segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Dez perguntas e respostas sobre versões e traduções da bíblia




Por Davi Faria de Caires*


1- Qual a melhor tradução da Bíblia?
A versão impressa mais fiel aos originais é a Almeida Corrigida Fiel. Recomendo também a NVI (Nova Versão Internacional) e como paráfrase, recomendo a Bíblia Viva. Para leitura completa da Bíblia, recomendo a Bíblia Cronológica.


2- Quais são as principais versões da Bíblia em Língua Portuguesa?
- Almeida Revista e Corrigida (ARC)
- Almeida Revista e Atualizada (ARA)
- Almeida Edição Contemporânea (AEC)
- Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH)
- Almeida Corrigida Fiel (ACF)
- Almeida Século 21 (A21)
- Bíblia Viva (Viva)
- Nova Versão Transformadora (NVT)
- Bíblia de Jerusalém
- Bíblia King James Atualizada
- Tradução Ecumênica da Bíblia
- Bíblia Hebraica
- Tradução Brasileira
- Reina-Valera em Português



3- Porque existem tantas traduções/versões da bíblia?
Vários motivos. Um dos motivos é que a língua é dinâmica, e as versões vão sendo atualizadas para melhor se adaptar à linguagem corrente.


4- Todas versões e traduções estão corretas?
A rigor, a bíblia inspirada por Deus conforme 2 Timóteo 3.16 é somente os primeiros manuscritos originais (conforme Norman Geisler, “Introdução Bíblica”, Editora Vida). Estes não existem mais. Contudo, pesquisas mostram que as versões mais confiáveis que dispomos hoje em língua portuguesa corresponde em cerca de 97% de fidelidade em relação aos manuscritos mais antigos (Augustus Nicodemus, palestra sobre versões bíblicas). Isso por si só já se constitui um milagre. Segundo os linguistas, nenhum outro livro da antiguidade chegou até nós com tamanha precisão. As versões principais possuem alto grau de precisão. Geralmente, as pequenas diferenças não afetam a interpretação bíblica em seu escopo doutrinário mais geral.


5- Devemos confiar em todas versões da Bíblia?
Para preparar sermões, principalmente, o ideal é sempre comparar duas ou mais versões. E na dúvida, consultar os léxicos para eliminar possíveis erros de tradução. Então, é imprescindível planejar, em algum tempo, estudar os idiomas em que a bíblia originalmente foi escrita. Lembrando que o Antigo Testamento foi escrito em hebraico, e o Novo Testamento foi escrito em Grego, com pequenos trechos em aramaico em Daniel e no NT. Mas hoje em dia o acesso a esses idiomas se tornou mais fácil. Há diversos cursos e livros disponíveis para estudo dos idiomas originais da bíblia.


6- Devemos analisar uma por uma?
Para leitura devocional, uma leitura moderna é o suficiente. Mas para preparar sermões, é bom comparar uma versão mais antiga com uma mais moderna, e o uso de uma terceira versão, uma paráfrase, para explicar o texto.


7- Quem foi João Ferreira de Almeida?
A grande maioria dos evangélicos do Brasil associa o nome de João Ferreira de Almeida às Escrituras Sagradas. Afinal, é ele o autor (ainda que não o único) da tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível aqui em duas versões publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil — a Edição Revista e Corrigida e a Edição Revista e Atualizada — a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País.
Se a tradução de Almeida é largamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do autor. Pouco, ou quase nada, se tem falado e escrito a respeito dele. Almeida nasceu por volta de 1628, em Torre de Tavares, Portugal, e morreu em 1691, na cidade de Batávia (atual ilha de Java, Indonésia). O que se conhece da vida de Almeida está registrado na “Dedicatória” de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas (calvinistas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII (Fonte: SBB).


8- Porque há diferenças entre as almeidas?
Os princípios que regem a tradução de Almeida são os da equivalência formal, que procura seguir a ordem das palavras que pertencem à mesma categoria gramatical do original. A linguagem utilizada é clássica e erudita. Em outras palavras, Almeida procurou reproduzir no texto traduzido os aspectos formais do texto bíblico em suas línguas originais – hebraico, aramaico e grego – tanto no que se refere ao vocabulário quanto à estrutura e aos demais aspectos gramaticais.


