segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Continuísmo versus Cessacionismo: qual das visões está correta? [PARTE 3]





Transcrição do debate entre os teólogos Renato Oliveira Pimentel e Cleuberth Lima, sob o tema: "Continuísmo versus Cessacionismo", ocorrido dia 29 de Janeiro de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.


         Veja abaixo a posição de cada teólogo neste tema:


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu pretendo defender a doutrina continuísta, visto que não existe em lugar nenhum das escrituras sagradas algo que diz o contrário a isso.”


Cleuberth Lima:
“Neste debate, irei defender o cessacionismo por acreditar que tal sistema teológico interpretativo é coerente que os textos bíblicos que tratam dos dons carismáticos.”


Confira abaixo o desenvolvimento da terceira (e última) parte deste debate, a partir das considerações finais de cada teólogo sobre o tema.

Para ler a primeira parte deste debate, clique aqui.

Para ler a segunda parte deste debate, clique aqui.


CONSIDERAÇÕES FINAIS DE CLEUBERTH LIMA:
Como homens que dedicaram suas vidas a Deus no transcorrer da história do cristianismo compreenderam a questão dos dons espirituais em seus respectivos tempos?

1. João Crisóstomo (344–407)

A passagem inteira (falando sobre 1 Coríntios 12) é muito obscura, mas a obscuridade é produzida por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, fatos que ocorriam, mas agora não tem mais lugar. (Fonte: João Crisóstomo, Homilias em I Coríntios, 36.7 Crisóstomo está comentando 1 Co. 12:1-2 como introdução ao capítulo inteiro. Citado de 1-2 Coríntios in: Ancient Christian Commentary Series, 146.).

2. Agostinho (354-430)

Nos tempos antigos o Espírito Santo veio sobre os crentes e eles falaram em línguas que não haviam aprendido, conforme o Espírito concediam que falassem. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois aquilo foi o sinal do Espírito Santo em todas as línguas [idiomas] para mostrar que o Evangelho de Deus era para ser espalhado a todas as línguas sobre a terra.  Isto foi feito por um sinal, e o sinal findou. (Fonte: Agostinho. Homilias sobre a Primeira Epístola de João, 6.10. Cf. Schaff, NPNF, First Series, 7:497-98).

3. Teodoreto de Ciro (393-466)

Em tempos antigos, aqueles que aceitaram a divina pregação e que foram batizados para a sua salvação, receberam sinais visíveis da graça do Espírito Santo trabalhando neles. Alguns falaram em línguas que eles não sabiam e que ninguém lhes havia ensinado, enquanto outros realizaram milagres ou profetizaram.  Os coríntios também fizeram essas coisas, mas não usaram os dons como deveriam ter usado. Eles estavam mais interessados em se mostrar do que em usar os dons para a edificação da igreja... Mesmo no nosso tempo a graça é dada para aqueles que são julgados dignos do santo batismo, mas não pode assumir a mesma forma que possuía naqueles dias. (Fonte: Teodoreto de Ciro. Comentário sobra a primeira epístola aos Coríntios, 240, 43; em referência à 1Co 12:1,7.  Citado de 1-2 Coríntios, ACCS, 117).

4. Martinho Lutero (1483-1546)

Na Igreja primitiva, o Espírito Santo foi enviado de forma visível.  Ele desceu sobre Cristo na forma de uma pomba (Mt. 3:16), e à semelhança de fogo sobre os apóstolos e outros crentes.  (Atos 2:3) Esse derramamento visível do Espírito Santo foi necessário para o estabelecimento da Igreja primitiva, como também foram necessários os milagres que acompanharam o dom do Espírito Santo. Paulo explicou o propósito destes dons miraculosos do Espírito em I Coríntios 14:22, “as línguas são um sinal, não para os que crêem, mas para os que não crêem”.  Uma vez que a Igreja tinha sido estabelecida e devidamente anunciada por estes milagres, a aparência visível do Espírito Santo cessou. (Fonte: Martinho Lutero, traduzido por Theodore Graebner [Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1949], pp  150-172. A respeito do comentário de Lutero sobre Gálatas 4:6.).

5. João Calvino (1509-1564)

Embora Cristo não declare expressamente se Ele pretende que esse dom [de milagres] seja temporário ou permaneça perpetuamente na Igreja, é mais provável que os milagres tenham sido prometidos apenas por um tempo, para dar brilho ao evangelho enquanto ele era novo ou em estado de obscuridade. (Fonte: João Calvino, Comentário sobre os Evangelhos Sinóticos, III:389.).

