Transcrição
do debate entre Adeildo Belisário e Isaac Silva, sob o tema: " Expiação Limitada x Expiação Ilimitada ", ocorrido
em 10 de Abril de 2017 no Grupo de Estudos “Teologia com
Propósito”.
Conheça cada
teólogo em sua apresentação inicial logo abaixo:
EXPIAÇÃO
LIMITADA:
Adeildo Belisário: Eu sou Adeildo
Espíndola Belisario, sou de Caruaru-PE, estou cursando Bacharelado em Teologia
na FAETEO (Faculdade de Teologia e Cursos de Capelania), instituição on-line
mesmo. Vou defender primeiramente que
Jesus Cristo não morreu por todos. Seu sacrifício substitutivo foi a favor de
um grupo específico. E este grupo específico é a igreja.
EXPIAÇÃO
ILIMITADA:
Isaac Silva: Bom dia a todos e em especial ao nobre
servo de Cristo meu irmão Adeildo, desde já um grande prazer poder estamos aqui
para agregarmos conhecimento. Sou servo de Cristo, meu nome Isaac Silva, quero
dizer que não sou calvinista e nem arminiano; sou biblista e estarei me
postando ao que a bíblia fala, que todos pecaram (Rm 3.23), e como todos é
todos, Cristo morreu por todos.
Confira abaixo o desenvolvimento da primeira parte deste debate, com
pergunta, resposta, réplica e tréplica.
PERGUNTA:
Adeildo
Belisário: À luz de Hebreus 9.12, 2 Coríntios 5.21 e Hebreus
7.25, pergunto: Jesus Cristo veio salvar (efetivamente) ou tornar possível a
salvação?
"Nem por sangue de bodes e
bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo
efetuado uma eterna redenção." - Hebreus 9.12
"Àquele que não conheceu pecado,
o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." - 2 Coríntios
5.21
"Portanto, pode também salvar
perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder
por eles." - Hebreus 7.25
RESPOSTA:
Isaac
Silva: Antes de mais nada, é bom destacar a título de
informação que Calvino não cria na expiação limitada. Além de jamais ter
escrito qualquer linha sobre ela, ele ainda se mostrava claramente favorável à
crença ortodoxa e histórica de que Jesus Cristo morreu por todos os homens – o
que significa uma expiação ilimitada ou universal. Ele disse:
“Estou de acordo com o entendimento
comum, de que ele somente suportou a punição de muitos, porque sobre ele foi
colocada a culpa do mundo inteiro. Torna-se evidente, por outras passagens,
especialmente o capítulo 5 de Romanos, que ‘muitos’ algumas vezes denota
‘todos’”,
...referência do
próprio comentário de Calvino, sobre Isaías 53.12. Como vemos, ele não apenas
se posiciona ao lado da doutrina histórica de que Cristo morreu pelo mundo
inteiro, como também refuta aqueles que pensavam que o texto de Romanos 5:19
implicava em uma expiação limitada, ao invés de uma expiação universal. Para
eles, o “muitos” do texto significava “todos”, pois estava em contraste com
“poucos”. Ele declarou:
“Devemos
observar, contudo, que Paulo não contrasta aqui o número maior com os muitos,
pois ele não está falando de grande número da raça humana, mas argumenta que,
visto que o pecado de Adão destruiu muitos [todos], a justiça de Cristo não
será menos eficaz para a salvação de muitos [todos]”
...comentário de
Calvino de Romanos, sobre Romanos 5.15.
Era assim também que
ele interpretava o texto de Marcos 14:24: “A
palavra ‘muitos’ [Mc 14.24] não significa uma parte apenas, do mundo, mas toda
a raça humana”, conforme Calvin’s New
Testament Commentaries, 3:139 (Banzoli, 2017).