9- Qual a diferença entre RC e ARA?
A ARC e a ARA são as mais utilizadas. Tanto a edição Revista e Corrigida quanto a Revista e Atualizada foram constituídas a partir dos manuscritos, traduzidos por João Ferreira de Almeida no século XVII. As pequenas diferenças entre uma e outra edição devem-se ao fato de os próprios manuscritos em hebraico, aramaico e grego trazerem algumas variantes e suportarem mais de uma tradução correta para uma palavra ou versículo. As principais diferenças referem-se basicamente aos manuscritos originais disponíveis na época de Almeida. Descobertas arqueológicas e estudos de teólogos e historiadores em torno das Escrituras Sagradas tiveram grandes avanços desde o século XVIII até os dias de hoje. Tais documentos não existiam na época de Almeida. Dessa forma, a RC é a expressão dos textos originais com que Almeida trabalhou.
A diferença entre as duas é que cada uma foi baseada em um tipo de manuscrito.  A RC foi traduzida a partir do Textus Receptus (ou Majoritário). A ARA foi traduzida a partir do Texto Crítico (ou Minoritário). A ARA tem cerca de 7 mil palavras a menos que a RC. Apesar de a ARA ser uma linguagem mais fácil de entender, a RC é mais fiel aos manuscritos mais antigos.


10 – O que é equivalência formal e equivalência dinâmica?
O método de equivalência formal procura seguir a ordem das palavras que pertencem à mesma categoria gramatical do idioma original. Ou seja, a tradução é feita palavra por palavra. Exemplos: NVI, todas almeidas, exceto NTLH. O método de equivalência dinâmica procura seguir as ideias do idioma original, em forma de paráfrase (ideia por ideia), preocupando-se em manter o mesmo sentido. Exemplos: NTLH e VIVA


Para reflexão:
"Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido." (Josué 1:8 [ACF])



Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com


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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 4]




Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 4]

Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de EstudosTeologia com Propósito”.

         Veja abaixo a posição de cada teólogo neste tema:

Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando, portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Confira abaixo o desenvolvimento da quarta parte deste debate, onde os debatedores participam respondendo as perguntas enviadas por membros do grupo que estiveram acompanhando o debate ao vivo.
Para ler a terceira parte deste debate, clique aqui.



Pergunta enviada por Adriano Borges
Renato, a Bíblia estabelece alguns parâmetros para o cristão usar o dom de línguas (glossolalia), podemos ver o modo correto de usar em 1 Coríntios 14.27: E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. [ACF]

1- No caso de alguém falar em línguas;
2- Que não seja mais que 2 pessoas;
3- No máximo 3 pessoas;
4- E que seja sucessivo (um após o outro);
5- Que haja no local alguém que interprete.

O versículo 28 diz que, se não tiver um intérprete, então o falante deve ficar calado, falando apenas em pensamento com Deus. Então, a minha pergunta é: porque alguns líderes incentivam os membros da igreja a falarem em línguas, usando frases tais como: “quem é batizado com Espírito Santo é livre para dar uma rajada de línguas”, depois dessas palavras geralmente os membros começam a falar. Por que não é seguido o modelo bíblico para que os fieis possam falar em línguas?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel
Adriano, essa pergunta deveria ser feita exatamente a essa pessoa em questão que incentiva desta maneira, porém, existe um contexto que pode elucidar um pouco. Na igreja de Corinto, não havia microfone, nem caixa de som. Não tinha um dirigente dando oportunidades para as pessoas, portanto, eles se uniam e juntos adoravam e cada um na sua vez, se expressava como podia ou sentia. Como o próprio Paulo disse. "Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro." (vs 30) Era cada um de cada vez! E inclusive a profecia também foi regulada no vs 29... Mas o falar em línguas durante o culto, não era proibido, pelo contrário: "não proibais o falar em outras línguas." (vs. 39) Era somente aconselhado que falasse entre eles mesmos e Deus (28) para não atrapalhar o andamento do culto e a edificação dos irmãos. Hoje em dia, se alguém desse oportunidade para alguém falar em línguas, cairia no mesmo erro dos Corintos, mas acredito que ninguém faça isso... Ou faz? Se você já recebeu uma oportunidade para falar em línguas, me diga depois. Portanto, falar em línguas na igreja não tem nada demais.


