar ao meu.
Então eu sugiro que ao afirmar algo busque prova que dêem apoio as suas argumentações. Estas sim são muito boas, mas carecem de técnica com a língua. Eu me limito a entender do modo que no texto é expresso: glossa = idiomas humanos; dialektos = idiomas humanos. Assim eu fujo de arranjos como estes que são apresentados por você aqui sucessivamente.


Renato Oliveira Pimentel - Considerações Finais:
Bem, finalmente, considero que o dom de línguas é uma ferramenta dada por Deus para a edificação do sujeito, pois através do mesmo, ele ora, louva e se tiver intérprete, também profetiza! Isso deve ser buscado por todos nós, pois é de grande utilidade para a nossa vida espiritual, mas devemos nos lembrar de não nos ensoberbecer  por contar de portarmos os dons do Espírito Santo, mas sempre usá-los para a edificação do corpo de Cristo, o nosso cabeça.
Espero ter abençoado a vida dos espectadores do debate, do irmão Luís e agradeço a oportunidade de participar de um debate com um tema tão profícuo para nós. Obrigado!


Luís Roberto de Souza – Considerações Finais:

Minhas considerações finais: Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos. Meus irmãos, não tenham receio com a Bíblia. Ela é clara, e quer nos mostrar o caminho. A melhor parte de perceber um equívoco é perder mudar de lado. Obrigado, Renato, e a todos!






Sobre os debatedores:
Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.


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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 1]





Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.




Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Confira abaixo o desenvolvimento da primeira parte deste debate, em formato de perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. As intervenções do moderador não foram colocadas. Para ler a segunda parte, clique aqui


Luís Roberto de Souza:
Antônio Gilberto, ícone da teologia pentecostal, e referência para os teólogos do Brasil todo faz a seguinte definição de Sã doutrina: "Doutrina bíblica é um ensino normativo, terminante, final, extraído das Sagradas Escrituras e concernente à fé em Deus e à prática da vida cristã. Esse ensino deve ser desdobrado em pormenores e embasado com a apropriada referenciação bíblica. Ela é chamada de ‘a sã doutrina’" (Tt 2.1). Eu gostaria de saber baseado nesta definição quais são os desdobramentos pormenores e embasamentos e a referenciação bíblica quê provam ser o dom de línguas um idioma não humano?


Renato Oliveira Pimentel:
Luís, eu gostaria de começar, desfazendo qualquer tipo de vínculo aparente com Antônio Gilberto, até porque ele é pentecostal clássico e nesse tema eu sou carismático. Dito isso, eu, assim como a grande maioria de teólogos, pastores e todo tipo de Cristão, embaso meu argumento, nas descrições bíblicas do comprimento do fato e nos textos doutrinários que tratam a respeito dele. Para começo de conversa, vou citar como exemplo o texto de 1 Coríntios 14.2 que diz: "Pois quem fala em língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios." E no decorrer do debate pretendo mostrar outros argumentos que apoiam esse pensamento.


Luís Roberto de Souza:
Renato, quero deixar claro que não foi objetivo ao citar o referido  teólogo fazer quaisquer  ligações com vosso modo de pensar. Porém o referido apesar de não ter vínculos com todos é una referência a todos. Perdoe-me se pareceu algo dessa natureza. Realmente sua citação de coríntios era inevitável. Aliás, é o texto áureo dos defensores da glossolalia. Porém a ampliação do Debate será ótima para a elucidação de alguns fatores que corroboram para que tal verso seja uma base para a glossolalia. Quero lembrar sobre o argumento básico de que toda vez que um leitor primitivo entendia uma palavra inspirada está palavra deve ter o mesmo significado para nós hoje, isso é princípio básico de exegese, tentar entender o texto como seus primeiros destinatários entenderam. Paulo usa uma palavra grega que só era utilizada para se referir ao órgão humano língua ou idiomas humanos. A afirmação de que o verso se trata de idioma não humano é uma conclusão tirada após a fuga do contexto. Isso ficará claro mais adiante. Por ora eu afirmo que o leitor original entendeu idioma humano e você infere que não. Portanto dar um significado diferente a um termo é necessário para firmar a glossolalia.


Renato Oliveira Pimentel:
Bem, diante da sua afirmação, irei apresentar uma interpretação do texto grego para ti. "Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios." (1Corintios 14:2)
"Aos homens" "anthropos" (ανθρωπος) não esta fazendo distinção de idioma nem que qualquer outra coisa de quem quer que seja, esta dizendo que não fala aos homens de forma Geral.
"Senão a Deus" a palavra senão, tem um objetivo muito claro de estabelecer uma única exceção. É a palavra Grega "αλλα" e quer dizer exatamente isso "Uma única objeção ou exceção". Quem é? Deus!
"Ninguém o entende" Ninguém, do grego (ουδεις) quer dizer exatamente isso mesmo "Nada ou ninguém" salvo exceção já citada (Deus) logicamente. Se ninguém é capaz de o entender, é claro que não se trata de um idioma conhecido de outros. Esse é o sentido de "ουδεις" (nada ou ninguém) abrange não só pessoas ou coisas presentes, mas tudo que existe.
"Fala mistérios" Mistério ou "μυστηριον" pode também ser traduzido por "algo secreto ou desconhecido", é disso que se trata. A língua não é um idioma conhecido, mas uma língua secreta, conhecida somente por Deus que tem por finalidade a edificação "do indivíduo" que quando fala em línguas, ora em Espírito, inspirado pelo Espírito Santo de Deus.


