segunda-feira, 3 de julho de 2017

Expiação Limitada x Expiação Ilimitada: qual das visões está correta? [PARTE 1]




Transcrição do debate entre Adeildo Belisário e Isaac Silva, sob o tema: " Expiação Limitada x Expiação Ilimitada ", ocorrido em 10 de Abril de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com Propósito”.

Conheça cada teólogo em sua apresentação inicial logo abaixo:


EXPIAÇÃO LIMITADA:
Adeildo Belisário: Eu sou Adeildo Espíndola Belisario, sou de Caruaru-PE, estou cursando Bacharelado em Teologia na FAETEO (Faculdade de Teologia e Cursos de Capelania), instituição on-line mesmo.  Vou defender primeiramente que Jesus Cristo não morreu por todos. Seu sacrifício substitutivo foi a favor de um grupo específico. E este grupo específico é a igreja.


EXPIAÇÃO ILIMITADA:
Isaac Silva: Bom dia a todos e em especial ao nobre servo de Cristo meu irmão Adeildo, desde já um grande prazer poder estamos aqui para agregarmos conhecimento. Sou servo de Cristo, meu nome Isaac Silva, quero dizer que não sou calvinista e nem arminiano; sou biblista e estarei me postando ao que a bíblia fala, que todos pecaram (Rm 3.23), e como todos é todos, Cristo morreu por todos.

Confira abaixo o desenvolvimento da primeira parte deste debate, com pergunta, resposta, réplica e tréplica.



PERGUNTA:
Adeildo Belisário: À luz de Hebreus 9.12, 2 Coríntios 5.21 e Hebreus 7.25, pergunto: Jesus Cristo veio salvar (efetivamente) ou tornar possível a salvação?


"Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção." - Hebreus 9.12

"Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." - 2 Coríntios 5.21

"Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles." - Hebreus 7.25



RESPOSTA:
Isaac Silva: Antes de mais nada, é bom destacar a título de informação que Calvino não cria na expiação limitada. Além de jamais ter escrito qualquer linha sobre ela, ele ainda se mostrava claramente favorável à crença ortodoxa e histórica de que Jesus Cristo morreu por todos os homens – o que significa uma expiação ilimitada ou universal. Ele disse:


“Estou de acordo com o entendimento comum, de que ele somente suportou a punição de muitos, porque sobre ele foi colocada a culpa do mundo inteiro. Torna-se evidente, por outras passagens, especialmente o capítulo 5 de Romanos, que ‘muitos’ algumas vezes denota ‘todos’”,


...referência do próprio comentário de Calvino, sobre Isaías 53.12. Como vemos, ele não apenas se posiciona ao lado da doutrina histórica de que Cristo morreu pelo mundo inteiro, como também refuta aqueles que pensavam que o texto de Romanos 5:19 implicava em uma expiação limitada, ao invés de uma expiação universal. Para eles, o “muitos” do texto significava “todos”, pois estava em contraste com “poucos”. Ele declarou:


“Devemos observar, contudo, que Paulo não contrasta aqui o número maior com os muitos, pois ele não está falando de grande número da raça humana, mas argumenta que, visto que o pecado de Adão destruiu muitos [todos], a justiça de Cristo não será menos eficaz para a salvação de muitos [todos]”


...comentário de Calvino de Romanos, sobre Romanos 5.15.
Era assim também que ele interpretava o texto de Marcos 14:24: “A palavra ‘muitos’ [Mc 14.24] não significa uma parte apenas, do mundo, mas toda a raça humana”, conforme Calvin’s New Testament Commentaries, 3:139 (Banzoli, 2017).
Continua Calvino falando, no texto de Hebreus 9:28: “Tomar sobre si os pecados significa libertar, porque ele quer libertar os que pecaram por culpa própria. Ele diz ‘muitos’ significando ‘todos’, como em Romanos 5.15. Ele também foi claro em dizer que “sobre ele [Jesus] foi posto a culpa de todo o mundo”. Calvino ainda fala  que “Paulo diz que esta redenção foi obtida pelo sangue de Cristo, pois pelo sacrifício de sua morte todos os pecados do mundo foram expiados”. Para ele, a expiação universal era uma doutrina incontestável:


“Marcos 14.24: ‘Isto é o meu sangue’. Já tenho advertido, quando é dito que o sangue é derramado (como em Mateus) pela remissão de pecados, como nestas palavras, somos dirigidos para o sacrifício da morte de Cristo, e negligenciar esse pensamento torna impossível qualquer celebração devida da ceia. De nenhum outro modo as almas fieis podem ser satisfeitas, se não podem crer que Deus está contente com elas. A palavra ‘muitos’ não significa uma parte do mundo apenas, mas toda a raça humana. Jesus contrasta ‘muitos’ com um, como se dissesse que não seria Redentor de uma pessoa apenas, mas iria à morte para libertar muitos de sua culpa maldita. É incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo todo”  Etemal Predestination of God, IX. 5. Fonte: Lucas Banzoli, 2017.



RÉPLICA:
Adeildo Belisário: Veja, como a essa controvérsia, vem depois de Calvino,  pelo Sínodo de Dort, não se faz necessidade de evocar Calvino para a totalidade do calvinismo. Os escritos de Calvino não são inspirados, e por isso, toda a teologia tem se desenvolvido. Logo, nem Calvino nem outros mestres antes de Dort Não fazem uma (leitura) perspicaz como fazemos hoje.   É claro que numa frase como Isaías 53.12 (“Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”), muitos vai significar muitos. Mas nem sempre todos vai significar todos, haja vista o seu contexto.
Com relação a Romanos 5, o próprio contexto está falando de similaridades e diferenças da obra de Cristo. Mas a questão está no poder real da morte, que vai ser determinante para o motivo. Se o messias (tencionou) (quis) como do objeto de resgate todos, todos devem ser salvos!


TRÉPLICA:
Isaac Silva: Em se evocar um dos maiores basilares do Calvino não é uma questão desnecessária, é apenas uma questão de referência do nascedouro de uma "teologia" que se fundamenta nos escritos sagrados. Argumentação sem fundamentação não passa de falácia. Por mais forçada que seja a interpretação do calvinismo do “mundo”, nada se compara à explicação sobre o “todos”, para os calvinistas “todos não são todos” [Banzoli, 2017]. “Todos” pode significar qualquer coisa, menos todos. Observe, por exemplo, os textos abaixo: “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9). E também:


“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo” (1ª Timóteo 2:5-6)


Limitar o “todos” aos eleitos é no mínimo subestimar a capacidade dos escritores bíblicos em usarem a palavra “alguns”, que passaria este sentido com muito mais exatidão, uma vez que nem todos são eleitos, mas alguns são eleitos. A palavra grega para “alguns” é (tis), que foi empregada 526 vezes no NT, mas que, curiosamente, não foi empregada nestes textos e em nenhum outro que fala da extensão da expiação. Em lugar disso, Paulo dizia que a expiação foi por  (pas) que significa todos, no sentido completo da palavra.  Simplesmente não existe outra palavra no grego que transmita um grau maior de extensão do que essa. Além disso, os calvinistas encontram problemas pela frente quando são obrigados a interpretarem como “alguns” os textos que dizem “todos”, em especial quando eles mesmos fazem coisa diferente quando o assunto é a extensão do pecado [Cf. Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a razão”, extraído de: <http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10 de Abril de 2017].





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