Pergunta enviada por Diego Fernandes - Diadema-SP
Luís, como poderei ser edificado falando um idioma humano (árabe, por exemplo)? Em 1 Coríntios 14.4 diz: “O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”

Resposta de Luís Roberto de Souza:
Primeiro eu preciso argumentar que todo dom Divino causa a edificação. Edifica o corpo (igreja) e edifica a pessoa, como expresso em Efésios 4 e 1 Coríntios 12, os dons são de aplicação coletiva e nunca individual. Logo não se pode dizer que para ser edificado eu preciso falar em línguas. Segundo é que quando Paulo diz que há edificação no ato de falar em línguas eu quero lembrar que se trata de um dom Divino que mesmo sem que haja entendimento o espírito humano é fortalecido e alegrado inevitavelmente.
Agora quero atentar para o fato de que em todo os capítulos 12,13 e 14 de I Coríntios, o tom da conversa de Paulo é um chamado ao entendimento de cunho espiritual e intelectual; é um chamado para  a ação da palavra salvando e edificando. A ideia de que só sou edificado porque falo em línguas não é bíblica. Eu também sou edificado falando em línguas, mas o entendimento é a tônica do dom. Portanto não importa o idioma ou o dom. Todos edificam a pessoa. Paulo desafia os cristãos de Corinto a usarem tal dom para edificar de modo coletivo.


Pergunta enviada por Davi Faria de Caires (Campinas-SP):

Renato,
De acordo com pentecostalismo clássico, o batismo pelo Espírito Santo ocorre na conversão com todo crente, tal como também defendem os cristãos tradicionais. Já o batismo no/com o Espírito Santo é uma capacitação para obra missionária e evangelística, evidenciada pelo falar noutras línguas. Considerando como verdadeiro que o Batismo com o Espírito Santo seja evidenciado por falar noutras línguas [glossolalia], pergunto:

1. Porque muitos cristãos não são batizados com o Espírito Santo?

2. Deus em sua soberania é uma explicação?

3. Se sim, então por que devo buscar o Batismo no Espírito Santo se o recebimento depende da vontade soberana de Deus?


Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
Bem Davi, como você sabe (imagino eu), eu não defendo o pentecostalismo clássico, nesse tema eu sou carismático! Isso significa que não vejo o falar em línguas como um batismo com o ES, mas como um dom qualquer, como todos os outros.


Pergunta enviada por Mateus A. Maciel

Luís,

De acordo com a xenoglossia o falar em línguas seriam idiomas antigos e já existentes ou são dialetos humanos não conhecidos?


Resposta de Luís Roberto de Souza:
Essa pergunta tem uma resposta não muito clara. Mas no Evangelho de Marcos, Jesus Cristo promete as novas línguas. E lá ele usa o termo kainós glossa, que significa uma língua nova em qualidade mas não em idade ou criação. Por isso eu concluo que se tratam de qualquer idioma onde o evangelho foi ou será pregado como passível de ser falado por meio da xenoglossia.


Pergunta enviada por Diego Fernandes - Diadema-SP:

Renato,
         Embora o grego fosse mais conhecido, sabemos que o grego koine era uma espécie de inglês dos nossos dias. Mesmo assim você não acha que havia a necessidade de uma capacitação divina aos emissários com relação ao idioma?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
Na verdade, o Grego tinha uma amplitude MUITO maior do que o inglês dos nossos dias... O general de Alexandre impôs Idioma ao povo de modo que até a bíblia teve que ser traduzida para a "LXX" [septuaginta]. E em nenhum lugar onde o povo Judeu foi pregar, houve menção ao auxilio desse dom de idioma. Portanto acredito que não havia, como não houve a necessidade desse dom de "tradução simultânea" na pregação do evangelho primitivo.