Renato Oliveira Pimentel:
Luís, qual a utilidade do dom de idiomas? Para que fim ele foi concedido?


Luís Roberto de Souza:
A utilidade pode ser definida quando se respeita o contexto. Cristo prometeu novas línguas e sinais para que fossem ferramentas de expansão ao evangelho. Os defensores da glossolalia concluem que a utilidade é uma comunicação num nível espiritual onde a pessoa não entende e é edificada. Dizem isso baseado no verso de 1 Coríntios 14 e se esquecem de comparar com o restante do NT.
Paulo é enfático ao longo do Capítulo 14 de 1coríntios em chamar o povo a um uso do Dom como comunicação entre pessoas. Paulo chega a afirmar que o dom de línguas é um sinal para descrentes ou infiéis. Paulo ainda infere que se houver entendimento na comunicação pessoas poderiam ser chamados à graça.
Portanto Cristo num contexto de evangelização ou ordem e delegação missionária deu tal promessa e nos avivamentos de atos ficam claro e evidente a progressão e sua confirmação com a chegada do Espírito Santo e o dom de línguas norteando os apóstolos de que era obra de Deus. Pregar o evangelho num tempo crítico e conturbado sem o domínio da língua somente pela ação do Espírito Santo.


Renato Oliveira Pimentel:
Cristo prometeu novas línguas e sinais para que fossem ferramentas de expansão ao evangelho. Não me lembro de Cristo dizendo que o dom de línguas seria uma ferramenta para expansão do evangelho. Mas claro que isso é uma inferência sua.
Pregar o evangelho num tempo crítico e conturbado sem o domínio da língua somente pela ação do Espírito Santo. Acredito que nesse comentário também te faltou o contexto histórico. Todos os povos falavam o Grego naquele tempo, daí o motivo do NT ter sido escrito nesse idioma!

"Os judeus convertidos que vieram com Pedro ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado até sobre os gentios, pois os ouviam falando em línguas e exaltando a Deus. A seguir Pedro disse:" (Atos 10:45, 46)

"Quando Paulo lhes impôs as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e começaram a falar em línguas e a profetizar." (Atos 19:6)

Esses textos (entre outros) negam a "verdadeira" função do dom de línguas?

Afinal, nesses textos, não há ninguém de outro idioma entendendo as línguas que estão sendo ditas, se era simplesmente para mostrar que Deus estava também com os gentios, poderia haver muitos outros métodos que não fosse um dom de "tradução simultânea", não acha?


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Não precisa lembrar porque está registrado basta apenas ler e aceitar. Se você ignorar que em Atos 2 houve assombroso espanto por  parte de muitos em ver galileus falando outros idiomas e se você ignorar que mais adiante diante de muitos o fato de galileus estarem sendo eloquentes na comunicação aí sim você poderá dizer que o grego ou aramaico ou qualquer outra língua era a língua universal dispensando assim a presença de idiomas humanos. Creio que faltou neste comentário o contexto de atos não foi por minha parte.
Sobre ninguém no texto falar idioma volto a repetir esqueça a palavra glossia e poderá inferir que em Atos 2 não houve xenoglossia. Suas citações de Atos não provam nada o que queres provar até que mudes o significado de glossia.


Luís Roberto de Souza:
Renato, no texto de 1 Coríntios 14 temos alguns elementos/personagens usados por Paulo para explicar a dinâmica do dom de línguas no culto como seguem as referências: verso 11 "bárbaro", que significava para os leitores originais um estrangeiro que obviamente teria outro idioma. Verso 16 "indouto", que significava para o leitor original alguém com pouco conhecimento quê não entenderia um idioma que não fosse o nativo.
Tendo em mente estes dois personagens eu gostaria de perguntar se Paulo estava querendo dizer que alguém que apresentasse características inversas a ele teriam condições de interpretar um cristão falando num idioma não humano. Ou seja, se assumirmos que o texto fala em idiomas não humanos e Paulo disse que estrangeiros e pessoas menos cultas não poderiam entender eu posso deduzir que pessoas presentes da mesma nacionalidade e pessoas, e eruditos podem compreender tal idioma?


Renato Oliveira Pimentel:
Você está falando do vs. 11 que diz: "Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim."
"barbaros" (βαρβαρος) significa --> "alguém que fala uma língua estranha que não é entendida por outro". Essa palavra é perfeita para representar uma língua desconhecida ou "estranha" como se costuma chama-la.
Indouto ou ιδιωτης (idiotes) se refere a alguém que não desenvolver habilidades em qualquer área. É aparente a menção ao indivíduo que não tem o dom de interpretação...
Portanto, você partiu de interpretação equivocada para fazer a sua pergunta. Mas vou tentar responde-la.
Sim!
Deus pode entender essa fala porque para ele não é barbara (desconhecida) e os que não são ιδιωτης (idiotes) no dom de interpretação também pode dizer o amém.


