sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Quais objetivos deve ter um pregador ao preparar um sermão?






Por Davi Faria de Caires*



O ministério de Jesus e dos apóstolos foi baseado e pregações. Os milagres também acompanharam o ministério de Jesus e dos apóstolos, porém o ministério central era a pregação da Palavra. Os apóstolos tinham uma clareza muito firme de que o ministério da Palavra era tarefa primordial. Ao perceberem que o serviço de assistência social estava ocupando o tempo que deveriam ocupar-se na oração e pregação, os apóstolos delegaram a importante tarefa de assistência social a sete diáconos afim de se  dedicaram somente “à oração e ao ministério da palavra" (Atos 6.4). Portanto, a oração e o ministério da Palavra é de longe a tarefa mais importante para a liderança cristã. Vejamos então alguns elementos de ordem prática e subjetiva que o pregador deve considerar no momento da preparação e da exposição do texto sagrado.

Preparando o sermão
A começar pela preparação do sermão, deve o pregador se preocupar com a compreensão do texto (O texto está claro para mim? O que esse texto quer dizer? Quem escreveu? Quando foi escrito? Para quem foi escrito? Qual o significado deste texto na época em que foi escrito?). Deve também o pregador relacionar o texto escolhido com o contexto geral da bíblia, pois qualquer texto interpretado isoladamente pode sofrer distorções de interpretação. Não apenas compreender o texto, mas também identificar a aplicação (Qual o significado deste texto para os dias atuais? Como aplicar esse texto na vida prática de nossos dias? Como esse texto se relaciona com os desafios deste tempo e deste momento?). E por fim, ainda nesta fase de preparação, faz-se mister responder à principal pergunta: como esse texto aponta para Jesus?. Sabemos que Jesus Cristo é a chave hermenêutica das Escrituras. Toda Escritura, da primeira à última página, aponta para Jesus. Pregar textos sobre personagens do antigo testamento, por exemplo, sem aponta-lo para Jesus, pode incorrer em mensagens de auto-ajuda. O único meio de evitar isto, é reconhecendo que, seja através de tipos, doutrinas ou narrativas, todas as páginas da bíblia convergem para o Messias, sem o qual os melhores textos não poderão ser satisfatoriamente compreendidos.

Expondo o sermão
De ordem prática, no momento da pregação, deve o pregador ocupar-se de expor o texto bíblico. Não apenas pregar sobre a bíblia, mas sim pregar a própria bíblia. Deve ocupar-se de explicar o texto aos ouvintes, tornando-o claro e compreensível a todos os que o ouvem. O entendimento dos ouvintes é um fator primordial na exposição do texto bíblico. Logo após o cativeiro assírio-babilônico, todo povo se juntou para ouvir a mensagem da Lei de Deus que seria anunciada pelo sacerdote Esdras. Os ouvintes eram constituídos de homens e mulheres, todos que podiam entender a mensagem. Todo o povo ouviu atentamente, desde o raiar do dia até o meio dia. Esdras não apenas leu as Escrituras, mas também interpretou, e explicou-a ao povo, afim de que pudessem entender o que estava sendo lido. Senão, vejamos: “Assim, no primeiro dia do sétimo mês, o sacerdote Esdras trouxe a Lei diante da assembleia, que era constituída de homens e mulheres e de todos os que podiam entender. Ele a leu em alta voz desde o raiar da manhã até o meio-dia, de frente para a praça, em frente da porta das Águas, na presença dos homens, mulheres e de outros que podiam entender. E todo o povo ouvia com atenção a leitura do Livro da Lei. Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido” (Neemias 8.2,3,8).
O entendimento bíblico não deve diferir entre um estudo bíblico, uma pregação ou um discipulado. Pela bíblia, vemos que o diácono Filipe corria para a carruagem, onde havia um eunuco lendo o livro do profeta Isaías. Filipe pergunta ao eunuco se estava entendendo. Logo, o Eunuco responde que, naquele momento, seria incapaz de entender O Livro, se alguém não explicasse. Filipe subiu na carruagem, explicou o texto, anunciou as boas novas de Jesus e o Eunuco foi batizado. Vejamos: “Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem lendo o profeta Isaías e lhe perguntou: “O senhor entende o que está lendo?”. Ele respondeu: “Como posso entender se alguém não me explicar?”. Assim, convidou Filipe para subir e sentar-se ao seu lado. Então Filipe, começando com aquela passagem da Escritura, anunciou-lhe as boas novas de Jesus” (Atos 8.30,31,35).

Cuidados de ordem subjetiva do pregador
Deve o pregador não apenas se ater aos aspectos práticos e externos da preparação. É também de vital importância a vigilância das motivações que predominantemente o conduzem à tribuna. A teologia dos galardões nos ensina que todos os justos serão devidamente recompensados pelas obras que tiverem feito nesta vida. O material da obra de cada um será julgado. As obras com material aprovado são comparadas a ouro, prata e pedras preciosas. As obras com material reprovado, que sofrerão prejuízo, são comparadas a madeira, feno e palha (“E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” - 1 Co 3.12). Não é o tamanho da obra que importa. O que realmente importará no tribunal de Cristo para os galardões será a motivação que eliciou a realização de cada obra.
As Escrituras nos ensinam que o amor é mais valioso que todos os dons espirituais. Ainda que, alguém possua dons e possua muito conhecimento, sem amor, sua obra não teve valor algum (“Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13.2). Portanto, seja na preparação ou no momento da pregação, devemos fazer tudo para a glória de Deus! (“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” - 1 Coríntios 10.31). Vigiar nossas motivações. Fazemos para a glória de Deus, ou para o gozo de nossa mostração? A satisfação demasiada com o resultado de nosso trabalho não está resultando em soberba? Em que nível anda nosso amor por Deus, pela Sua Palavra e pelos perdidos? Da parte humana, cabe a vigilância em relação a cultivarmos as melhores motivações e expugnar as piores, com oração e contínua dependência ao Espírito Santo. E todo resultado positivo que advir de nossas pregações, o mérito deve-se ao poder imanente da Palavra de Deus. Nos esforçamos, lutamos, preparamos e pregamos, porém, ao final de tudo, reconhecemos que não foi mérito nosso. Todo bom resultado se deve somente à graça de Deus atuando em nós e através de nós.


Sobre o autor:
Davi Faria de Caires
Cristão protestante, casado, residente e natural de Campinas-SP, é membro da Igreja Batista Regular no Jd Liza (Campinas-SP). Músico formado pela Escola Livre de Música (UNICAMP), formado em Psicologia (PUCCAMP) e em Gestão de Recursos Humanos (UNIDERP); graduando em Teologia pela Faculdade Batista Teológica de Campinas (FTBC) e pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Psicólogo clínico com atuação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Criador do Grupo de Estudos Teologia com Propósito®Contato: davifariadecaires@gmail.com



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