Pergunta enviada por Diego Fernandes - Diadema-SP:
Luís,
Por que motivo vou orar/falar com Deus em outro idioma humano? Veja 1 Coríntios 14.2 “Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios”

Resposta de Luís Roberto de Souza:
Justamente era esse o questionamento de Paulo, falar a Deus quando se deveria falar aos irmãos ou incrédulos. Não há referência clara sobre que se deve orar em línguas como um modo perfeito ou mais profícuo de oração. O homem não sabe orar de modo algum, é o Espírito Santo quem o ajuda. Orar em línguas não é ordem apostólica para todos, pois bem sabemos que nem todos poderão ter tal dom. Orar em línguas era um costume sem fundamentação bíblica presente apenas em Corinto por eles extrapolarem no uso do dom. Portanto o orar em línguas não é uma norma universal. A Bíblia não ensina isso.


Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Luís e Renato,
Em sentido prático, como alguém se auto-edifica emitindo sons vocais inéditos ou costumeiramente repetitivos, sem significado e significante para um terceiro que ouve, e que não têm nenhum significado cognoscível para a própria pessoa que fala?

Resposta de Luís Roberto de Souza:
Erroneamente foi criada nos círculos pentecostais essa ideia. Não questiono a sinceridade da pessoa, mas há equívocos sinceros. Na prática não creio haver edificação; somente euforia.

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
A parte de "costumeiramente repetitivos" não está na bíblia. Como eu disse a principio, me basearei somente na hermenêutica e exegese bíblica e não em empirismos. Cleuberth, como alguém se edifica orando (pergunta retórica)? Sendo que a pessoa não obtém resposta, mas fica falando "sozinha"? Você não está edificando a sua mente, mas o seu espírito! Pois ele está falando, orando ou louvando a Deus numa língua espiritual que só o seu espírito e o de Deus conseguem entender! O espírito que fala, o espírito é edificado! Não queira entender teologia apenas com racionalismo humano. O racionalismo é um ferramenta sempre refém da hermenêutica e não o contrário!



Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Renato,

Em português, o texto grego de Daniel 3.4 é traduzido assim: "Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas". No texto grego da Septuagina, a expressão que equivale a "línguas" aparece assim: γλωσσαι. Na tradução portuguesa do Apocalipse 14.6, está escrito assim: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo". No texto grego do NT, a expressão que equivale a "língua" aparece assim: γλωσσαν. Esses textos apontam para os idiomas dos diversos povos contemplados nas proclamações descritas pelos escritores, ou falam dos membros que esses povos carregam na boca?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:
Cleuberth, eu não sei onde eu tenho falhado em explicar algo tão simples! A palavra "glossa" é literalmente "língua", um membro inferior que fica na boca. Porém, as palavras podem ser usadas de forma figurada, exemplos:

"Qual língua vc fala" <-- Nesse caso, língua esta sendo usada de forma figurada para se referir a um idioma!

"O garoto me mostrou a língua" <-- Nesse caso, ela está sendo usada no seu sentido literal!

Mas como eu disse, usando no sentido figurado, as palavras podem significar quase qualquer coisa. Exemplos:

"Fulana tem a língua grande" <-- Isso quer dizer que fulana é linguaruda e etc...

Mas a palavra se refere ao membro do corpo em todas as vezes. No caso de ser usada no sentido figurado, é necessário ter o contexto. No caso do grego em particular, a palavra que vem antes ou depois pode definir o sentido da palavra. Portanto, repito: Glossa quer dizer, literalmente, LÍNGUA!


Pergunta enviada por Antônio Caires de Campinas/SP

Renato,

Alguns teólogos da vanguarda pentecostal afirmam categoricamente que o dom de línguas é a porta do entrada para os demais dons espirituais, de modo que sem o dom de línguas é impossível exercer outros dons. Qual a base bíblica para tal afirmação?

Resposta de Renato Oliveira Pimentel:

Não existe base bíblica para isso a meu ver! Nem todos falaram em línguas. Cada um tem uma função no corpo e se todo o corpo fosse boca, não seria boca. Como Paulo diz no decorrer do Capítulo 12 de 1 Coríntios.


Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Renato,
Não seria coerente uma tradução livre do verso "2",  assim:

"Quem fala em línguas estrangeiras durante a reunião cúltica de vocês, ó Corintos, não está se comunicando com nenhum dos irmãos aí reunidos, haja vista que ninguém consegue entendê-lo. Nem mesmo o que fala está entendendo o que diz. Assim, somente Deus consegue entendê-lo"?