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Percebeu como os elementos que Paulo usa apontam para idiomas humanos? Percebes como a pessoa que é o alvo das línguas são estrangeiros e até pessoas  sem preparo acadêmico ou incultas. Sua explicação sobre "mistérios" ou "fala a Deus e não a homens" foi boa desde que seja esquecido outros elementos do texto. Logo é preciso apreciar todo o tratado e não dois ou três elementos linguísticos tirando os fora de seu significado usual e concluir. Mistério é mistério a partir do momento em que não há entendimento e só DEUS entende tudo.
Outro ponto é que indouto não é alguém que não tenha o dom de interpretação.
Isso é impossível de assumir sem usar a mesma regra a outros dons também. Daí o problema teria proporções catastróficas. Indouto é quem não tem entendimento de algo e não alguém que não tem um dom. Isso é mais uma forçada do entendimento pentecostal.
Sobre bárbaros é perfeito para falar e de estrangeiro e idiomas humanos.  Se fosse idioma não humano Paulo acertadamente faria uso de termo equivalente... anjo.. ET's etc...
Nunca se usa "estrangeiro" humano para contrapor alguém que não seja humano e fale algum idioma. Portanto, você precisa dizer novamente que "uma coisa" não significa "uma coisa" e "outra coisa" não significa"outra coisa". Isso é a base exegética da pneumatologia pentecostal ou carismática como preferir. Estrangeiro é homem. Indouto é alguém pouco entendido. Respeitando palavra e significado.


Renato Oliveira Pimentel:
Foi muito bom, apesar de eu não ter dito "estrangeiro" e sim  "desconhecido".
Minha pergunta mais uma vez é bem simples. Como eu disse, bárbaro não quer dizer estrangeiro. A palavra estrangeiro no grego é αλλογενης (allogenes), como foi usada por Jesus em Lucas 17:18 quando ele diz "Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?". A palavra Barbara se refere a "alguém que fala uma língua estranha que não é entendida por outro". E o que disse sobre indouto é que ela se refere a alguém que não desenvolveu habilidades em alguma área, nesse contexto o dom de interpretação.


Renato Oliveira Pimentel:
"Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus." (1 Coríntios 14:28).
Se o dom é para a pregação do evangelho, então porque Paulo da um conselho tão contrário (aparentemente) ao propósito do dom?


Luís Roberto de Souza:
Renato,
Paulo não põe contradição alguma com a afirmação supracitada. Perceba a reação de Pedro ao citar o episódio na Casa de Cornélio.  Pedro diz que eles bendiziam a Deus. Paulo também diz sobre louvar a Deus em espírito e com entendimento. Os pentecostais dizem se tratar de algo que ninguém vai saber ou ninguém vai entender. Daí você pode afirmar que louvar a Deus e pregar o evangelho não são a mesma coisa, mas não irá provar biblicamente.
O livro de salmos é um bom exemplo de que louvores a Deus falam sobre Deus e assim o evangelho é pregado. Mas respondendo de fato: porquê não haverá a pregação e a ordem do culto será prejudicada


Renato Oliveira Pimentel:
Obrigado pela resposta querido Luís! Não pretendo me ater a discussão de o louvor ser ou não uma forma de pregação, mas sim ao fato de sendo ele ou não uma forma de pregação, de nada adiantaria ele louvar/pregar se não havia ouvinte para ser alcançado por essa pregação! Se o dom, havia sido dado por Deus para o fim de pregar a palavra, Paulo está equivocado em seu conselho quando diz: "Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus." (1 Coríntios 14:28). Mas eu tendo a acreditar que o equivoco e da sua interpretação e não da do Apostolo Paulo que escreve Inspirado pelo Espírito Santo!


Luís Roberto de Souza:
Renato, você perguntou:
Se o dom é para a pregação do evangelho, então porque Paulo da um conselho tão contrário (aparentemente) ao propósito do dom?
Minha resposta resumida foi:
Porque não haverá a pregação e a ordem do culto será prejudicada.
Portanto você não concordar é diferente de eu não ter respondido.
Mais uma fuga cinematográfica do contexto. Paulo aqui não quer tratar sobre o que era o dom de línguas, mas quer normatizar seu uso que estava sendo extrapolado e sem cumprir seu objetivo. Ora se não há intérprete logo não há entendimento e se não há entendimento não há culto é uma lógica simples quando se respeita o contexto. 
Qual igreja trás um estrangeiro para pregar sem quê haja quem interprete? Portanto não há equívoco em Paulo ele ali como está registrado está tratando com crianças espirituais, mimadas coniventes com o pecado. Se não há entendimento então cale-se, pois não haverá pregação da palavra. Paulo faz um uso do extremo para priorizar a pregação. Paulo estava cerceando a irresponsáveis e prezando pela palavra. Ele preferia ser entendido. Ele preferia que todos fossem edificados. Quando não há intérprete nada disso ocorre. Eu respondo esta pergunta dizendo: Paulo prezou pela pregação.


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Sobre os debatedores:

Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.



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