Continua Calvino
falando, no texto de Hebreus 9:28: “Tomar sobre si os pecados significa
libertar, porque ele quer libertar os que pecaram por culpa própria. Ele diz
‘muitos’ significando ‘todos’, como em Romanos 5.15. Ele também foi claro em
dizer que “sobre ele [Jesus] foi posto a culpa de todo o mundo”. Calvino ainda
fala que “Paulo diz que esta redenção
foi obtida pelo sangue de Cristo, pois pelo sacrifício de sua morte todos os
pecados do mundo foram expiados”. Para ele, a expiação universal era uma
doutrina incontestável:
“Marcos 14.24: ‘Isto é o meu sangue’.
Já tenho advertido, quando é dito que o sangue é derramado (como em Mateus)
pela remissão de pecados, como nestas palavras, somos dirigidos para o
sacrifício da morte de Cristo, e negligenciar esse pensamento torna impossível
qualquer celebração devida da ceia. De nenhum outro modo as almas fieis podem
ser satisfeitas, se não podem crer que Deus está contente com elas. A palavra
‘muitos’ não significa uma parte do mundo apenas, mas toda a raça humana. Jesus
contrasta ‘muitos’ com um, como se dissesse que não seria Redentor de uma
pessoa apenas, mas iria à morte para libertar muitos de sua culpa maldita. É
incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo todo” Etemal Predestination of God, IX. 5. Fonte:
Lucas Banzoli, 2017.
RÉPLICA:
Adeildo
Belisário: Veja, como a essa controvérsia, vem depois de
Calvino, pelo Sínodo de Dort, não se faz
necessidade de evocar Calvino para a totalidade do calvinismo. Os escritos de
Calvino não são inspirados, e por isso, toda a teologia tem se desenvolvido.
Logo, nem Calvino nem outros mestres antes de Dort Não fazem uma (leitura)
perspicaz como fazemos hoje. É claro
que numa frase como Isaías 53.12 (“Por
isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo;
porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores;
mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”),
muitos vai significar muitos. Mas nem sempre todos vai significar todos, haja
vista o seu contexto.
Com relação a Romanos
5, o próprio contexto está falando de similaridades e diferenças da obra de
Cristo. Mas a questão está no poder real da morte, que vai ser determinante
para o motivo. Se o messias (tencionou) (quis) como do objeto de resgate todos,
todos devem ser salvos!
TRÉPLICA:
Isaac
Silva: Em se evocar um dos maiores basilares do Calvino
não é uma questão desnecessária, é apenas uma questão de referência do
nascedouro de uma "teologia" que se fundamenta nos escritos sagrados.
Argumentação sem fundamentação não passa de falácia. Por mais forçada que seja
a interpretação do calvinismo do “mundo”, nada se compara à explicação sobre o
“todos”, para os calvinistas “todos não são todos” [Banzoli, 2017]. “Todos”
pode significar qualquer coisa, menos todos. Observe, por exemplo, os textos
abaixo: “Vemos, porém, coroado de glória
e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por
causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”
(Hebreus 2:9). E também:
“Pois há um só Deus e um só mediador
entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo
como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo” (1ª
Timóteo 2:5-6)
Limitar o “todos” aos eleitos é no
mínimo subestimar a capacidade dos escritores bíblicos em usarem a palavra
“alguns”, que passaria este sentido com muito mais exatidão, uma vez que nem
todos são eleitos, mas alguns são eleitos. A palavra grega para “alguns” é (tis),
que foi empregada 526 vezes no NT, mas que, curiosamente, não foi empregada
nestes textos e em nenhum outro que fala da extensão da expiação. Em lugar
disso, Paulo dizia que a expiação foi por
(pas) que significa todos, no sentido completo da palavra. Simplesmente não existe outra palavra no grego
que transmita um grau maior de extensão do que essa. Além disso, os calvinistas
encontram problemas pela frente quando são obrigados a interpretarem como
“alguns” os textos que dizem “todos”, em especial quando eles mesmos fazem
coisa diferente quando o assunto é a extensão do pecado [Cf. Lucas Banzoli: “Calvinismo versus Arminianismo. Quem está com a
razão”, extraído de:
<http://www.cacp.org.br/expiacao-limitada-ou-ilimitada/>. Acesso em: 10
de Abril de 2017].
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