Resposta de Renato Oliveira Pimentel:

Não Cleuberth, a palavra de Deus deve ser traduzida com o máximo de fidelidade ao texto, sem tentar interpretações do texto. Uma vez traduzida, devemos ir para o campo do debate testar nossas interpretações. E seria "Ó Coríntios".


Pergunta enviada por Cleuberth Lima, Icatu/MA

Renato,

Parte do texto de Atos 2, diz:

"6  Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7  Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? 8  E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9  Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10  da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11  tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?"


Ao ouvirem aquela "voz" (phone = som emitido, mesma expressão usada por Paulo em Coríntios), ficaram perplexos pois ouviam falar, cada um, em suas próprias línguas (dialecktos) materna (v. 8), o que equivale a dizer que os ouviram falar em suas próprias línguas (glossas) v.11. Como glossa (v. 11 - nossas próprias línguas) usado aí no mesmo sentido prático de dialecktos (v. 8 - nossa própria língua materna) não faz referência aos respectivos idiomas daqueles indivíduos?


Resposta de Renato Oliveira Pimentel:

Quem disse que não faz? Como eu já disse, expliquei e tornei a explicar, glossa pode ser usado de forma figurada para se referir a idioma, mas significa literalmente língua. Mas a sua questão não reside nisso! O que eu já falei é que o texto diz que ou ouvintes "Escutaram" em seus próprios idiomas e não que os Discípulos falaram nesses tais idiomas.



Sobre os debatedores:
Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.



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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Glossolalia ou Xenoglossia? [PARTE 3]





Transcrição do debate entre os teólogos Luís Roberto de Souza e Renato Oliveira Pimentel, sob o tema: "Glossolalia ou Xenoglossia?", ocorrido dia 22 de Outubro de 2016 no Grupo de EstudosTeologia com Propósito”.

         Veja abaixo a posição de cada teólogo neste tema:

Luís Roberto de Souza:
“Neste debate vou defender o dom de línguas como a xenoglossia, ou seja, creio que em toda a referência que a Bíblia faz deste dom é uma manifestação de um dom que consiste em o cristão falar em um idioma humano sem ter aprendido previamente. Tal capacitação é o chamado dom de línguas referenciado por Lucas em Atos, Marcos no evangelho e Paulo na sua primeira carta aos Coríntios.”


Renato Oliveira Pimentel:
“Eu irei defender a Glossolalia, que inclusive é uma palavra que se encontra nas escrituras gregas em detrimento de Xenoglossia que não se encontra. Pretendo para isso me ater à hermenêutica e exegese bíblica, somente, dispensando, portanto todo empirismo envolto no assunto.”


Confira abaixo o desenvolvimento da terceira parte deste debate, onde os debatedores participam respondendo as perguntas enviadas por membros do grupo que estiveram acompanhando o debate ao vivo.

Para ler a segunda parte deste debate, clique aqui.



O que é Glossolalia? – Pergunta enviada por Robson Budib
Renato Oliveira Pimentel: Glossolalia é uma palavra grega que quer dizer "falar/orar em línguas" ou "emitir sons com a língua". Teologicamente falando, é o dom de orar em línguas, dado por Deus para a edificação dos santos.


O que é Xenoglossia? – Pergunta enviada por Robson Budib
Luís Roberto de Souza: Xenoglossia não é um termo bíblico. É uma conclusão lógica sobre as narrativas bíblicas em Atos e 1 Coríntios. Consiste na capacitação especial do Espírito Santo dada a um eleito para falar um idioma humano não estudado previamente. O maior exemplo desta capacitação está relatado por Lucas em Atos 2. E tem sua prática normatizada por Paulo mediante seu uso indevido em Corinto. A palavra em si vem do grego xen(o) diferente glosa língua "Línguas diferentes" ou "Línguas estranhas", como alguns preferem.