O dom de cura, como o resto dos milagres, os quais o Senhor quis que fossem trazidos à luz por um tempo, desapareceu, a fim de tornar a pregação do Evangelho maravilhosa para sempre. (Fonte: João Calvino, Institutas da Religião Cristã, IV: 19, 18.).

6. John Owen (1616-1683)

Dons que em sua própria natureza excederam completamente o poder de todas as nossas habilidades, essa dispensação do Espírito há muito cessou e onde ela agora é simulada por alguém, pode ser justamente presumida como um delírio entusiasmado. (Fonte: John Owen, Obras, IV:518.).

7. Thomas Watson (1620-1686)

Claro, há tanta necessidade de ordenação hoje como no tempo de Cristo e no tempo dos apóstolos, quando então havia dons extraordinários na igreja, os quais agora cessaram. (Fonte: Thomas Watson, As Bem-Aventuranças, 140.).

8. Mattew Henry (1662-1714)

O que eram esses dons nos é largamente dito no corpo do capítulo [1 Coríntios 12], ou seja, ofícios e poderes extraordinários, concedidos a ministros e cristãos nos primeiros séculos, para a convicção dos descrentes, e propagação do evangelho. (Fonte: Mattew Henry, Comentário Completo, em referência a 1 Coríntios 12).

O dom de línguas foi um novo produto do espírito de profecia e dado por uma razão particular, retirar o judeu e demonstrar que todas as nações podem ser conduzidas à igreja. Estes e outros sinais da profecia, começaram como sinais, e há muito cessaram e foram deixados para trás, e nós não temos nenhum incentivo para esperar um avivamento deles; mas, pelo contrário, somos direcionados para o chamado das Escrituras a mais certa palavra de profecia, mais certa que vozes dos céus, e ela nos orienta a tomar cuidado, a busca-la e se firmar nela. (Fonte: Mattew Henry, Prefácio ao Vol IV de sua Exposição do At e NT, vii.).

9. John Gill (1697-1771)

Agora esses dons foram concedidos comumente, pelo Espírito, aos apóstolos, profetas e pastores, ou anciãos da igreja, naqueles primeiros tempos: a cópia de Alexandria, e a versão Latina da Vulgata, dizem, “por um só Espírito”. (Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:9).

Não; quando estes dons estavam presentes, nem todos os possuíam.  Quando a unção com óleo, a fim de curar o doente, estava em uso, ela só foi executada pelos anciãos da igreja, e não pelos seus membros comuns, que deveriam buscar o doente nesta ocasião. (Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:30.).

10. Jonathan Edwards (1703-1758)

Nos dias de sua [Jesus] encarnação, os seus discípulos tinham uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo habilitados desta forma para ensinar e fazer milagres.  Mas, depois da ressurreição e ascensão, ocorreu o mais completo e notável derramamento do Espírito em seus dons milagrosos que já existiu, começando com o dia de Pentecostes, depois da ressureição Cristo e Sua ascensão ao céu.  E, em consequência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraordinária era dotada de dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim continuou durante a vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, mesmo o apóstolo João, que viveu por cerca de cem anos desde nascimento de Cristo, de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres.

Mas, logo após a finalização do cânon da Escritura quando o apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse, não muito antes de sua morte, os dons miraculosos tiveram seu fim na igreja. Pois, agora, a revelação escrita da mente e da vontade de Deus estava completa e estabelecida. Revelação na qual Deus havia perfeitamente gravado uma regra permanente e totalmente suficiente para Sua igreja em todas as eras.  Com a igreja e a nação judaica derrotadas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito já não eram mais necessários e, portanto, eles cessaram; pois embora eles tenham continuado na igreja por tantas eras, eles se extinguiram, e Deus fez com que fossem extintos porque já não havia ocasião favorável a eles.  E assim foi cumprido o que está dito no texto: “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; Havendo ciência, desaparecerá”.  E agora parece ser o fim para todos os frutos do Espírito tais como estes, e não temos mais razão de esperar que voltem. (Fonte: Jonathan Edwards, sermão intitulado “O Espírito Santo deve ser comunicado ao Santos para sempre, In na graça da caridade, ou amor divino”, em 1 Coríntios 13:8).

Os dons extraordinários foram dados para a fundação e o estabelecimento da igreja no mundo. Mas, depois que o cânon das Escrituras foi concluído e a igreja cristã foi plenamente fundada e estabelecida, os dons extraordinários cessaram. (Fonte: Jonathan Edwards, Caridade e seus frutos, 29.).

Senhoras e senhores do grupo Teologia Propósito, sinto-me imensamente honrado pelo convite para protagonizar ao lado do amável amigo e irmão Renato, mais um debate teológico neste grupo.