Pergunta enviada por Cleuberth Lima (Icatu/MA):
         Renato,

As palavras gregas empregadas no contexto do dom de línguas, são: glossa (Segundo Strong: língua como membro, órgão da fala, língua, idioma, dialeto usado por um grupo particular de pessoas) e dialekto (Segundo Strong: dialeto, fala, língua, língua própria de cada povo). Em Atos 2, está registrado que os crentes falaram em outras glossas (v. 4), mas também está registrado que falaram em outros dialektos (v. 8). Não há dúvidas, pela leitura cuidadosa, que as línguas (glossas/dialektos) faladas ali eram outros idiomas: “E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (Atos 2.8,11). Em 1 Coríntios 14, apesar de não aparecer a palavra grega dialekto, Paulo nos fornece diversas informações que deixam claro que, falar em outras línguas, é o mesmo que falar em outros idiomas, como aconteceu em Atos 2. Ressaltando a importância da interpretação, Paulo está dizendo (vs. 10,11) que há muitos modos de falar NO MUNDO (vejam que ele não está pensando em algo para além do mundo), afirmando que todos têm significado (isto é, são cognoscíveis), e conclui dizendo que, se ele não entende o significado, a situação será semelhante à um estrangeiro que não sabe falar em português tentando entregar uma mensagem para um brasileiro que também não entende o idioma daquele estrangeiro; não haverá comunicação.

Paulo disse que falava em outras línguas mais do que todos os seus destinatários (v. 18); estaria ele querendo dizer que falava mais línguas não humanas do que aqueles crentes? Ele concluiu este argumento dizendo que preferia falar cinco palavras com ponderação a fim de instruir seus ouvintes, do que falar dez mil palavras em outra língua (importante: outra língua - no singular), ou seja, do que falar dez mil palavras em outro idioma qualquer, dentre aqueles tantos que ele sabia falar. Nesta parte, usa-se a expressão grega glossan (língua no singular), assim como em Apocalipse 14:6: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo”. Obviamente, no Apocalipse, glossan (língua) é uma referência aos povos de muitos idiomas espalhados pelo mundo (aos muitos modos de falar).

Falando sobre o propósito do dom de línguas, Paulo cita uma profecia que, claramente, trata de outros idiomas humanos: “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor” (v. 21). É óbvio que Paulo não está afirmando que aqueles homens mencionados na profecia falariam em línguas não humanas. Veja o texto fonte escrito na Lei: “O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás” (Deuteronômio 28:49).

Mas, Paulo não disse que a pessoa que fala em outras línguas está falando em ministério e fala a Deus e não aos homens? Sim, ele disse! Veja: “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.” (v. 2). A interpretação plausível é: A pessoa que está falando em outro idioma e não é capaz de interpretá-lo ― no meio da Igreja onde também não há quem possa interpretar ―, está falando em mistério para todos “visto que ninguém o entende”. Nesse caso, nem a pessoa que fala, nem as pessoas que a ouvem, conseguem entender o que ela está dizendo, exceto Deus. É por isso que Paulo diz que ele “não fala a homens (não está ocorrendo uma comunicação com os demais irmãos ali presentes), senão a Deus”, visto que Deus compreende tudo o que se fala em todo e qualquer idioma.

Renato, diante do acima exposto, pergunto-lhe:

Além do olhar fixo e isolado na parte do verso "1" que diz: "não fala a homens, senão a Deus", que outras razões hermenêuticas você enxerga na passagem completa para defender que o falar em línguas estranhas (estrangeiras) aí não equivale a falar em outros idiomas distintos dos idiomas maternos daqueles que estavam a falar?


Renato Oliveira Pimentel:
A pergunta está baseada em pressupostos falsos que devem ser desmontados. Por isso vou dividir a pergunta e responder por partes:

Parte 1 - “Em Atos 2, está registrado que os crentes falaram em outras glossas”
Na realidade, não é isso que está escrito. Está escrito que eles falaram em "heteros glossa" e esse termo "heteros" pode tanto ser outra, quando tem a definição seguinte: "algo que não é da mesma natureza, forma, classe, tipo, diferente". Então, pode-se traduzir que eles estavam falando língua diferente!

Parte 2 - “mas também está registrado que falaram em outros dialektos (v. 8)”
Na realidade não está! O que está escrito no versículo 8 é que os ouvintes, os "entenderam" ou "ouviam" nos seus próprios "dialektos". Mas em momento algum diz que eles estavam falando nesses dialektos!

Parte 3 - “Paulo está dizendo que há muitos modos de falar NO MUNDO (vejam que ele não está pensando em algo para além do mundo), afirmando que todos têm significado (isto é, são cognoscíveis)”
Ele está fazendo uma comparação, para falar sobre a importância de se entender o que é dito e que quando não pode ser compreendido, o outro não é edificado, mas não se esqueça que ele continua afirmando que nesse caso, aquele que fala, é edificado sim! (vs. 4). Se não servisse para outra coisa que não para ser uma tradução simultânea da pregação, isso não aconteceria. E quando ele usa esse exemplo, em nenhum momento ele está dizendo que o dom de orar em língua é uma língua do mundo! Como você mesmo disse, a palavra dialektos, nem sequer é citada...

Parte 4 – “Paulo disse que falava em outras línguas mais do que todos os seus destinatários (v. 18); estaria ele querendo dizer que falava mais línguas não humanas do que aqueles crentes?”
Eu acredito que quando ele diz que fala "mais" línguas do que os outros irmãos, ele está se referindo ao nível e intensidade do dom que está mais aperfeiçoado nele do que nos outros irmãos... Até porque no vs 19 quando ele continua, ele diz que prefere falar poucas palavra "que ele entenda" dando assim a entender, que as "muitas línguas" que ele falava, não eram idiomas que ele havia aprendido ou que passou a conhecer por uma xenoglossia.

Parte 5 - “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.” (v. 21). É óbvio que Paulo não está afirmando que aqueles homens mencionados na profecia falariam em línguas não humanas. Veja o texto fonte escrito na Lei: “O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás;” (Deuteronômio 28:49).
Se o seu método de interpretação for literal, então você vai ter que discordar de Paulo quanto ao cumprimento dessa profecia, pois ela se cumpriu literalmente no cativeiro quando os povos do Norte que falavam aramaico destruiu o povo de Deus. Existe uma certa ambiguidade que deve ser levada em consideração.

Parte 6 – “Além do olhar fixo e isolado na parte do verso "1" que diz: "não fala a homens, senão a Deus", que outras razões hermenêuticas você enxerga na passagem completa para defender que o falar em línguas estranhas (estrangeiras) aí não equivale a falar em outros idiomas distintos dos idiomas maternos daqueles que estavam a falar?”
O verso não é o 1°, é o 2! Mas não posso ignorá-lo, visto que é tão explícito em dizer do que se trata o assunto. Mas além do fato de ele dizer que "quem fala em línguas não fala aos homens (e não diz: aos homens presentes. Diz que não fala aos homens)" ainda tem alguns outros, como por exemplo, o já citado fato de a bíblia afirmar que quem fala/ora em línguas edifica a si mesmo quando o faz. Ora, se o dom foi dado para a pregação da palavra, sendo assim um dom de "tradução simultânea", porque o fato de pregar sem ter ninguém para ouvir seria edificante?
Outro detalhe que deve ser observado é o conselho de Paulo: "Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus." Porque raio o Espírito Santo, que é uma pessoa inteligente iria inspirar uma pessoa a falar num dom de tradução simultânea sendo que não tinha ninguém para ouvir? E aos que dizem que Paulo está dizendo isso só pra isolar, isso é descrédito a palavra de Deus, a sua inspiração e a sua atualidade!
Entre outros [pontos] que acabaria por tomar muito tempo, mas acredito ter sido satisfatório em minha resposta.



Sobre os debatedores:
Luis Roberto de Souza
Casado, 37 anos, Técnico em Eletrotécnica, graduando em Tecnologia de Construção de Edifícios, possui curso básico em teologia, estuda teologia de maneira autodidata, é cristão Batista de tradição histórica. Administrador do Grupo de Estudos "Teologia com Propósitos". Co-Editor do Blog. Escreve semanalmente sobre o tema: “Teologia Paulina”. Contato: robertoluissouza78@gmail.com


Renato de Oliveira Pimentel
Casado, 23 anos, Técnico em Informática, Bacharel em Teologia pela Faculdade Betesda e Pastor local na Igreja Assembleia de Deus em Nanuque - MG.


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