Como é sabido de todos, em apenas duas horas não é nada possível realizarmos uma discussão minuciosa com citação de teóricos e passagens da bíblia relacionadas ao assunto, com coerência interpretativa.

Outrossim, quanto ao tema, preciso deixar claro que cessacionistas ACREDITAM que Deus tem o poder e, querendo, pode realizar milagres em nossos dias. Não há nada que possa impedi-lo.

Concluo agradecendo a atitude amistosa do Renato durante a interação do começo ao fim. Parabéns! Parabéns também ao moderador pela direção inteligente, sensata e imparcial.

Obrigado!


CONSIDERAÇÕES FINAIS DE RENATO OLIVEIRA PIMENTEL:

Concordo Cleuberth, o tempo foi curto, mas espero podermos protagonizar outros [debates] com maior tempo. Agradeço a oportunidade de estar aqui no TP mais uma vez debatendo com um debatedor de tão alto nível como Cleuberth, e a todos que acompanharam educadamente, respeitando as regras do debate e dando atenção as nossas humildes opiniões sobre a bíblia que é viva.

Quero expressar um último sentimento acerca do continuísmo que é o que acredito...

Quando se diz respeito à profecia de Joel, eu não me lembro, no dia de pentecostes, do Sol ficando escuro e a lua tendo cor de sangue, nem me lembro de alguém sonhando e tendo visões naquele dia. Sangue, fogo e colunas de fumaças, também não estão na minha memória sobre os relatos daquele dia.

E alguém dirá: Mas provavelmente, aconteceram nos dias que se seguiram. E é exatamente aí que mora a questão!

A profecia não se referia apenas àquele dia em específico, mas a uma sequência de dias que começariam a partir dali. Isso nos faz pensar no seguinte: Onde está escrito quantos dias durou ou durariam os fatos descritos naquela profecia? Em lugar nenhum!

Assim como criam os pais da igreja, que declararam:


"Entre nós, com efeito, até o presente momento, existem carismas proféticos" (Justino de Roma - 100/165 d.C.)

"Deus conferiu do alto a graça e o dom divino da profecia e os homens que o "recebem" falam onde e como ele quer" (Irineu de lyon 130/212 d.C.)

"Ainda ouvimos muitos irmãos na igreja que possuem carismas proféticos e que pelo Espírito falam em línguas, revelam as coisas escondidas dos homens para sua utilidade e expondo os mistérios de Deus" (Irineu de lyon)

"Foi dito em uma visão (que ele teve): Peça e receberá!" (Cipriano de Cartago 200/258 d.C.)

"Esse Deus, ordena e arranja quaisquer outros dons que existam dos carismas e assim faz a igreja do Senhor em toda parte e em tudo é aperfeiçoada e completa" (novaciano de roma 210/280 d.C.)

"Nós conhecemos Bispos que operam maravilhas, assim como monges que não o fazem" (Atenás de Alexandria 296/373 a.C.)


St. Agostinho Diz que sua mãe teve um sonho e nesse sonho viu que ele era convertido e ainda diz que ouvia uma voz que o dizia "Toma e lê!" e ele leu o texto de romanos e se converteu. Ele afirma o seguinte: "E eu permanecia naquela fé que tantos anos antes havia sonhado a minha mãe".

"Paulo chama profetas, não a qualquer intérprete da vontade divina, mas aos que recebiam alguma revelação particular. Hoje, tais profetas não existem OU são menos visíveis". (João Calvino)

"Não excluo o dom de profecia preditiva, desde que ela esteja conectada ao dom de ensino" (João Calvino)

Charles Spurgeon, no meio do culto, interrompe a liturgia e diz a um jovem: "Meu jovem, essas luvas que você está usando, não foram compradas, você a roubou de seu patrão". Posteriormente, o fato foi conferido e confirmado.

Mostrando para nós que o ensino continuísta rompeu as barreiras do século e nos dando o exemplo a seguir.

"Os Dons serão dados aos que creem" (Mc. 16:17).

Shalom Ha'Shem!



Sobre os debatedores:
Cleuberth Lima
Maranhense, 35 anos, residente em Icatu-MA, acadêmico de Direito, Pedagogo e Bacharel em Teologia.


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.


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Um comentário:

  1. Só faltou citar para fechar a questão:
    Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus chamar".
    Atos 2:39

    Se Deus continua chamando a promessa registrada em atos 2:3-4 línguas de fogo, o Espirito capacitando.
    Pedro toma palavra e começa a explica isto é 14-17 derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos.
    Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão.
    Atos 2:17,18
    Gloria a Deus - continuísmo - continua firme e teologicamente embasado.

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